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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Banqueiro diz que se sente traído, que é inocente no caso Kroll e que possibilidade de prisão é "muito desagradável"
Ação do Citigroup é "imoral", afirma Dantas
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
De terno preto, camisa azul clara e gravata azul de bolinhas brancas, o banqueiro Daniel Dantas,
49, recebeu a Folha na manhã de
sexta-feira no escritório do Opportunity, em São Paulo. Era o final de uma semana cheia de notícias desfavoráveis: a Anatel deu
sinal verde para que ele seja substituído no controle da Brasil Telecom e a Polícia Federal o indiciou
sob a acusação de formação de
quadrilha, corrupção ativa e revelação de segredo, por causa da
contratação da Kroll para espionar concorrentes, que atingiu
também membros do governo
petista.
Além disso, a Folha divulgou
uma ação na qual o Citigroup, o
maior grupo financeiro do mundo, pede em tribunal de Nova
York indenização de US$ 300 milhões ao Opportunity sob acusação de fraude, violação de contratos, conduta ilícita e falsas afirmações. "O que o Citi está fazendo é
uma atitude da pior categoria. Da
pior categoria. É imoral", afirma
ele, que por sete anos gerenciou os
investimentos do banco no país e
agora se sente traído.
Sobre o caso Kroll, diz que nunca tomou conhecimento de nada
ilegal feito pela gigante americana
de investigação.
Daniel Dantas está nervoso? É
provável, mas difícil de perceber
num primeiro contato. Questionado sobre a possibilidade de ser
preso, afirma que não tem medo,
mas admite que "é uma sensação
muito desagradável".
Depois de dias frenéticos, nos
quais o escritório do Opportunity
ficou congestionado de advogados, assessores de imprensa e
conselheiros, o banqueiro estava
sozinho em São Paulo. Durante as
quase três horas de entrevista, ele
tomou água São Lourenço e comeu bolacha de água e sal. Na hora do almoço, folhas verdes e salada de palmito. Leia a seguir os
principais trechos de uma das raras entrevistas do banqueiro, que
não quis ser fotografado.
Folha - O sr. tem um histórico de
conflitos com vários sócios: canadenses [TIW], fundos de pensão,
italianos [Telecom Italia] e agora o
Citibank. O sr. não sabe escolher
parceiros ou tem realmente um
problema para cumprir os contratos que faz?
Dantas - Não é que eu briguei
com todo mundo. Eles é que brigaram conosco. Em primeiro lugar, os três brigaram tentando tomar o que era do Citi [fundos de
pensão, TIW e Telecom Italia disputaram nos últimos anos com o
Opportunity, que era gestor dos
investimentos do Citi no Brasil, o
controle de três empresas de telefonia -Telemig, Amazônia Celular e Brasil Telecom]. E nós defendemos os ativos do Citi . E agora o
Citi briga conosco tentando tomar o que é nosso para satisfazer
os dois primeiros [Telecom Italia
e fundos de pensão], porque eles
estavam agredindo o Citi.
Folha - O sr. acha que tem fôlego
para brigar com todo mundo?
Dantas - Não é essa a questão. Se
amanhã chegarem à sua casa e
disserem que querem a metade,
compensa você ficar com a casa
toda? Ela é sua. Por que você tem
que dar? Mas é uma boa pergunta
[pausa]. Se você acha que a equação de forças lhe permite enfrentar todos os opositores... É um
bom ponto para refletir. Na verdade, até aqui nós resistimos e
consolidamos a nossa posição.
Folha - O sr. tinha o apoio do Citi.
Dantas - Não tinha nenhum
apoio. Não ajudavam em nada.
Folha - De qualquer forma, o senhor era o administrador dos investimentos do banco no Brasil. O
Citi o destituiu da função e hoje faz
acusações graves ao sr.
Dantas - É um ataque. É um ataque, sem dúvida.
Folha - O Citi está movendo uma
ação contra o sr. em que pede uma
indenização de US$ 300 milhões e o
acusa de fraude, violação de contratos, conduta ilícita, falsas afirmações, negligência.
Dantas - Eles me disseram o seguinte: ou vocês fazem do jeito
que eu quero ou então eu vou fazer isso. O que eu posso fazer?Eu
já disse ao Citi que o nosso objetivo era fazer um acordo que fosse
justo. Ponto. Mas o Citi pode estar
dizendo: não, eu vou aqui fazer
uma disputa de fôlego e vamos
ver se ele [Dantas] consegue
agüentar. Nenhuma acusação é
verdadeira.
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