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Krugman compra toda briga que pode
do colunista da Folha
Aos 46 anos, Paul Krugman tem
tudo para ser um acadêmico empolado. Tem título (é professor do
Massachusetts Institute of Technology), tem obra (16 livros) e tem
fama (previu a explosão dos Tigres
Asiáticos).
Foi aposta certa para o prêmio
Nobel de Economia. Com um temperamento encrenqueiro, uma
prodigiosa capacidade de argumentação e um estilo leve, preferiu
tornar-se o economista vivo mais
lido do mundo. Mantém uma coleção com mais de cem de seus artigos numa página na Internet, advertindo que muitos deles são chatos. (Seu endereço é: http://web.mit.edu/krugman/www). Publica seus artigos na revista "Fortune", no "The New York Review
of Books", mas sua coluna regular
fica no boletim eletrônico Slate
(http://www.slate.com).
Compra todas as brigas que pode. O professor Lester Thurow, seu
colega do MIT e uma de suas vítimas, recusa-se a contestá-lo, dizendo que é "exageradamente pessoal".
Numa época em que se venera a
teoria do "valor agregado" às mercadorias, vendo-se na indústria
microeletrônica uma antecipação
do futuro, ele foi aos números. Dizia-se que os Estados Unidos iam
se transformar num importador
de pastilhas de computador
("computer chips") e exportador
de batatas fritas ("potato chips").
Krugman mostrou que o valor
agregado aos semicondutores é
apenas um pouco maior que o das
batatas, e metade do que se adiciona na produção de automóveis.
Ele briga em todos os lados. Debocha das previsões econômicas
dos bancos e dos planos de resgate
do FMI. Ataca os sindicatos que
atribuem o desemprego à abertura
da economia (quem desemprega é
a falta de competitividade).
Depois da crise russa, Krugman
defendeu, com imensas reservas e
sem simpatia, a adoção de controles de câmbio pelos chamados países emergentes. Continua a defender essa estratégia para o Brasil.
Na quinta-feira da semana passada ele colocou um artigo sobre a
situação econômica do Brasil na
revista "Slate". Numa nota eletrônica, arrumou mais uma confusão.
Ela diz o seguinte:
"Nos dias que antecederam a indicação de Armínio Fraga, um ex-gerente de fundos do especulador
bilionário George Soros, para a
presidência do Banco Central do
Brasil, espalharam-se pelo mercado rumores furiosos: o Brasil calotearia sua dívida, fecharia os bancos, e por aí vai. O real caiu à metade do seu valor original. Nesses
dias, viu-se agora, Fraga estava negociando com o governo. Ou seja,
ele sabia que esse plano não existia.
Ao mesmo tempo, Soros estava
comprando grandes quantidades
de papéis da dívida brasileira, com
grandes descontos. Quando acabou o fim de semana, o real se recuperou rapidamente, em parte
porque Soros agora adquirira o
poder de apertar quem tinha se
precipitado ao vender os papéis
brasileiros. Alguns fundos de risco
estão, digamos assim, um pouco
chateados com tudo isso."
Seu artigo intitula-se "Não ponham a culpa no Rio... Nem em
Brasília".
Conclui que uma boa parte da
culpa vai para o FMI.
(EG)
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