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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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ARTIGO

Investidor aceita risco maior em busca de ganho mais elevado

ERIC BURROUGHS
DA REUTERS

Uma das deliciosas ironias dos mercados financeiros no momento é que a corrida mundial em busca da segurança está forçando muitos dos protagonistas a aceitar riscos.
Os investidores, desesperados por abrigo contra o pessimismo político e econômico que domina o mundo, aderiram ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), ele mesmo ansioso por reanimar o crescimento, e conduziram os rendimentos do mercado monetário norte-americano a uma baixa histórica.
As cotações andam tão baixas, na verdade, que os administradores de fundos estão procurando desesperadamente por retornos mais altos que mantenham seus clientes satisfeitos e isso significa comprar bônus considerados arriscados demais alguns meses atrás.
É por isso que os ativos de melhor desempenho este ano foram os títulos de dívida dos países emergentes e os "junk bonds", considerados arriscados demais pela maior parte dos administradores de fundos.
"As pessoas estão procurando desesperadamente por rendimento", disse Charles Van Vleet, que ajuda a administrar US$ 80 bilhões em investimentos de renda fixa no Credit Suisse Asset Management.
"A incerteza econômica e os riscos geopolíticos que estamos enfrentando mantiveram as taxas baixas, o que torna os produtos com bom "spread" muito atraentes", disse. "Produtos com bom spread" é um jargão do mercado para ativos que ofereçam retorno superior aos altamente seguros bônus do Tesouro dos EUA.

Riscos
E, se uma recessão renovada vier a atingir os Estados Unidos ou problemas no exterior causarem crise em um mercado emergente e contágio nos demais, muitos fundos de investimento e pensões terão de encarar sérios prejuízos.
O rendimento sobre as notas de dois anos do Tesouro norte-americano, o ponto focal das compras dos investidores que procuram segurança, estava em 1,36% na terça-feira, atrás do ritmo de 1,5% atingido pela inflação de acordo com o índice preferido pelo Fed.
O rendimento fica igualmente bem abaixo do 2,6% de inflação anual estimada para o Índice de Preços do Consumidor, a mais comum das medidas de inflação.
As letras do Tesouro oferecem retorno ainda mais baixo, com o papel de três meses cotado a apenas 1,07% e a ponto de cair abaixo do 1% pela primeira vez desde 1958.
Em resposta, os administradores de ativos estão procurando outras alternativas.
No momento em que os investidores retiravam US$ 3,74 bilhões em fundos das Bolsas de Valores, na semana encerrada na quarta-feira passada, os junk bonds desfrutavam da quarta maior onda semanal de compras já registrada, com alta de US$ 1,33 bilhão.

Mais atraente
Os junk bonds absorveram US$ 25 bilhões em dinheiro este ano, o dobro do obtido no mesmo período do ano passado, já que as empresas encontraram mais investidores dispostos a arriscar. Os bônus de alto rendimento ofereceram retorno de 5,30%, de acordo com a Merrill Lynch, melhor do que quase todos os ativos de renda fixa.
Todos menos um. Os títulos de mercados emergentes estão em meio a uma de suas maiores recuperações desde 1998, o fatídico ano da moratória russa que abalou os investidores e causou retirada desses ativos, quase quebrando o Brasil.
Desde outubro do ano passado, o índice de mercados emergentes do J.P. Morgan (Embi) subiu em 20%, para uma marca recorde, primordialmente devido ao otimismo quanto às reformas planejadas pelo novo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, depois que os títulos do país foram derrubados severamente na corrida eleitoral do ano passado.

Em busca de retorno
"A explicação mais provável para os recentes desdobramentos do mercado é a busca de rendimento e a disposição de assumir riscos marginalmente maiores em troca de melhores retornos", disse Marc Chandler, estrategista-chefe de câmbio da HSBC Securities.
Outro sinal da tendência incomum é que a curva de rendimento dos bônus do Tesouro norte-americano usada para avaliar o custo do dinheiro livre de riscos sob um horizonte de 30 anos -porque mapeia os rendimentos de todos os papéis emitidos pelo Tesouro- se achatou no mês passado, com as taxas de longo prazo caindo mais que as de curto prazo.
Quando os investidores são avessos a riscos, normalmente o oposto acontece: as taxas de longo prazo ficam para trás diante de altas nos rendimentos de curto prazo, porque os investidores tendem a preferir os investimentos mais seguros e de maior liquidez.


Tradução de Paulo Migliacci


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