São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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Indústria cresce em ritmo menor

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria deu sinais de arrefecimento no final do ano passado e início deste ano, como mostram alguns indicadores. Mas ainda é cedo para afirmar se esse tropeço é sinal do início de uma desaceleração econômica ou apenas de um ajuste da produção, como ocorre nesta época do ano.
Economistas e empresários, porém, consideram que a alta dos juros pode esfriar a economia e aprofundar essa desaceleração.
A indústria de papelão ondulado, considerada termômetro da economia, já que fornece embalagens para diversos setores, vendeu em janeiro deste ano 2,4% mais do que em janeiro de 2004. Esse número, porém, chega a ser de 4% a 15% menor do que o comercializado mensalmente de março a dezembro de 2004, quando a economia deslanchou.
As montadoras de veículos começaram o ano com menos demanda. Em janeiro deste ano, as vendas de carros, caminhões e ônibus caíram 0,7% sobre igual mês do ano passado. Na comparação com alguns meses de 2004, essa queda chega a 40%.
A elevação da taxa básica de juros da economia, a partir de setembro do ano passado, desestimulou as vendas, mesmo considerando que a taxa de juros média cobrada dos consumidores pouco se alterou. O efeito psicológico da elevação dos juros abalou o consumidor, segundo economistas e empresários.
Essa é uma das explicações da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) para a queda nas vendas a prazo -de 1,5%-e à vista -de 3,3%- na primeira quinzena deste mês na comparação com igual período de 2004. "O Carnaval atrapalhou no início deste mês, mas não há dúvida de que, à medida que os juros sobem, as vendas caem", diz Emílio Alfieri, economista da associação.
O tropeço que a economia sentiu no final do ano passado e início deste ano, na análise de Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), aconteceu porque alguns setores previam um final de ano melhor do que foi.
Em janeiro, com estoques um pouco mais elevados, algumas indústrias ou ajustaram a produção, como as metalúrgicas que fornecem materiais para a construção civil, ou fizeram promoções, como as confecções.
A Deca, fabricante de louças sanitárias, concedeu dez dias de férias coletivas neste mês. A Cardal, que produz chuveiros e aquecedores, mantém a jornada de trabalho reduzida (de terça a sexta-feira) por conta de uma queda de 10% nas encomendas.
"As confecções não tiveram um fim de ano tão brilhante quanto previam. A expectativa era vender 10% mais do que em 2003, mas o crescimento foi de 3% a 4%", diz Stefanos Anastassiadis, empresário do setor de confecção e vice-presidente do Ciesp. Segundo ele, os negócios reagiram neste mês.
A Eletros, que reúne as fábricas de eletroeletrônicos, informa que as vendas neste início do ano estão 15% maiores do que as do início de 2004. "Estamos sentindo o mercado aquecido", afirma Paulo Saab, presidente da Eletros.
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a indústria continua crescendo neste ano, mas num ritmo menor. Ele lembra que, anualizado, o crescimento da indústria no último trimestre do ano passado foi de 4,1%, metade do crescimento industrial de 8,3% registrado pelo IBGE no ano passado. "Essa situação se mantém neste ano", afirma.
A indústria automobilística, por exemplo, espera vender neste ano 4% mais do que em 2004, quando cresceu 10,5% sobre 2003. A indústria eletroeletrônica prevê crescer 6%, após vender 20% mais em 2004 do que em 2003.
A indústria de alimentos estima um crescimento de vendas de 3,5% a 4% -no ano passado, cresceu 4,33% sobre 2003.
O que pode frustrar essas expectativas é a elevação dos juros e o câmbio favorável às importações e desfavorável às exportações. Isso pode provocar, na análise de empresários e economistas, uma redução da produção nacional.
"Os anos de 2004 e 2005 começaram moderados, mas com cenários diferentes. No início de 2004, os juros estavam em queda, e o dólar, em alta, o que favorecia as exportações. Neste ano, a situação é inversa. Os juros estão subindo, o que complica as vendas internas, e o dólar caindo, o que atinge as exportações. Isso pode comprometer o resultado", diz Denis Ribeiro, diretor da Abia (fabricantes de alimentos).


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