São Paulo, Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1999
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Krugman compra toda briga que pode

do colunista da Folha

Aos 46 anos, Paul Krugman tem tudo para ser um acadêmico empolado. Tem título (é professor do Massachusetts Institute of Technology), tem obra (16 livros) e tem fama (previu a explosão dos Tigres Asiáticos).
Foi aposta certa para o prêmio Nobel de Economia. Com um temperamento encrenqueiro, uma prodigiosa capacidade de argumentação e um estilo leve, preferiu tornar-se o economista vivo mais lido do mundo. Mantém uma coleção com mais de cem de seus artigos numa página na Internet, advertindo que muitos deles são chatos. (Seu endereço é: http://web.mit.edu/krugman/www). Publica seus artigos na revista "Fortune", no "The New York Review of Books", mas sua coluna regular fica no boletim eletrônico Slate (http://www.slate.com).
Compra todas as brigas que pode. O professor Lester Thurow, seu colega do MIT e uma de suas vítimas, recusa-se a contestá-lo, dizendo que é "exageradamente pessoal".
Numa época em que se venera a teoria do "valor agregado" às mercadorias, vendo-se na indústria microeletrônica uma antecipação do futuro, ele foi aos números. Dizia-se que os Estados Unidos iam se transformar num importador de pastilhas de computador ("computer chips") e exportador de batatas fritas ("potato chips"). Krugman mostrou que o valor agregado aos semicondutores é apenas um pouco maior que o das batatas, e metade do que se adiciona na produção de automóveis.
Ele briga em todos os lados. Debocha das previsões econômicas dos bancos e dos planos de resgate do FMI. Ataca os sindicatos que atribuem o desemprego à abertura da economia (quem desemprega é a falta de competitividade).
Depois da crise russa, Krugman defendeu, com imensas reservas e sem simpatia, a adoção de controles de câmbio pelos chamados países emergentes. Continua a defender essa estratégia para o Brasil.
Na quinta-feira da semana passada ele colocou um artigo sobre a situação econômica do Brasil na revista "Slate". Numa nota eletrônica, arrumou mais uma confusão. Ela diz o seguinte:
"Nos dias que antecederam a indicação de Armínio Fraga, um ex-gerente de fundos do especulador bilionário George Soros, para a presidência do Banco Central do Brasil, espalharam-se pelo mercado rumores furiosos: o Brasil calotearia sua dívida, fecharia os bancos, e por aí vai. O real caiu à metade do seu valor original. Nesses dias, viu-se agora, Fraga estava negociando com o governo. Ou seja, ele sabia que esse plano não existia. Ao mesmo tempo, Soros estava comprando grandes quantidades de papéis da dívida brasileira, com grandes descontos. Quando acabou o fim de semana, o real se recuperou rapidamente, em parte porque Soros agora adquirira o poder de apertar quem tinha se precipitado ao vender os papéis brasileiros. Alguns fundos de risco estão, digamos assim, um pouco chateados com tudo isso."
Seu artigo intitula-se "Não ponham a culpa no Rio... Nem em Brasília".
Conclui que uma boa parte da culpa vai para o FMI. (EG)




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