São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Volta antecipada a Brasília provoca várias versões

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

O governo perdeu ontem uma boa chance de ganhar espaço dos Waldomiros e dos Burattis, anunciando com calma e detalhes as negociações e os dois acordos assinados pelo presidente Lula com Néstor Kirchner.
Lula entrou mudo e saiu calado de um encontro que teria tudo para ser "vendido" como positivo e ainda surpreendeu ao decidir cancelar o almoço entre brasileiros e argentinos e antecipar sua volta a Brasília. Para piorar, pipocaram versões diferentes para a volta. Logo o clima de crise interna superava a curiosidade pela reunião bilateral.
Além de Lula, também o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) não deu entrevista nem fez nenhuma comunicação aos jornalistas brasileiros, argentinos e das agências internacionais que se amontoavam no sofisticado hotel Copacabana Palace.
Ninguém admitiu, mas certamente Palocci temia perguntas sobre as últimas revelações sobre um ex-assessor seu, Rogério Buratti, na Prefeitura de Ribeirão Preto. Os jornais argentinos têm publicado na primeira página as denúncias feitas no Brasil.
Quando a antecipação da volta de Lula foi anunciada, os jornalistas liam e discutiam as reportagens de ontem sobre ligações mal explicadas de Waldomiro Diniz e Rogério Buratti com a renovação de um contrato da Caixa Econômica Federal já no governo Lula. Waldomiro é ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) e Buratti foi demitido por Palocci em Ribeirão Preto em 1994.
A primeira versão do governo para a volta de Lula a Brasília foi a de que ele teria encontro com prefeitos às 17h30. Esse compromisso, porém, estava marcado desde a semana passada.
A segunda versão dizia que Lula iria se reunir com Dirceu e Mantega para discutir "a greve da PF [Polícia Federal]" e que essa reunião poderia ser "ampliada".
Criado o frisson, outro assessor trocou a versão da greve por uma nova -reunião com os governadores do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Santa Catarina e de Mato Grosso do Sul.
Enfim, um assessor do Planalto simplificou: Lula já tinha jantado com Kirchner "até a 1h30" e o almoço tornara-se desnecessário. Após ouvir uma pergunta da Folha sobre a deselegância de o anfitrião deixar o convidado sozinho no Rio, o assessor irritou-se: "O presidente vive encurtando a agenda. Isso não é novidade".
Lula embarcou com Mantega e Dilma Rousseff (ministra de Minas e Energia). Palocci e o chanceler Celso Amorim foram para São Paulo e dali para Londres. E Kirchner? Ficou nas mãos do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.


Texto Anterior: Abraço dos endividados: Lula e Kirchner se unem para "mudar" FMI
Próximo Texto: Brasileiro quer alívio ainda no atual acordo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.