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ARTIGO
McDonald's tenta reconquistar terreno
SHERRI DAY
DO "THE NEW YORK TIMES"
De vez em quando, Daniel
Ibrahim se reabastece no
McDonald's. Mas ele prefere que
seus amigos não fiquem sabendo.
"Quando eu era adolescente, era
muito mais aceitável dentro do
meu grupo de amigos comer lá",
diz Ibrahim, 26, desenhista, que
está desfrutando de um sanduíche em um McDonald's no distrito de Mission, San Francisco.
"Mas agora, freqüentar um deles soa inculto, reprovável, uma
falta de estilo. Ninguém se vangloria de ir ao McDonald's para uma
refeição, com certeza."
Ele acrescenta que, "se você deseja ser elegante, você come sushi.
Comida indiana é algo que está
ainda mais na vanguarda. O
McDonald's é como pão de forma", diz.
A cadeia de restaurantes, que
por muito tempo simbolizou para
algumas pessoas o modo de comer norte-americano (mais ou
menos como acontecia com a General Motors no que tange às estradas), está enfrentando séria
crise de identidade.
Embora continua a ser a cadeia
de restaurantes fast food mais freqüentada dos Estados Unidos
-mais de 20 milhões de pessoas
por dia comem em algum dos restaurantes McDonald's norte-americanos-, a empresa está enfrentando o declínio de sua participação no mercado de fast food e
vem perdendo o afeto de muitos
consumidores, de acordo com
múltiplas pesquisas.
Perda de mercado
Desde 1997, a parcela do McDonald's no mercado de fast food
caiu em mais de 3%, de acordo
com a Technomic, uma empresa
de pesquisa de mercado -a rede
agora domina 15,2% do mercado.
A cadeia Subway, que oferece sanduíches montados ao gosto do
freguês e com pão fresco, suplantou o McDonald's como maior
cadeia de fast food norte-americana.
Entre as cadeias de hambúrgueres, o McDonald's vem perdendo
a batalha do almoço para a
Wendy's, que começou a oferecer
um cardápio alternativo com batatas assadas e um bufê de saladas. As vendas das populares
"Happy Meals" (refeições felizes)
despencaram, porque o acordo de
licenciamento de 10 anos que a cadeia fechou com a Walt Disney
não conseguiu tirar vantagem de
brinquedos baseados em filmes
de imenso sucesso desde "Toy
Story 2", de 1999. E se, no passado,
ser proprietário de uma franquia
do McDonald's era uma maneira
garantida de ganhar dinheiro,
muitos dos franqueados da empresa vêm expressando decepção
com os lucros reduzidos, com os
dispendiosos sistemas de cozinha
que vêm sendo adotados e com o
relacionamento desgastado com
o comando da empresa.
O que pode prejudicar mais o
grupo é a percepção de que, em
uma era de processos judiciais
por obesidade e de cafés sofisticados custando US$ 5 (cerca de R$
17,50), o McDonald's parece atender ao sopé do mercado.
No ano passado, em pesquisa
publicada pela "Restaurants and
Institutions Magazine", os entrevistados classificaram o McDonald's em 15º lugar em termos de
qualidade, entre as cadeias de
hambúrgueres, atrás de restaurantes como o Steak N'Shake, In
& Out Burger, Burger King e
White Castle.
Ray Kroc, que fundou a cadeia
em 1955, era um grande proponente da eficiência (antes de abrir
os primeiros restaurantes, ele era
um distribuidor bem sucedido de
máquinas para mistura automática de milk shakes) e, sob sua
orientação, os restaurantes da cadeia McDonald's eram maravilhas de padronização.
Com seus funcionários uniformizados, linha de montagem de
comida e decoração instantaneamente familiar, os restaurantes
ofereciam o nível de serviço que
os clientes vieram a esperar, e
vendiam pratos como o mitológico Big Mac ("dois hambúrgueres,
alface, queijo, molho especial, cebola, picles em um pão com gergelim"), com o mesmo sabor de
Albany, interior da Geórgia, à cidade de Nova York.
