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OPINIÃO ECONÔMICA
Sete propostas para as agências reguladoras
GESNER OLIVEIRA
O projeto da Lei Geral de
Agências Reguladoras, enviado ao Congresso nesta semana
pelo governo, saiu melhor do que
se esperava, mas ainda está muito
aquém daquilo que o país precisa.
O governo tem assumido uma
posição curiosa acerca das agências reguladoras, como de resto
em várias outras questões microeconômicas. No fundo desejaria
subordinar as agências ao Poder
Executivo. Mas percebe com realismo que, se os reguladores não
tiverem um mínimo de independência, os potenciais investidores
de longo prazo se tornam ainda
mais relutantes em efetuar projetos de infra-estrutura.
A independência das agências
seria, portanto, uma espécie de
tributo aos caprichos do mercado,
e não algo desejável por seus próprios méritos. Algo que beneficia
os milhares de consumidores de
utilidades públicas e a sociedade
em seu conjunto. Lembre-se, por
exemplo, de que os preços de segmentos regulados representam
nada menos do que 29% do IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo).
Há várias conseqüências negativas dessa caminhada resignada
do governo. Uma primeira é que o
processo é excessivamente lento,
pois a administração procura testar por aproximações sucessivas
qual é o mínimo de independência a ser concedido às agências
para passar no teste dos investidores. Nesse processo, perde-se o
foco do bem-estar do consumidor
e da defesa do interesse público.
Uma segunda conseqüência é
que o desgaste natural de um processo moroso de decisão diminui
a credibilidade do governo. Isso
torna o investidor cada vez mais
relutante em investir e, ironicamente, mais exigente quanto à
definição das regras do jogo. As
mudanças que vão sendo introduzidas no projeto das agências
reguladoras deixam de ser percebidas enquanto reais avanços.
Para quebrar esse círculo vicioso, o governo precisa promover
mudanças no projeto das agências, indicando de maneira inequívoca que não pretende promover um retrocesso institucional.
Mas, pelo contrário, que está
comprometido com um salto modernizante no marco regulatório.
Seguem sete propostas nessa direção:
1) Aumentar o mandato dos dirigentes das agências de quatro
anos com recondução para cinco
anos sem recondução.
2) Abandonar a idéia de imposição geral de contratos de gestão
a todas as agências reguladoras e
implementar um controle mais
sistemático pelo Legislativo por
meio da Comissão de Infra-Estrutura do Congresso.
3) Abandonar a perigosa proposta de transferência do poder
concedente para os ministérios,
mantendo-o nas agências reguladoras.
4) Eliminar a figura do "ouvidor bisbilhoteiro" do atual projeto, que seria uma espécie de espião do presidente da República,
substituindo-o pela figura de um
ouvidor realmente independente
e com as funções clássicas de um
ombudsman.
5) Estabelecer um período de
quarentena não apenas para o
presidente, como no projeto, mas
também para os demais diretores
e ampliar o período dos atuais
quatro meses para um ano.
6) Introduzir a obrigatoriedade
de análise de impacto sobre os
custos e benefícios de novos regulamentos, que muitas vezes oneram excessivamente o setor produtivo e em particular as empresas de médio e pequeno porte.
7) Fortalecer a participação informada das associações de defesa do consumidor mediante previsão de recursos para a contratação de estudos técnicos e possibilidade de intervenção nas audiências públicas.
As propostas acima não exaurem as alterações necessárias.
Mas ilustram o longo caminho a
seguir nos próximos três meses de
votação em regime de urgência
do projeto das agências.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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