São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Sucessor de Bill Gates tem estilo oposto

Objetivo de Ray Ozzie é simplificar o complexo processo de desenvolvimento de software da gigante mundial do setor

Gates trabalhará com Ozzie em tempo integral pelos próximos 2 anos, antes de assumir o posto consultivo de presidente do conselho


RICHARD WATERS
DO "FINANCIAL TIMES"

A Microsoft tem um novo cérebro. Ray Ozzie, grisalho, cortês e nascido em Chicago, é de muitas maneiras o oposto de Bill Gates. Conhecido pelo estilo mais brando e conciliador, ele não exibe a intensidade que o fundador da Microsoft sempre projeta ao mover o corpo incessantemente enquanto responde até mesmo a mais amena das perguntas.
Mas não se enganem: o novo papel de Ozzie no comando da empresa de desenvolvimento de software mais poderosa do mundo marca o auge da carreira de um feroz intelecto tecnológico. Ao promover um homem cuja abordagem quanto à engenharia de software talvez esteja mais adaptada à era obcecada pelo Google que ora vivemos, a decisão da Microsoft talvez sinalize a mais recente em uma série de revoluções internas que provaram o quanto é perigoso subestimar a Microsoft, empresa freqüentemente desconsiderada no mundo da tecnologia, e vista como um gigante sempre lento e incapaz de se adaptar a novos tempos.
Na quinta-feira, Ozzie assumiu o posto de líder mundial do setor de software, quando Gates lhe transferiu formalmente a responsabilidade pela condução da estratégia de software da Microsoft. Embora Gates deva continuar trabalhando com Ozzie em tempo integral pelos próximos dois anos, antes de deixar de vez o quadro de executivos da empresa e assumir o posto consultivo de presidente do conselho, o poder já foi efetivamente transferido.
Para Gates, isso indica que o final de uma carreira de negócios histórica está se aproximando. Ele já havia cedido seu posto como presidente-executivo do grupo a Steve Ballmer em 2000. Agora, transferiu a responsabilidade pela estratégia e pela pesquisa de tecnologia a outro de seus subordinados, Craig Mundie. Isso confere a Ozzie o papel central de vice-presidente de arquitetura de software, no comando de um exército de engenheiros que vem determinando a maneira pela qual a era dos computadores pessoais se desenrola.

"Supremo engenheiro"
Ozzie, que começou a trabalhar para a Microsoft em abril do ano passado, depois que esta adquiriu a Groove Networks, o grupo de software de capital fechado que ele dirigia, é um líder muito diferente de Gates, cuja especialidade suprema sempre foi a estratégia de negócios.
"Ray é um programador entre os programadores", diz Rob Enderle, jornalista especializado em tecnologia. "Ele, na verdade, é mais uma espécie de supremo engenheiro", enquanto Gates não se envolvia pessoalmente em questões de programação de software já há anos.
Gates mesmo já havia expressado algum tempo atrás a sua opinião de que Ozzie "é um dos cinco melhores programadores do universo", e revelou que ele e Ballmer estavam interessados em convencê-lo a trabalhar para a Microsoft havia mais de uma década.
Para o mundo externo, a competência de Ozzie como programador é conhecida principalmente por meio do Lotus Notes, o software de e-mail e colaboração profissional cujo desenvolvimento ele dirigiu e que terminou adquirido pela IBM em 1995. É difícil, hoje, compreender o impacto que o Notes exerceu sobre o mundo do software, especialmente porque o produto, desde que a IBM o adquiriu, perdeu a liderança desse mercado para o pacote de aplicativos Outlook, da Microsoft. Mas, como diz um dos executivos da empresa, o produto de Ozzie, que antedatava o uso em massa da internet, era um conceito radical, ainda que alguns aspectos de seu desenvolvimento tivessem deixado a desejar. O Notes foi fruto de anos de observação pessoal, e indica o estilo apaixonado de liderança que é a marca de Ozzie. Desde suas primeiras experiências com a computação, na Universidade de Illinois, no começo da década de 70, o trabalho dele segue um único rumo: usar software para tornar mais fácil a comunicação e a colaboração entre os trabalhadores.

Pressa por inovações
Ozzie não pretende jogar fora as visões de desenvolvimento integrado de software em larga escala que sempre foram a marca da Microsoft. Para grandes projetos de software como sistemas operacionais, ele diz, os clientes só estão dispostos a aceitar lançamentos ocasionais de novos produtos.
Mas depois que assumiu papel-chave na empresa, no terceiro trimestre do ano passado, ele vem pressionando por inovação mais rápida em outras áreas, com a criação de produtos menos ambiciosos que atendam a necessidades estreitas mas bem definidas -uma abordagem semelhante à que ele adotou na Groove.
"Nós conseguíamos realizar muito trabalho, com pequeno número de funcionários e em prazo relativamente curto", disse ele em entrevista pouco depois de começar na Microsoft no ano passado. "Gerar uma resposta tecnológica em tempo curto é fundamentalmente uma questão de liderança. Começo meu trabalho olhando de fora: o que definirá o sucesso quando o produto final for distribuído? Se você não tiver idéias muito claras, terminará com um processo muito longo ou um produto não realizará aquilo que você desejava."


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