São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Banqueiro diz que se sente traído, que é inocente no caso Kroll e que possibilidade de prisão é "muito desagradável"

Ação do Citigroup é "imoral", afirma Dantas

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

De terno preto, camisa azul clara e gravata azul de bolinhas brancas, o banqueiro Daniel Dantas, 49, recebeu a Folha na manhã de sexta-feira no escritório do Opportunity, em São Paulo. Era o final de uma semana cheia de notícias desfavoráveis: a Anatel deu sinal verde para que ele seja substituído no controle da Brasil Telecom e a Polícia Federal o indiciou sob a acusação de formação de quadrilha, corrupção ativa e revelação de segredo, por causa da contratação da Kroll para espionar concorrentes, que atingiu também membros do governo petista.
Além disso, a Folha divulgou uma ação na qual o Citigroup, o maior grupo financeiro do mundo, pede em tribunal de Nova York indenização de US$ 300 milhões ao Opportunity sob acusação de fraude, violação de contratos, conduta ilícita e falsas afirmações. "O que o Citi está fazendo é uma atitude da pior categoria. Da pior categoria. É imoral", afirma ele, que por sete anos gerenciou os investimentos do banco no país e agora se sente traído.
Sobre o caso Kroll, diz que nunca tomou conhecimento de nada ilegal feito pela gigante americana de investigação.
Daniel Dantas está nervoso? É provável, mas difícil de perceber num primeiro contato. Questionado sobre a possibilidade de ser preso, afirma que não tem medo, mas admite que "é uma sensação muito desagradável".
Depois de dias frenéticos, nos quais o escritório do Opportunity ficou congestionado de advogados, assessores de imprensa e conselheiros, o banqueiro estava sozinho em São Paulo. Durante as quase três horas de entrevista, ele tomou água São Lourenço e comeu bolacha de água e sal. Na hora do almoço, folhas verdes e salada de palmito. Leia a seguir os principais trechos de uma das raras entrevistas do banqueiro, que não quis ser fotografado.

Folha - O sr. tem um histórico de conflitos com vários sócios: canadenses [TIW], fundos de pensão, italianos [Telecom Italia] e agora o Citibank. O sr. não sabe escolher parceiros ou tem realmente um problema para cumprir os contratos que faz?
Dantas -
Não é que eu briguei com todo mundo. Eles é que brigaram conosco. Em primeiro lugar, os três brigaram tentando tomar o que era do Citi [fundos de pensão, TIW e Telecom Italia disputaram nos últimos anos com o Opportunity, que era gestor dos investimentos do Citi no Brasil, o controle de três empresas de telefonia -Telemig, Amazônia Celular e Brasil Telecom]. E nós defendemos os ativos do Citi . E agora o Citi briga conosco tentando tomar o que é nosso para satisfazer os dois primeiros [Telecom Italia e fundos de pensão], porque eles estavam agredindo o Citi.

Folha - O sr. acha que tem fôlego para brigar com todo mundo?
Dantas -
Não é essa a questão. Se amanhã chegarem à sua casa e disserem que querem a metade, compensa você ficar com a casa toda? Ela é sua. Por que você tem que dar? Mas é uma boa pergunta [pausa]. Se você acha que a equação de forças lhe permite enfrentar todos os opositores... É um bom ponto para refletir. Na verdade, até aqui nós resistimos e consolidamos a nossa posição.

Folha - O sr. tinha o apoio do Citi.
Dantas -
Não tinha nenhum apoio. Não ajudavam em nada.

Folha - De qualquer forma, o senhor era o administrador dos investimentos do banco no Brasil. O Citi o destituiu da função e hoje faz acusações graves ao sr.
Dantas -
É um ataque. É um ataque, sem dúvida.

Folha - O Citi está movendo uma ação contra o sr. em que pede uma indenização de US$ 300 milhões e o acusa de fraude, violação de contratos, conduta ilícita, falsas afirmações, negligência.
Dantas -
Eles me disseram o seguinte: ou vocês fazem do jeito que eu quero ou então eu vou fazer isso. O que eu posso fazer?Eu já disse ao Citi que o nosso objetivo era fazer um acordo que fosse justo. Ponto. Mas o Citi pode estar dizendo: não, eu vou aqui fazer uma disputa de fôlego e vamos ver se ele [Dantas] consegue agüentar. Nenhuma acusação é verdadeira.


Texto Anterior: Mercado aberto: Lucrar com banco é fácil, diz Ermírio
Próximo Texto: Contrato com Kroll foi legal, diz banqueiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.