São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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JP Morgan fecha compra do Bear Stearns

Secretário do Tesouro dos EUA defende socorro e diz que governo fará "o que for necessário" para manter a estabilidade

Avaliado em US$ 236 mi, banco de investimentos americano foi vendido por menos do que o valor do prédio que ocupa em NY

DA REPORTAGEM LOCAL

O banco de investimentos Bear Stearns, uma instituição de 85 anos e que sobreviveu a diversas crises econômicas incluindo a Grande Depressão de 1929, teve sua venda selada ontem para o grupo JP Morgan Chase por US$ 236 milhões -menos de 7% dos US$ 3,5 bilhões do valor de mercado atingido na sexta-feira. O negócio, que envolve troca de ações, já foi aprovado pelos conselhos de ambos os bancos.
A venda era a única alternativa para o banco evitar a falência. As negociações se estenderam durante todo o final de semana e envolveram também credores e reguladores americanos. Além da oferta do JP Morgan, o Bear Stearns tinha uma proposta alternativa feita pelo fundo de private equity [participação em empresas] KKR (Kohlberg Kravis Roberts) e pela firma J.C. Flower.
Todos as partes envolvidas correram para fechar a venda antes da abertura hoje dos mercados. Na sexta, o banco enfrentou problemas de liquidez e teve de ser socorrido pelo Federal Reserve [BC dos EUA] e pelo próprio JP Morgan.
Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou que o governo americano está "preparado para fazer o que for necessário" para garantir a estabilidade do sistema financeiro. "A decisão [de ajudar o Bear Stearns] foi correta, dada a situação atual. É importante minimizar os impactos nos mercados financeiros, assim como proteger a economia", disse Paulson.
A afirmação, feita ao canal Fox News, contrasta com as declarações de autoridades americanas feitas até o final do ano passado, que descartavam a hipótese de o governo socorrer "instituições imprudentes".

Prestígio em Wall Street
Com perdas de US$ 854 milhões só no final de 2007, o banco foi a primeira grande vítima da crise das hipotecas de alto risco nos EUA, que já deixou um rastro de US$ 100 bilhões em perdas que podem chegar a US$ 1 trilhão, segundo os mais pessimistas. Até então, a maior vítima havia sido o britânico Northen Rock, que foi "estatizado" no Reino Unido.
Pouco conhecido fora dos EUA, o Bear Stearns é um dos maiores operadores de títulos lastreados em hipotecas e negocia produtos financeiros sofisticados, como proteção por meio de derivativos, que atendem aos demais bancos de investimento americanos.
Tem ainda uma das mais importantes corretoras de Wall Street e gerencia fundos de hedge, que tem entre seus cotistas os maiores bancos americanos. Dois desses fundos de hedge foram fechados em meados de 2007, representando uma das primeiras grandes perdas da crise nos EUA.
Na sexta-feira, as ações do Bear Stearns chegaram a cair mais de 50% e terminaram o dia com baixa de 47,37%.
A proposta de US$ 236 milhões feita pelo JP Morgan é apenas uma fração do que o Bear Stearns já teria valido e bem inferior ao lucro anual que o banco já conferiu aos acionistas em meados da década. Em janeiro do ano passado, o banco valia US$ 20 bilhões em Bolsa. Só o prédio do banco, na avenida Madison, em Nova York, valeria US$ 1,2 bilhão.
Segundo o "Wall Street", a conclusão do negócio esbarrou ontem em garantias que o JP Morgan tentava obter para não ter, mais tarde, problemas de caixa por conta de aumento do nível de provisionamento para créditos ruins. O escocês RBS (Royal Bank of Scotland), o britânico Barclays e o fundo Citadel também estiveram interessados no Bear Stearns, segundo o "Financial Times".


Com agências internacionais


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