São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Seria o segundo perdão concedido pelo Fundo; reservas do país estão abaixo de US$ 11 bilhões

FMI deve adiar dívida, e Argentina respira

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) deu ontem um sinal de apoio à Argentina ao anunciar que deve adiar por um ano o pagamento de uma divida de US$ 130 milhões que venceria no dia 22. Em seguida, o Banco Mundial e os EUA também fizeram declarações em tom conciliador.
No caso do FMI, o porta-voz Thomas Dawson disse ontem que a gerencia da instituição recomendou à sua diretoria-executiva que o empréstimo não seja pago agora. A decisão final deve sair nos próximos dias. Se confirmado, seria o segundo perdão concedido ao país, uma vez que em 16 de janeiro o Fundo havia adiado a cobrança de US$ 933 milhões.
Dessa forma, a Argentina não precisará voltar a usar as reservas internacionais para evitar entrar em "default" (calote) com os organismos multilaterais. As reservas, que estão abaixo de US$ 11 bilhões, tiveram queda significativa nesta semana, quando o país pagou uma dívida de US$ 680 milhões com o Banco Mundial.
Dawson informou que uma missão técnica do FMI começou a trabalhar ontem em Buenos Aires na análise da política monetária. O Fundo pede a eliminação dos títulos emitidos pelas Províncias (Estados) que funcionam como moedas paralelas e já representariam um terço de todo o dinheiro em circulação no país. Além disso, o vice-ministro da Economia, Enrique Devoto, admitiu que o governo deverá renegociar com o FMI o limite de emissão de até 3,5 bilhões de pesos neste ano, que já foi estourado.
Na próxima semana, uma segunda missão do Fundo chegará à Argentina para analisar a parte fiscal. O governo ainda precisa firmar o acordo para a redução do déficit de 14 Províncias.
Além do apoio do FMI, a Argentina também recebeu sinais de alento dos EUA e do Bird. O secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, disse acreditar que o país ""está progredindo", em referencia à aprovação da Lei de Falências no Senado. No entanto, lembrou que a Argentina ainda deve votar a Lei de Subversão Econômica na Câmara para receber ajuda. Já o vice-presidente do Banco Mundial, David de Ferranti, dise que o país terá empréstimos da instituição uma vez que chegue a um acordo com o FMI.
A retomada de um diálogo amigável com o exterior fez a cotação do dólar cair 0,9% ontem, vendido a 3,29 pesos nas casas de câmbio de Buenos Aires. Também levou otimismo ao mercado a estimativa de que a arrecadação atinja 4,5 bilhões de pesos neste mês, o melhor resultado desde a posse do presidente Eduardo Duhalde.
O Banco Central foi novamente alvo de rumores ontem. Os boatos voltavam a falar na renúncia do presidente da entidade, Mario Blejer, e de outros dois diretores. No entanto, o BC confirmou apenas que a diretora Amalia Martinez deixaria a instituição.
Os rumores sobre a saída de Blejer começaram há vários meses, mas se intensificaram na semana passada. Especula-se que ele não estaria contente com o Ministério da Economia por não ser chamado a discutir soluções para acabar com o ""curralzinho".
O governo estuda agora criar uma nova restrição para o saque dos depósitos nos bancos. Desta vez, a equipe econômica pode estabelecer um teto de 2.000 pesos para o saque mensal nas contas-salário, que estavam isentas de restrições desde fevereiro.
Por outro lado, o ministro Roberto Lavagna (Economia) pretende dar cinco opções para os correntistas receberem de volta os depósitos a prazos fixos).



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