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Oscilação sugere ações especulativas
do colunista da Folha
Entre o início de janeiro, antes da
desvalorização do real, e o dia 2 de
fevereiro, quando o economista
Armínio Fraga foi indicado para a
presidência do Banco Central, os
papéis da dívida externa brasileira
passaram por oscilações que sugerem a ocorrência de uma manobra
especulativa. Eles perderam 13%
do seu valor entre os dias 20 e 25.
No dia da indicação de Fraga, praticamente voltaram ao ponto de
onde tinham caído. Quem os comprou na baixa e vendeu na alta ganhou, em sete dias úteis, na média,
algo mais do que 5% do que investiu.
Segundo o professor Paul Krugman, esse "quem" se chama George Soros, o banqueiro em cuja casa
trabalhava o economista Armínio
Fraga, até ser escolhido para presidir o BC.
Além dos boatos do mercado,
não se conhece registro, muito menos o volume, de operações de Soros com papéis brasileiros naqueles dias. Mesmo que o tivesse feito,
é impossível que tenha sido o único.
Os papéis da dívida brasileira,
entre os quais o mais conhecido é o
C-bond, são títulos resgatáveis em
20 anos. Pagam três vezes mais juros que os papéis do governo americano, mas são trocados num
mercado paralelo. Quando se acredita que a economia de um país vai
bem, eles sobem, aproximando-se
do valor de face. Se os riscos aumentam, caem.
Assim, neste ano pôde-se comprar US$ 1 milhão em títulos da dívida brasileira, tanto por US$ 600
mil quanto por US$ 500 mil. Dependeu do clima.
No dia 20 de janeiro, eles valiam
58,75%. Na segunda-feira, 25, caíram para 50,25%. Entre os motivos
dessa queda estava o murmúrio de
que o governo brasileiro calotearia
a dívida. O boletim de uma companhia subsidiária do banco Chase
publicara um artigo sugerindo medidas muito próximas ao que foi o
Plano Collor.
Segundo Krugman, Soros comprou esses papéis na semana que
foi de 25 a 29 de janeiro. Nela, o
presidente argentino Carlos Menem defendeu o calote da dívida
interna brasileira e o presidente
Fernando Henrique Cardoso denunciou a ação de especuladores
em duas ocasiões diferentes.
Um banco americano, o Salomon Smith Barney, previu que nos
próximos meses o dólar ficaria entre R$ 2,25 e R$ 2,50. A fuga de capitais esteve em torno de US$ 200
milhões por dia. Na terça-feira, dia
26, quando Armínio Fraga jantou
no Palácio da Alvorada, haviam
saído US$ 339 milhões. A moeda
americana chegou a valer R$ 2,10.
Na sexta-feira, quando a semana
terminou, o Brasil passara por um
dos seus maiores pânicos financeiros. Diante dos boatos de que o governo decretaria um feriado bancário e começaria a semana seguinte confiscando a poupança
nacional, dezenas de milhares de
pessoas sacaram seus investimentos. Os correntistas da agência do
Banco do Brasil no Senado Federal
sacaram perto de R$ 4 milhões,
quando o movimento rotineiro é
de R$ 500 mil.
Quem estava disposto a apostar
contra os maus sinais, acreditando
que o governo não calotearia a dívida, tinha uma oportunidade de
negócio em Nova York.
Krugman diz que Soros fez isso.
Quem vendeu na segunda-feira seguinte ao pânico conseguiu 58%
do valor de face de uma papel que
valera pouco mais de 50%.
Se algum grande investidor fez
esse jogo, é provável que tenha manipulado quantias da ordem de
US$ 100 milhões (exagerando,
200), isso porque é difícil comprar
quantidades maiores sem provocar uma alta sensível do preço do
papel. Quem jogou US$ 100 milhões ganhou, na média, em torno
de US$ 5 milhões. Mesmo num
mercado bilionário e globalizado,
semelhante proeza, em sete dias, é
coisa de craque.
A oscilação das cotações permite
supor que houve gente comprando
ao longo da semana e vendendo
depois da indicação de Fraga, mas
isso não significa que esse movimento tenha sido necessariamente
impulsionado por informações
privilegiadas. Cumpriu-se um velho mandamento do mercado:
"Compre no boato e venda no fato".
(EG)
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