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Morosidade continua, diz diretor do BC
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando assumiu a Diretoria de
Finanças Públicas do Banco Central, em agosto de 1999, Carlos
Eduardo de Freitas encontrou a
instituição "inerte" -de acordo
com as suas palavras- para tocar
os processos de liquidação de
bancos.
Freitas diz já ter feito muita coisa desde então, como promover
rodízio entre vários liquidantes e
até mesmo o afastamento de outros. Mas reconhece que a morosidade ainda persiste. "Eu acho
que o Banco Central tem parcela
de culpa, mas estamos agilizando
os processos porque achamos que
as coisas estavam realmente um
pouco morosas", disse.
Uma das principais críticas feitas aos regimes especiais dos bancos é a "vagarosidade" dos liquidantes. Os liquidantes, na maioria
dos casos funcionários aposentados do Banco Central, são nomeados pela instituição e recebem salários fixos enquanto perdura o
processo de liquidação.
Muitos credores acusam os liquidantes de prorrogar deliberadamente os trabalhos para "esticar" o recebimento dos salários.
"A minha avaliação hoje, depois
de estar há um ano e meio à frente
desse processo, é que essa crítica
tem procedência sim. Mas estamos fazendo rodízio dos liquidantes. E liquidante que está andando devagar a gente tira", afirmou Freitas.
O diretor do BC faz questão de
destacar que, em sua gestão, o BC
já conseguiu recuperar R$ 3,65 bilhões. "Isso foi pago, fatura liquidada, já está no cofre da República", disse.
Leia a seguir trechos da entrevista que o diretor do BC concedeu à Folha.
(LS)
Folha - De um modo geral, as liquidações têm avançado?
Carlos Eduardo de Freitas - Estamos pondo esse processo em movimento, o que é algo difícil. Tudo
isso estava há muito anos inerte.
Mas estamos cobrando, já mandamos vários bancos para a falência e estamos às vésperas de suspender a liquidação de outros.
Nós já cobramos mais R$ 3,65 bilhões nesse período de um ano e
meio. Só do [banco" Nacional foi
R$ 1,9 bilhão. Do [banco" Econômico, R$ 1,3 bilhão.
Folha - Há uma forte crítica quanto à demora dos liquidantes em tocar os processos.
Freitas - A minha avaliação hoje,
depois de estar há um ano e meio
à frente desse processo, é que essa
crítica tem procedência sim. Mas
nós estamos fazendo rodízio dos
liquidantes. E liquidante que está
andando devagar a gente tira.
Folha - Quais liquidantes vocês já
mudaram?
Freitas - Todos. Já trocamos os
de Bamerindus, Econômico, Nacional, Crefisul. Em alguns casos,
nós tiramos os liquidantes.
Folha - Como ele (o liquidante)
tem o salário garantido, ele vai empurrando com a barriga. Não é isso?
Freitas - O sujeito ganha o salário dele... Tem procedência sim,
mas estamos disciplinando várias
questões. A coisa está andando,
mas não vou dizer que eu estou
satisfeito, porque a gente nunca
pode estar. Acho que as críticas tinham razão sim.
Mas é claro que a morosidade
não é só por causa disso. Há o
problema do arcabouço legal. O
sistema jurídico brasileiro não
acolhe a agilidade necessária. Há
muita interposição de embargos
dos controladores. Há embargos
dos credores, dos devedores.
Eu acho que o Banco Central
tem parcela de culpa na demora,
mas estamos agilizando os processos, porque achamos que as
coisas estavam realmente um
pouco morosas.
Folha - Quais processos de liquidação podem ser concluídos ainda
neste ano?
Freitas - Acho difícil que isso
aconteça com o Nacional, por
exemplo, que é um caso mais
complicado. O Bamerindus eu
não sei. O Econômico acho que
não sai também neste ano. O Crefisul também não sei.
Folha - Já houve processo movido
pelo BC contra liquidante?
Freitas - Nunca houve, mas nada
impede que ocorra.
Folha - É possível estabelecer prazos para as liquidações?
Freitas - Em alguns casos, sim.
Em outros, não. Por exemplo, estamos vendendo a Copene [integra a parte do Econômico que ficou para o BC" há um ano e meio.
Aí embarga de um lado, embarga
do outro. Recebi a Copene como
parte do pagamento, o que é um
problema. Eu quero evitar isso.
Os casos em que há dificuldades
para a liquidação dos ativos demoram mais.
Folha - Quais seriam os casos em
que poderiam ser definidos prazos?
Freitas - Quando há ativos que
são fáceis de determinar o tempo
de liquidação, como imóveis e
carteiras de crédito. Podemos decidir também, quando não for
possível ir mais adiante, retirar o
que for de direito do BC e mandar
o caso para a Justiça. O BC tem
poderes para fazer isso.
Folha - O senhor já sabe quanto
conseguirão recuperar do Econômico?
Freitas - Ainda não. Estamos no
começo dos trabalhos no banco.
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