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ARTIGO
Investidor aceita risco maior em busca de ganho mais elevado
ERIC BURROUGHS
DA REUTERS
Uma das deliciosas ironias dos
mercados financeiros no momento é que a corrida mundial
em busca da segurança está forçando muitos dos protagonistas a
aceitar riscos.
Os investidores, desesperados
por abrigo contra o pessimismo
político e econômico que domina
o mundo, aderiram ao Federal
Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos), ele mesmo ansioso por reanimar o crescimento,
e conduziram os rendimentos do
mercado monetário norte-americano a uma baixa histórica.
As cotações andam tão baixas,
na verdade, que os administradores de fundos estão procurando
desesperadamente por retornos
mais altos que mantenham seus
clientes satisfeitos e isso significa
comprar bônus considerados arriscados demais alguns meses
atrás.
É por isso que os ativos de melhor desempenho este ano foram
os títulos de dívida dos países
emergentes e os "junk bonds",
considerados arriscados demais
pela maior parte dos administradores de fundos.
"As pessoas estão procurando
desesperadamente por rendimento", disse Charles Van Vleet,
que ajuda a administrar US$ 80
bilhões em investimentos de renda fixa no Credit Suisse Asset Management.
"A incerteza econômica e os riscos geopolíticos que estamos enfrentando mantiveram as taxas
baixas, o que torna os produtos
com bom "spread" muito atraentes", disse. "Produtos com bom
spread" é um jargão do mercado
para ativos que ofereçam retorno
superior aos altamente seguros
bônus do Tesouro dos EUA.
Riscos
E, se uma recessão renovada
vier a atingir os Estados Unidos
ou problemas no exterior causarem crise em um mercado emergente e contágio nos demais, muitos fundos de investimento e pensões terão de encarar sérios prejuízos.
O rendimento sobre as notas de
dois anos do Tesouro norte-americano, o ponto focal das compras
dos investidores que procuram
segurança, estava em 1,36% na
terça-feira, atrás do ritmo de 1,5%
atingido pela inflação de acordo
com o índice preferido pelo Fed.
O rendimento fica igualmente
bem abaixo do 2,6% de inflação
anual estimada para o Índice de
Preços do Consumidor, a mais
comum das medidas de inflação.
As letras do Tesouro oferecem
retorno ainda mais baixo, com o
papel de três meses cotado a apenas 1,07% e a ponto de cair abaixo
do 1% pela primeira vez desde
1958.
Em resposta, os administradores de ativos estão procurando
outras alternativas.
No momento em que os investidores retiravam US$ 3,74 bilhões
em fundos das Bolsas de Valores,
na semana encerrada na quarta-feira passada, os junk bonds desfrutavam da quarta maior onda
semanal de compras já registrada,
com alta de US$ 1,33 bilhão.
Mais atraente
Os junk bonds absorveram US$
25 bilhões em dinheiro este ano, o
dobro do obtido no mesmo período do ano passado, já que as empresas encontraram mais investidores dispostos a arriscar. Os bônus de alto rendimento ofereceram retorno de 5,30%, de acordo
com a Merrill Lynch, melhor do
que quase todos os ativos de renda fixa.
Todos menos um. Os títulos de
mercados emergentes estão em
meio a uma de suas maiores recuperações desde 1998, o fatídico
ano da moratória russa que abalou os investidores e causou retirada desses ativos, quase quebrando o Brasil.
Desde outubro do ano passado,
o índice de mercados emergentes
do J.P. Morgan (Embi) subiu em
20%, para uma marca recorde,
primordialmente devido ao otimismo quanto às reformas planejadas pelo novo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, depois que os títulos do país foram
derrubados severamente na corrida eleitoral do ano passado.
Em busca de retorno
"A explicação mais provável para os recentes desdobramentos do
mercado é a busca de rendimento
e a disposição de assumir riscos
marginalmente maiores em troca
de melhores retornos", disse
Marc Chandler, estrategista-chefe
de câmbio da HSBC Securities.
Outro sinal da tendência incomum é que a curva de rendimento dos bônus do Tesouro norte-americano usada para avaliar o
custo do dinheiro livre de riscos
sob um horizonte de 30 anos
-porque mapeia os rendimentos
de todos os papéis emitidos pelo
Tesouro- se achatou no mês
passado, com as taxas de longo
prazo caindo mais que as de curto
prazo.
Quando os investidores são
avessos a riscos, normalmente o
oposto acontece: as taxas de longo
prazo ficam para trás diante de altas nos rendimentos de curto prazo, porque os investidores tendem a preferir os investimentos
mais seguros e de maior liquidez.
Tradução de Paulo Migliacci
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