São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2005

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TANGO DA DÍVIDA

Presidente argentino rebate advertência do diretor do Fundo, Rodrigo Rato, e reafirma soberania do país

Kirchner diz que não aceita "tutela" do FMI

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou ontem que não quer "esse tipo de tutela" do FMI (Fundo Monetário Internacional), rebatendo as advertências feitas ao governo anteontem pelo diretor do Fundo, Rodrigo Rato.
"Quero dizer ao doutor Rato que a Argentina é um país independente, soberano, que sabe administrar seus assuntos, que já tivemos uma triste experiência com o FMI e que esses conselhos diretos e indiretos sobre os investimentos na Argentina não são necessários", disse Kirchner.
Rato havia dito que exigirá da Argentina "regras de investimento claras e respeitosas com o funcionamento da iniciativa privada", na negociação de "um possível e futuro programa".
Era uma referência aos ataques lançados por Kirchner contra a petrolífera anglo-holandesa Shell. O presidente argentino convocou um boicote à empresa na última quinta-feira, em reação aos reajustes de preços dos combustíveis.
A ofensiva de Kirchner teve início uma semana depois do anúncio da adesão de 76% dos credores à oferta de troca da dívida pública argentina, que estava em moratória desde 2001.
Com o respaldo do bom resultado da reestruturação da dívida, o governo vizinho havia retomado na segunda-feira passada o diálogo com o FMI, para tentar o refinanciamento de seu programa de US$ 14 bilhões (R$ 38,5 bilhões). O acordo da Argentina com o Fundo foi suspenso em agosto passado, para aguardar o desfecho da renegociação da dívida com os credores privados.
Além de responder a Rato, Kirchner classificou de "patéticas" as críticas que recebeu por liderar um boicote popular a uma empresa. "Alguns andam preocupados com modos, mesuras e desmesuras, independentemente dos resultados. Neste país das formas, preocuparam-se tanto tempo com os modos, as mesuras e as desmesuras e veja aonde chegamos. É patético escutá-los."
Após a convocação do boicote por Kirchner, a Bolsa argentina operou em baixa por quatro dias seguidos, totalizando queda de 13,9% do índice Merval, resultado que eliminou os ganhos do ano.
Ontem, Kirchner reafirmou indiretamente o boicote à Shell, que havia classificado de "o pior investimento do mundo", quando rechaçou seu aumento de preços. "Queremos os investimentos de todo o mundo, mas os bons investimentos, não os piores."


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