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TANGO DA DÍVIDA
Presidente argentino rebate advertência do diretor do Fundo, Rodrigo Rato, e reafirma soberania do país
Kirchner diz que não aceita "tutela" do FMI
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou ontem que
não quer "esse tipo de tutela" do
FMI (Fundo Monetário Internacional), rebatendo as advertências
feitas ao governo anteontem pelo
diretor do Fundo, Rodrigo Rato.
"Quero dizer ao doutor Rato
que a Argentina é um país independente, soberano, que sabe administrar seus assuntos, que já tivemos uma triste experiência
com o FMI e que esses conselhos
diretos e indiretos sobre os investimentos na Argentina não são
necessários", disse Kirchner.
Rato havia dito que exigirá da
Argentina "regras de investimento claras e respeitosas com o funcionamento da iniciativa privada", na negociação de "um possível e futuro programa".
Era uma referência aos ataques
lançados por Kirchner contra a
petrolífera anglo-holandesa Shell.
O presidente argentino convocou
um boicote à empresa na última
quinta-feira, em reação aos reajustes de preços dos combustíveis.
A ofensiva de Kirchner teve início uma semana depois do anúncio da adesão de 76% dos credores à oferta de troca da dívida pública argentina, que estava em
moratória desde 2001.
Com o respaldo do bom resultado da reestruturação da dívida, o
governo vizinho havia retomado
na segunda-feira passada o diálogo com o FMI, para tentar o refinanciamento de seu programa de
US$ 14 bilhões (R$ 38,5 bilhões).
O acordo da Argentina com o
Fundo foi suspenso em agosto
passado, para aguardar o desfecho da renegociação da dívida
com os credores privados.
Além de responder a Rato,
Kirchner classificou de "patéticas" as críticas que recebeu por liderar um boicote popular a uma
empresa. "Alguns andam preocupados com modos, mesuras e
desmesuras, independentemente
dos resultados. Neste país das formas, preocuparam-se tanto tempo com os modos, as mesuras e as
desmesuras e veja aonde chegamos. É patético escutá-los."
Após a convocação do boicote
por Kirchner, a Bolsa argentina
operou em baixa por quatro dias
seguidos, totalizando queda de
13,9% do índice Merval, resultado
que eliminou os ganhos do ano.
Ontem, Kirchner reafirmou indiretamente o boicote à Shell, que
havia classificado de "o pior investimento do mundo", quando
rechaçou seu aumento de preços.
"Queremos os investimentos de
todo o mundo, mas os bons investimentos, não os piores."
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