"Foi o começo da comida sem
gosto e feita de maneira sempre
igual", disse Barbara Haber, historiadora da alimentação e autora
de "From Hardtack to Home
Fries: An Uncommon History of
American Cooks and Meals"
["Do Biscoito Duro às Batatas Fritas: Uma História Incomum dos
Cozinheiros e Pratos Norte-Americanos"].
"A mágica era que os pratos se
mantinham sempre consistentes", disse. "Isso era novidade.
Hoje, temos saudades dos velhos
tempos dos restaurantes individuais, como se tivessem sido parte de uma era dourada. Mas a
qualidade deles era irregular, e as
cadeias de fast food realmente
prestaram um bom serviço."
Horário
A empresa apelou com sucesso
para as famílias em constante corrida contra o relógio, especialmente as mães trabalhadoras -a
audiência básica de sua campanha "hoje você merece uma folga"-, que tentavam equilibrar
tarefas domésticas e as responsabilidades profissionais que começavam a adquirir.
O McDonald's rapidamente se
transformou no maior comprador de carne bovina e batatas congeladas dos Estados Unidos. E é
também um dos maiores proprietários de imóveis e, por meio das
"Happy Meals", um dos maiores
distribuidores de brinquedos do
país.
Para combater a queda da satisfação de seus clientes com a comida do grupo, o McDonald's fez o
impensável: alterou o venerado
sistema de cozinha criado por
Kroc. Em 1992, a empresa abandonou o processo de cozimento
prévio de seus hambúrgueres,
que recebiam molhos e eram armazenados sob luzes de aquecimento. O novo sistema desenvolvido requeria um passo adicional:
esquentar os hambúrgueres em
um forno de microondas antes
que fossem servidos.
Em 1999, a empresa lançou um
sistema de pratos personalizados
conhecido como "Made for You"
(feito para você), para combater
os lanches personalizados oferecidos por concorrentes como o
Wendy's e o Burger King, que vinham roubando parte da clientela
de almoço dos restaurantes
McDonald's.
Segundo muitos relatos, ambos
os sistemas foram um fiasco, retardando de maneira significativa
o tempo de serviço e oferecendo
comida que os consumidores não
viam como superior à dos concorrentes do McDonald's.
Os custos das renovações de cozinhas para o sistema "Made for
You", entre US$ 25 mil e US$ 85
mil por unidade, com cobertura
parcial pela rede McDonald's, e
dos cardápios especiais de almoço
foram cobertos em larga medida
pelos franqueados, que controlam 85% das unidades da cadeia
nos Estados Unidos.
O McDonald's não foi a primeira cadeia de restaurantes a adotar
o sistema de franquia, mas desenvolveu um modelo próprio e lucrativo para o setor. O contrato
entre o McDonald's e os franqueados era que a cadeia lhes alugaria as instalações e exigiria padrões elevados de serviço; em troca, os franqueados sairiam muito
ricos.
Mas muitos dos franqueados
dizem que ter um restaurante
McDonald's não é mais a confiável máquina de dinheiro do passado. As margens de lucros se reduziram, os custos aumentaram e
a administração do grupo em larga medida excluiu os proprietários de unidades franqueadas do
processo decisório, dizem alguns
deles.
"O negócio não é mais tão lucrativo", disse Richard Steinig, 30,
franqueado do McDonald's em
Miami. "Os operadores inteligentes saíram no final dos anos 80 e
começo dos 90. Há unidades que
basicamente não valem nada".
Abrir uma franquia do McDonald's custa entre US$ 500 mil e
US$ 800 mil, segundo a empresa.
"Não creio que o grupo tenha a
lista de espera do passado, e parte
do motivo é que o retorno sobre o
investimento agora não é mais o
que era", disse Steinig.
Tradução de Paulo Migliacci
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