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EUA pressionam para manter subsídios
Produtores de algodão e senadores dizem que cenário mudou e fazem campanha para manter incentivos condenados na OMC
Retaliação seria um "gol contra", afirma a Câmara de Comércio dos EUA, e abalaria os interesses do Brasil "de forma profunda e duradoura"
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Na falta de uma proposta
concreta da Casa Branca para
suspender a retaliação do Brasil a produtos americanos por
conta da disputa comercial sobre o algodão, o setor do agronegócio e senadores dos EUA
elevaram a pressão na defesa
dos subsídios governamentais
ao produto, apesar de a prática
ter sido condenada pela Organização Mundial do Comércio.
O Conselho Nacional do Algodão dos EUA, que representa
sete setores algodoeiros de 17
Estados, criticou à Folha ontem a retaliação brasileira e
afirmou que o cenário atual é
diferente de quando a OMC decidiu em favor do Brasil.
"O Brasil está adotando meditas retaliatórias apesar de os
preços mundiais do algodão se
encontrarem mais de 50% acima dos de 2005, [ano] que serviu de base para a decisão original [da OMC]. A área produtiva
dos EUA caiu mais de 40%, enquanto as produções de Brasil,
China e Índia se expandiram",
disse o conselho em nota.
"Qualquer resolução deve reconhecer as realidades do mercado atual de algodão e as mudanças feitas nos programas
dos EUA."
A posição do órgão tem o
apoio de membros da Comissão de Agricultura do Senado
americano. Os senadores Blanche Lincoln (democrata, de Arkansas) e Saxby Chambliss (republicano, da Geórgia) afirmaram, após o primeiro anúncio
de retaliações por parte do Brasil, que é preciso reconhecer
"os papéis relativos dos programas [de subsídios] e a situação
do mercado mundial".
A argumentação dos senadores e do conselho é a mesma
-de que os EUA eliminaram
em 2006 o programa Step 2,
considerado de subsídio à exportação, e que a parte da retaliação permitida pela OMC relativa aos programas do governo é relativamente pequena, fixada em US$ 147 milhões.
O empresariado brasileiro
contrário aos subsídios do algodão, porém, rejeita essa posição, afirmando que três programas de subsídios seguem
em vigor e que um similar ao
Step 2, ainda mais potencialmente distorcivo, foi recriado
na lei de agricultura de 2008.
A Câmara de Comércio americana aumentou ontem o tom
da crítica à retaliação cruzada
prevista pelo Brasil, que deverá
atingir itens de propriedade intelectual. "Suspender a proteção ao direito à propriedade intelectual de empresas americanas seria um "gol contra", afastando investimentos e prejudicando interesses brasileiros de
forma profunda e duradoura",
disse à Folha John Murphy, vice-presidente para assuntos
internacionais.
A retaliação cruzada se soma
à lista de 102 produtos americanos cujas tarifas de importação devem subir a partir de 7 de
abril. O total das sanções deve
atingir US$ 830 milhões.
Timothy Reif, assessor geral
do representante americano
para o Comércio, Ron Kirk,
afirmou ontem que as negociações com o Brasil continuam
em curso e que o governo americano está empenhado em
conseguir um acordo para evitar as retaliações.
Kirk afirmou neste mês que
a intenção é oferecer compensações ao Brasil. Apenas se isso
fracassar o governo tentará
persuadir o Congresso a mudar
o programa do algodão para satisfazer as exigências do Brasil.
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