|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ABRAÇO DOS ENDIVIDADOS
Presidentes de Brasil e Argentina pedem, em documento, alteração no cálculo de superávit primário
Lula e Kirchner se unem para "mudar" FMI
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
CHICO SANTOS E
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de posturas diferentes
na negociação com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor
Kirchner, anunciaram ontem que
vão atuar em conjunto para que
as regras do Fundo não restrinjam investimentos nem afetem o
crescimento econômico.
Lula tem sido mais conservador
do que Kirchner na negociação
com o FMI, mas ontem ambos
acordaram que a exigência de superávits primários altos (receitas
menos despesas, exceto o pagamento de juros) não pode limitar
investimentos em infra-estrutura.
Lula até já fez esse pleito diretamente ao FMI e aos líderes do G7
(grupo de países mais ricos do
mundo).
"Nós [Brasil e Argentina] temos
situações diferentes com preocupações comuns", disse o ministro
Celso Amorim (Relações Exteriores), deixando claras as diferenças
que os dois países vêm tendo nas
negociações com o Fundo e com
os credores internacionais.
O correspondente argentino de
Amorim, Rafael Bielsa, ratificou a
posição dele: "Bem disse o chanceler [Amorim] que não partimos
de realidades iguais, mas de realidades distintas". O principal ministro político da Argentina, Alberto Fernandez, foi ainda mais
explícito: "A Argentina está em
moratória, e o Brasil, não. Isso faz
com que as características das dívidas sejam diferentes".
A Argentina acaba de pagar, no
último dia 9, uma parcela de US$
3,1 bilhões de sua dívida com o
FMI. Vai agora negociar, a partir
do próximo dia 16, um desconto
de 75% de sua dívida de US$ 88
bilhões com credores privados.
Os dois presidentes, que jantaram na segunda-feira e se reuniram ontem entre 10h40 e 12h40,
no hotel Copacabana Palace, lançaram a "Declaração sobre a Cooperação para o Crescimento Econômico com Eqüidade".
Eles pedem um "tratamento fiscal diferenciado" para as contrapartidas dos empréstimos concedidos por organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento). Na prática,
Brasil e Argentina querem que os
investimentos feitos em contrapartida também sejam retirados
do cálculo para definição de metas de superávit.
O Brasil precisa fazer uma economia equivalente a 4,25% do PIB
(Produto Interno Bruto) em 2004.
Eles também acordaram trabalhar por uma revisão dos mecanismos de licitação nos financiamentos de organismos internacionais para que, segundo Amorim, a liberação seja "com mais facilidade" e com "tratamento preferencial nacional e regional".
Ou seja: sem tantas exigências
burocráticas e com mais liberdade para contratar obras e serviços
internamente, sem ferir as duras
regras internacionais vigentes.
Eles também reafirmaram a velha crítica ao sistema protecionista dos países ricos, sem citar os
EUA e a União Européia diretamente. O comunicado pede
"abertura dos mercados e a eliminação de subsídios".
Ficou acertado que daqui a 60
dias haverá uma reunião de avaliação de encaminhamento das
propostas com a participação de
ministros da área econômica.
Participaram do encontro os
ministros brasileiros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Guido
Mantega (Planejamento), Dilma
Rousseff (Minas e Energia), além
de Amorim. Pelo lado argentino,
foram Bielsa, Roberto Lavagna
(Economia) e Fernandez.
Texto Anterior: Combustíveis: Governo de SP diz ter demanda para gás natural Próximo Texto: Análise: Volta antecipada a Brasília provoca várias versões Índice
|