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Governo divulga diretrizes para retomada do desenvolvimento do país; setores estratégicos serão incentivados
Nova agenda defende política econômica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera de mais uma reunião do Banco Central destinada a
definir os juros, o governo reuniu
quatro ministros para fazer uma
defesa da política econômica e
anunciar diretrizes de uma política de desenvolvimento do país.
José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Guido Mantega (Planejamento) lançaram juntos o documento "Roteiro para Agenda
de Desenvolvimento", um guia
para políticas industrial, de comércio exterior e de tecnologia
voltadas para a retomada do crescimento econômico.
Também está previsto o estímulo, por meio de incentivos fiscais,
para os chamados "setores dinâmicos", definidos como aqueles
capazes de crescer mais de 10% ao
ano no mundo, na produção interna ou no comércio exterior.
Um desses setores é o de eletroeletrônicos.
O documento também toca
num ponto delicado para o governo ao dar grande importância ao
estabelecimentos de marcos regulatórios no setor de infra-estrutura -casos de energia elétrica, de
telefonia, de transportes e de saneamento básico.
Trata-se de fixar as regras para a
atuação do poder público e da iniciativa privada nessas áreas, o que
passa, necessariamente, pelo papel das agências reguladoras, cuja
atuação tem sido muito criticada
por Lula e seus principais assessores -o que, segundo especialistas, trouxe insegurança aos investidores.
Juros e crescimento
"A redução dos juros na esteira
da consolidação da estabilidade
econômica é apenas uma condição necessária, mas não suficiente, para que o país possa retomar
uma trajetória de crescimento e
aumento das oportunidades de
emprego", diz o documento, logo
em seu primeiro parágrafo, em
frase repetida por Palocci durante
a entrevista.
Furlan, que iniciou a apresentação, negou, sem ser questionado,
o caráter político do evento:
"Aqueles que imaginam que esse
trabalho possa ser uma resposta a
recentes colocações, feitas na imprensa, de que o governo não vinha fazendo nada a esse respeito
[da agenda do desenvolvimento],
essa é uma percepção simplista e
equivocada".
Em sua intervenção, Dirceu rebateu críticas segundo as quais o
nível atual dos juros e do controle
de gastos públicos inviabiliza investimentos privados e públicos.
Segundo sua argumentação, os
investimentos seriam ainda mais
impossíveis com a inflação fora de
controle, o dólar a R$ 4 e o risco-país em 2.400 pontos.
Setores estratégicos
Como todos enfatizaram e o
próprio título do documento explicita, o que foi anunciado ontem
não passa de um roteiro, com
muitos pontos em aberto. Mais
detalhes foram prometidos para
dentro de 30 dias, após a realização de seminário sobre o tema.
Ainda assim, em apenas seis páginas, o governo deu as primeiras
pistas oficiais do que pretende fazer na política industrial, uma das
principais promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A política definirá setores específicos aos quais serão destinados
incentivos, como renúncias fiscais e financiamentos subsidiados, o que, ao menos no papel, representa uma mudança de visão
em relação ao governo passado
-em que se privilegiavam ações
voltadas para a economia como
um todo.
Entre os setores considerados
estratégicos pelo documento estão os que são objeto de um "esforço importante em termos de
pesquisa básica", como os de biotecnologia e nanotecnologia.
Os setores receberão os incentivos por período determinado e
não prorrogável. Em troca, se
submeterão a metas (ou contrapartidas), como elevação da produção ou das exportações. Quem
não cumprir suas metas poderá
ter os incentivos reduzidos ou
suspensos.
Para a retomada dos investimentos, os principais recursos
públicos devem vir do BNDES e
do Banco do Brasil. Mantega citou estudos segundo os quais seriam necessários investimentos
de US$ 20 bilhões anuais, somando dinheiro do governo e de empresários. Para o ministro, a taxa
de investimento pode chegar a
19% do Produto Interno Bruto já
neste ano.
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