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Indústria cresce em ritmo menor
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria deu sinais de arrefecimento no final do ano passado e
início deste ano, como mostram
alguns indicadores. Mas ainda é
cedo para afirmar se esse tropeço
é sinal do início de uma desaceleração econômica ou apenas de
um ajuste da produção, como
ocorre nesta época do ano.
Economistas e empresários, porém, consideram que a alta dos
juros pode esfriar a economia e
aprofundar essa desaceleração.
A indústria de papelão ondulado, considerada termômetro da
economia, já que fornece embalagens para diversos setores, vendeu em janeiro deste ano 2,4%
mais do que em janeiro de 2004.
Esse número, porém, chega a ser
de 4% a 15% menor do que o comercializado mensalmente de
março a dezembro de 2004, quando a economia deslanchou.
As montadoras de veículos começaram o ano com menos demanda. Em janeiro deste ano, as
vendas de carros, caminhões e
ônibus caíram 0,7% sobre igual
mês do ano passado. Na comparação com alguns meses de 2004,
essa queda chega a 40%.
A elevação da taxa básica de juros da economia, a partir de setembro do ano passado, desestimulou as vendas, mesmo considerando que a taxa de juros média cobrada dos consumidores
pouco se alterou. O efeito psicológico da elevação dos juros abalou
o consumidor, segundo economistas e empresários.
Essa é uma das explicações da
ACSP (Associação Comercial de
São Paulo) para a queda nas vendas a prazo -de 1,5%-e à vista
-de 3,3%- na primeira quinzena deste mês na comparação com
igual período de 2004. "O Carnaval atrapalhou no início deste
mês, mas não há dúvida de que, à
medida que os juros sobem, as
vendas caem", diz Emílio Alfieri,
economista da associação.
O tropeço que a economia sentiu no final do ano passado e início deste ano, na análise de Claudio Vaz, presidente do Ciesp
(Centro das Indústrias do Estado
de São Paulo), aconteceu porque
alguns setores previam um final
de ano melhor do que foi.
Em janeiro, com estoques um
pouco mais elevados, algumas indústrias ou ajustaram a produção, como as metalúrgicas que
fornecem materiais para a construção civil, ou fizeram promoções, como as confecções.
A Deca, fabricante de louças sanitárias, concedeu dez dias de férias coletivas neste mês. A Cardal,
que produz chuveiros e aquecedores, mantém a jornada de trabalho reduzida (de terça a sexta-feira) por conta de uma queda de
10% nas encomendas.
"As confecções não tiveram um
fim de ano tão brilhante quanto
previam. A expectativa era vender
10% mais do que em 2003, mas o
crescimento foi de 3% a 4%", diz
Stefanos Anastassiadis, empresário do setor de confecção e vice-presidente do Ciesp. Segundo ele,
os negócios reagiram neste mês.
A Eletros, que reúne as fábricas
de eletroeletrônicos, informa que
as vendas neste início do ano estão 15% maiores do que as do início de 2004. "Estamos sentindo o
mercado aquecido", afirma Paulo
Saab, presidente da Eletros.
Para Julio Gomes de Almeida,
diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a indústria
continua crescendo neste ano,
mas num ritmo menor. Ele lembra que, anualizado, o crescimento da indústria no último trimestre do ano passado foi de 4,1%,
metade do crescimento industrial
de 8,3% registrado pelo IBGE no
ano passado. "Essa situação se
mantém neste ano", afirma.
A indústria automobilística, por
exemplo, espera vender neste ano
4% mais do que em 2004, quando
cresceu 10,5% sobre 2003. A indústria eletroeletrônica prevê
crescer 6%, após vender 20%
mais em 2004 do que em 2003.
A indústria de alimentos estima
um crescimento de vendas de
3,5% a 4% -no ano passado,
cresceu 4,33% sobre 2003.
O que pode frustrar essas expectativas é a elevação dos juros e o
câmbio favorável às importações
e desfavorável às exportações. Isso pode provocar, na análise de
empresários e economistas, uma
redução da produção nacional.
"Os anos de 2004 e 2005 começaram moderados, mas com cenários diferentes. No início de
2004, os juros estavam em queda,
e o dólar, em alta, o que favorecia
as exportações. Neste ano, a situação é inversa. Os juros estão subindo, o que complica as vendas
internas, e o dólar caindo, o que
atinge as exportações. Isso pode
comprometer o resultado", diz
Denis Ribeiro, diretor da Abia (fabricantes de alimentos).
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