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PROTECIONISMO
"O problema da Alca não é o Brasil, são os Estados Unidos"
FHC ataca unilateralismo dos EUA
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O presidente Fernando Henrique Cardoso antecipou ontem
que voltará a criticar hoje o unilateralismo dos EUA, no discurso
que fará na plenária da reunião de
cúpula entre a União Européia e a
América Latina/Caribe.
"O unilateralismo não se compagina com a idéia de livre comércio", disse FHC, aludindo às medidas protecionistas adotadas pelo governo norte-americano nos
últimos meses.
A mais recente -e mais dura-crítica feita pelo presidente brasileiro aos Estados Unidos foi em Paris, em outubro passado, em discurso na Assembléia Nacional
francesa. FHC chegou a comparar
o unilateralismo dos EUA ao terrorismo, o que provocou irritação
até hoje não dissipada no governo
George Walker Bush.
"A barbárie não é somente a covardia do terrorismo mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais em escala planetária", disse FHC em
Paris em outubro passado.
"De lá para cá, só piorou", diz
FHC. Pelo menos em matéria de
protecionismo, de fato os Estados
Unidos vêm adotando uma decisão após a outra em contradição
com a retórica pró-livre comércio.
O presidente brasileiro comentou ontem, em especial, a mais recente delas, o fato de o Senado ter
rejeitado emenda ao mecanismo
batizado de TPA (Autoridade para Promoção Comercial) que impediria que o Congresso aprove
apenas o que for bom para os Estados Unidos em acordos comerciais negociados pelo Executivo.
FHC disse que ainda precisa ler
em detalhes a decisão do Senado,
mas já atacou: "Parece que o Congresso diminuiu ainda mais a amplitude que o presidente conta para fazer um acordo. Se for assim,
quase seria melhor ir direto ao
Congresso. Se o presidente tem
menos poderes ou poucos poderes, fica mais difícil".
Por isso mesmo, o presidente
brasileiro insiste na sua tese de
que "o problema da Alca não é o
Brasil, são os Estados Unidos". É
uma alusão à Área de Livre Comércio das Américas, a ser formada pelos 34 países americanos, excluída apenas Cuba, uma iniciativa originalmente do governo dos
EUA, na gestão Clinton. O governo norte-americano sempre criticou veladamente o Brasil por, supostamente, criar dificuldades
para avançar nas negociações.
FHC acha que "uma negociação
com fortes dificuldades por parte
dos Estados Unidos pode ficar
mais atrasada".
Ele aproveitou para estimular os
europeus, que também negociam
uma área de livre comércio com
países americanos, no caso os
quatro do Mercosul.
"A Europa poderia tirar vantagem (das dificuldades dos EUA) e
fazer um acordo. A Europa também tem interesses políticos e estratégicos em uma maior abertura", disse. Lembrou inclusive que
os europeus estão agora, "pela
primeira vez", sentindo também
o protecionismo americano, "no
aço, por exemplo". Na verdade,
não é a primeira vez, já que Europa e EUA colidem frequentemente em matérias comerciais.
O discurso de FHC hoje não visará exclusivamente o unilateralismo dos EUA, mas o protecionismo em geral, em especial o que
a UE adota na área agrícola.
"Nossa prioridade é dizer que,
se se quer realmente relações comerciais, é sem protecionismo, é
baixando progressivamente as
barreiras, é criando condições
efetivas para o livre comércio".
Diz o presidente que o Brasil
"quer e está preparado para a
competição, mas não podemos
fazer aqui e não fazer ali".
Mais por dever de ofício do que
por convicção, FHC diz que há, na
União Européia, uma "disposição
favorável" para avançar um pouco no rumo do livre comércio.
Mas o realismo obrigou-o a reconhecer que, "nos últimos anos,
houve um retrocesso em matéria
de comércio mais aberto".
De novo por dever de ofício, foi
otimista a respeito do Mercosul, a
ponto de dizer que, "a médio prazo", o bloco poderia chegar até a
ter uma moeda comum. Mas admitiu: "Leva tempo. A Europa levou 50 anos para chegar ao ponto
em que está. Vamos devagar com
o andor".
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