São Paulo, domingo, 17 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESQUELETOS DO BC

Autoridade monetária injetou R$ 30,5 bilhões em instituições; desses, R$ 9 bilhões já estão perdidos

Liquidação de banco se arrasta e falha, diz BC

ESTELA CAPARELLI
LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

As liquidações de bancos no Brasil arrastam-se durante anos, têm consumido bilhões de reais e envolvem suspeitas de desvio de recursos e favorecimentos a instituições estrangeiras.
As dívidas e obrigações (passivos) dos nove maiores bancos com liquidação em curso somavam, em dezembro do ano passado, R$ 43 bilhões. Desse total, caberiam ao BC R$ 30,5 bilhões. Ou seja, dinheiro que a autoridade monetária injetou nessas instituições, tanto pelo Proer como por linhas de assistência financeira, e que deveria receber de volta.
No entanto o BC calcula que pelo menos R$ 9 bilhões (o que daria para comprar um Banespa) já foram perdidos. Isto é, empréstimos que dificilmente serão pagos. No balanço de dezembro de 2000, o BC lançou esse valor como provisão para créditos de liquidação duvidosa.
A recuperação dos demais R$ 21,5 bilhões também não está garantida. É somente a parcela que o BC avalia poder reaver, por exemplo, com a liquidação de créditos e com a venda de imóveis.
O caso do banco Nacional é o mais emblemático. Ao todo, o BC injetou na instituição R$ 15,537 bilhões. Mas considera que R$ 5,015 bilhões, correspondentes a um terço dos créditos, já se foram.
Em agosto de 1999, Carlos Eduardo de Freitas assumiu a Diretoria de Finanças Públicas do BC com a incumbência de dar maior agilidade às liquidações.
Uma das primeiras iniciativas de Freitas foi tocar num ponto nevrálgico desses processos: a embromação dos liquidantes. Muitos credores acusam os liquidantes de "empurrar com a barriga" as liquidações, para continuar a receber pelos serviços prestados. "A minha avaliação hoje, depois de estar há um ano e meio à frente desse processo, é que essa crítica tem procedência sim", disse Freitas à Folha.
Freitas estabeleceu rodízio entre vários liquidantes e afastou outros. Mas ele reconhece que a morosidade ainda persiste. "Eu acho que o BC tem parcela de culpa, mas estamos agilizando os processos porque achamos que as coisas estavam realmente um pouco morosas", disse.
O diretor do Banco Central faz questão de ressaltar que, desde que assumiu a função, já conseguiu recuperar R$ 3,65 bilhões. "Dinheiro que já está nos cofres da República", afirmou.
Há comemorações de um lado, mas complicações de outro. No mês passado, a pedido do ministro Pedro Malan (Fazenda), Freitas teve que encaminhar relatório ao deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) sobre investigações de suposto desvio de recursos cometido pelo presidente de um banco em liquidação.
O banco em questão é o Econômico, e o presidente da instituição é Ângelo Calmon de Sá. No documento encaminhado ao deputado, Freitas informa que a Comissão de Inquérito do BC instaurada para apurar as causas da liquidação do Econômico concluiu que "procedimentos irregulares" teriam acarretado a evasão de divisas, sob a responsabilidade do controlador do banco e de vários de seus diretores.
Segundo o relatório, o total de remessas líquidas para o exterior (descontados os ingressos de recursos no Brasil), entre março de 1994 e agosto de 1995 -mês em que a intervenção do Econômico foi decretada- foi de US$ 336,4 milhões.
Outro problema enfrentado pelo BC também remete ao processo do Econômico. Ezequiel Nasser, que comprou o banco em 1996 e teve de repassá-lo aos espanhóis do BBV dois anos depois, está processando os novos donos do banco e o próprio BC.
Nasser diz que foi coagido a vender o banco porque o governo queria usar o aporte de US$ 1,5 bilhão investido pelo BBV no Excel Econômico para equilibrar as contas do governo brasileiro.
Nasser questiona a fiscalização do BC, que sempre aprovou os balanços e fiscalizou as contas da instituição. "O BC autorizou o balanço de dezembro de 1997 e de março de 1998 com base em toda a fiscalização. Depois, pegou os números dos espanhóis para fazer o balanço de junho em 1998. Em novembro, o BC disse que havia operações irregulares. Qual é a lógica disso?", pergunta.


Texto Anterior: Sobrevivência do bloco é mais política
Próximo Texto: Morosidade continua, diz diretor do BC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.