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Indústria sofisticada exporta menos e perde produtividade
Já a fatia das vendas externas de bens industriais com menos tecnologia cresceu de 59,9% para 61,1%
Economista vê "esclerose
precoce" na indústria; áreas
com mais tecnologia viram
as vendas externas caírem
durante o ano passado
DA REPORTAGEM LOCAL
Os setores industriais mais
sofisticados também são os que
vêm perdendo mais espaço nas
exportações brasileiras. Além
disso, amargam perdas de produtividade ano a ano.
"Quanto mais empobrecida a
cadeia produtiva industrial,
com menor valor agregado,
mais alta a produtividade hoje",
afirma o economista Marcio
Pochmann, da Unicamp. Para
ele, a indústria nacional sofre
de "esclerose precoce".
Com base nos mesmos dados
do IBGE, sua conclusão é que a
indústria de baixo valor agregado viu sua produtividade aumentar cerca de 18% entre
2000 e 2005.
Já a evolução da produtividade dos setores de alto valor
agregado foi negativa em 17,6%.
Isso indica que são hoje os setores menos sofisticados os que,
proporcionalmente, mais investem e que têm ganhos maiores na produção.
Empregos e exportações
Os setores de baixa tecnologia, no entanto, pagam salários
bem menores. Mais recentemente, foram justamente eles
que aceleraram as contratações. Na indústria da construção civil, por exemplo, 2007 já
acumula saldo positivo de 75,2
mil postos de trabalho formais
(4,8%). Em 12 meses, são 115
mil vagas (7,6%).
Tendência semelhante vem
ocorrendo no setor sucroalcooleiro, que puxou para cima em
maio o nível de emprego da indústria de transformação paulista. No mês passado, o setor
gerou 24 mil vagas.
Já na indústria de maior valor agregado, os salários pagos
ao pessoal ocupado tiveram o
maior encolhimento -queda
de 8,6% ao logo da primeira
metade da década.
Entre 2005 e 2006, seguindo
a mesma tendência da produção interna, a participação das
exportações de bens com mais
tecnologia no total das vendas
externas da indústria também
caiu -de 40,1% para 38,9%.
Já a fatia das exportações de
bens industriais de "média-baixa" ou "baixa" tecnologia cresceu -de 59,9% para 61,1%.
Segundo estudo da consultoria MB Associados, o Brasil
vem perdendo ano a ano vantagens comparativas em suas exportações em relação ao resto
do mundo justamente nos produtos manufaturados e de
maior valor agregado.
No setor de commodities,
principalmente de carnes bovinas e de minério de ferro, o movimento é inverso.
Problema acentuado
"É uma tendência que já existia antes da depreciação do dólar, já que outros emergentes,
como a China, têm custos de
produção e tributários menores, além de infra-estrutura
melhor. A depreciação do câmbio só acentuou um problema
que já tínhamos", diz Sérgio
Vale, da MB Associados.
A desvalorização do dólar é
hoje produto tanto da alta taxa
de juros básica do Brasil (que
atrai dólares de fora) quanto do
aumento das exportações de
produtos básicos, como commodities agrícolas e minerais.
Elas mantêm elevados os saldos comerciais, apesar do forte
aumento das importações.
As importações maiores têm
levado até mesmo setores de
menor valor agregado, como o
têxtil, a sofrer fortes perdas.
"Há uma desindustrialização
em curso", afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil,
representante de um setor que
espera perder 280 mil empregos neste ano.
(FERNANDO CANZIAN)
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