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Sucessor de Bill Gates tem estilo oposto
Objetivo de Ray Ozzie é simplificar o complexo processo de desenvolvimento de software da gigante mundial do setor
Gates trabalhará com Ozzie em tempo integral pelos próximos 2 anos, antes de assumir o posto consultivo de presidente do conselho
RICHARD WATERS
DO "FINANCIAL TIMES"
A Microsoft tem um novo cérebro. Ray Ozzie, grisalho, cortês e nascido em Chicago, é de
muitas maneiras o oposto de
Bill Gates. Conhecido pelo estilo mais brando e conciliador,
ele não exibe a intensidade que
o fundador da Microsoft sempre projeta ao mover o corpo
incessantemente enquanto
responde até mesmo a mais
amena das perguntas.
Mas não se enganem: o novo
papel de Ozzie no comando da
empresa de desenvolvimento
de software mais poderosa do
mundo marca o auge da carreira de um feroz intelecto tecnológico. Ao promover um homem cuja abordagem quanto à
engenharia de software talvez
esteja mais adaptada à era obcecada pelo Google que ora vivemos, a decisão da Microsoft
talvez sinalize a mais recente
em uma série de revoluções internas que provaram o quanto
é perigoso subestimar a Microsoft, empresa freqüentemente
desconsiderada no mundo da
tecnologia, e vista como um gigante sempre lento e incapaz
de se adaptar a novos tempos.
Na quinta-feira, Ozzie assumiu o posto de líder mundial do
setor de software, quando Gates lhe transferiu formalmente
a responsabilidade pela condução da estratégia de software da
Microsoft. Embora Gates deva
continuar trabalhando com
Ozzie em tempo integral pelos
próximos dois anos, antes de
deixar de vez o quadro de executivos da empresa e assumir o
posto consultivo de presidente
do conselho, o poder já foi efetivamente transferido.
Para Gates, isso indica que o
final de uma carreira de negócios histórica está se aproximando. Ele já havia cedido seu
posto como presidente-executivo do grupo a Steve Ballmer
em 2000. Agora, transferiu a
responsabilidade pela estratégia e pela pesquisa de tecnologia a outro de seus subordinados, Craig Mundie. Isso confere
a Ozzie o papel central de vice-presidente de arquitetura de
software, no comando de um
exército de engenheiros que
vem determinando a maneira
pela qual a era dos computadores pessoais se desenrola.
"Supremo engenheiro"
Ozzie, que começou a trabalhar para a Microsoft em abril
do ano passado, depois que esta
adquiriu a Groove Networks, o
grupo de software de capital fechado que ele dirigia, é um líder
muito diferente de Gates, cuja
especialidade suprema sempre
foi a estratégia de negócios.
"Ray é um programador entre os programadores", diz Rob
Enderle, jornalista especializado em tecnologia. "Ele, na verdade, é mais uma espécie de supremo engenheiro", enquanto
Gates não se envolvia pessoalmente em questões de programação de software já há anos.
Gates mesmo já havia expressado algum tempo atrás a
sua opinião de que Ozzie "é um
dos cinco melhores programadores do universo", e revelou
que ele e Ballmer estavam interessados em convencê-lo a trabalhar para a Microsoft havia
mais de uma década.
Para o mundo externo, a
competência de Ozzie como
programador é conhecida principalmente por meio do Lotus
Notes, o software de e-mail e
colaboração profissional cujo
desenvolvimento ele dirigiu e
que terminou adquirido pela
IBM em 1995. É difícil, hoje,
compreender o impacto que o
Notes exerceu sobre o mundo
do software, especialmente
porque o produto, desde que a
IBM o adquiriu, perdeu a liderança desse mercado para o pacote de aplicativos Outlook, da
Microsoft. Mas, como diz um
dos executivos da empresa, o
produto de Ozzie, que antedatava o uso em massa da internet, era um conceito radical,
ainda que alguns aspectos de
seu desenvolvimento tivessem
deixado a desejar. O Notes foi
fruto de anos de observação
pessoal, e indica o estilo apaixonado de liderança que é a marca
de Ozzie. Desde suas primeiras
experiências com a computação, na Universidade de Illinois, no começo da década de
70, o trabalho dele segue um
único rumo: usar software para
tornar mais fácil a comunicação e a colaboração entre os
trabalhadores.
Pressa por inovações
Ozzie não pretende jogar fora as visões de desenvolvimento integrado de software em
larga escala que sempre foram
a marca da Microsoft. Para
grandes projetos de software
como sistemas operacionais,
ele diz, os clientes só estão dispostos a aceitar lançamentos
ocasionais de novos produtos.
Mas depois que assumiu papel-chave na empresa, no terceiro trimestre do ano passado,
ele vem pressionando por inovação mais rápida em outras
áreas, com a criação de produtos menos ambiciosos que
atendam a necessidades estreitas mas bem definidas -uma
abordagem semelhante à que
ele adotou na Groove.
"Nós conseguíamos realizar
muito trabalho, com pequeno
número de funcionários e em
prazo relativamente curto",
disse ele em entrevista pouco
depois de começar na Microsoft no ano passado. "Gerar
uma resposta tecnológica em
tempo curto é fundamentalmente uma questão de liderança. Começo meu trabalho
olhando de fora: o que definirá
o sucesso quando o produto final for distribuído? Se você não
tiver idéias muito claras, terminará com um processo muito
longo ou um produto não realizará aquilo que você desejava."
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