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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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'FASE DOIS'

Ministro diz que Copom levará em conta que inflação está abaixo da meta, o que foi visto como indicação de queda da Selic

Palocci sinaliza que juro pode cair amanhã

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião ontem de manhã com Lula e a cúpula do governo, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) sinalizou que o Copom (Comitê de Política Monetária) deverá baixar os juros amanhã. A taxa atual é de 26,5% ao ano.
Segundo a Folha apurou, Palocci disse na reunião que o Copom, órgão que fixa a taxa básica de juros da economia, levará em conta que a previsão de inflação para os próximos 12 meses medida pelo IPCA é de 7,7% e, portanto, abaixo da meta de inflação do BC de 8,5% deste ano.
Detalhe importante: os presentes na reunião entenderam o comentário como sinal de que o Copom deverá baixar os juros. Palocci, porém, não falou explicitamente que haverá diminuição. Ele tem sido cauteloso em relação a esse assunto porque não deseja passar a impressão de que o Copom se rende a pressões políticas.
À tarde, ao lançar a agenda para o desenvolvimento, Palocci disse acreditar que o momento em que será possível haver corte dos juros básicos da economia "está vindo". Sem mencionar o Copom, o ministro disse que se referia a um contexto mais amplo que os juros, que o governo não pode olhar só a questão da taxa básica, mas também para outros temas como crédito e política industrial.

Cautela
Duas semanas atrás, o próprio Palocci tinha avaliação mais cautelosa ainda, segundo a Folha apurou. Avaliava que seria mais provável uma queda em julho do que em junho, mas abria a porta para uma eventual diminuição na reunião desta semana do Copom, a depender do IPCA de maio, divulgado na semana passada e que ficou em 0,61%. O indicador é parâmetro para a meta de inflação.
De duas semanas para cá, aumentou a pressão política e empresarial pela queda dos juros. No Planalto, diz-se que está na hora de Palocci "atender o presidente". Ou seja, dentro da margem de manobra possível, reduzir a taxa de juros atual sem minar Palocci. O ministro da Fazenda tem ganho as rusgas com seus opositores. Na sexta, Lula pediu a ministros e líderes congressuais que defendam Palocci na mídia e no Legislativo.
A avaliação do chamado "núcleo duro", formado por Lula e os ministros e auxiliares petistas mais próximos ao presidente, é que a taxa básica de juros está num patamar elevado e que uma pequena queda não afugentaria capitais de curto prazo e, de quebra, serviria como sinalização de que o compromisso de longo prazo do governo é com o crescimento econômico.
Outro dado que levou o "núcleo duro" a entender o comentário de Palocci como sinal de queda das taxas foi o relato do ministro da Fazenda de que o próprio mercado já trabalhava com uma taxa de juros anualizada menor que 26,5% -o mercado espera queda de 0,5 ponto percentual amanhã, segundo pesquisa do BC.

Manifesto
O abaixo-assinado de economistas ligados ao PT divulgado na semana passada também foi abordado na reunião, da qual participaram Lula, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e os ministros Palocci, José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica).
Mercadante considerou o manifesto "absurdo", por pedir controle cambial. No entanto disse que os juros deveriam começar a cair, argumentando haver risco de recessão.
Segundo Mercadante, alguns setores da economia sofrem risco de paralisia, caso não haja queda dos juros, uma das reivindicações do manifesto da semana passada.
A importância desse manifesto foi minimizada na reunião. Na avaliação dos presentes, o manifesto deveria ter sido lançado na fase aguda da crise cambial, no último trimestre de 2002, e não agora, quando o próprio governo já prepara medidas para atenuar o rigor fiscal e monetário.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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