São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

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Indústria sofisticada exporta menos e perde produtividade

Já a fatia das vendas externas de bens industriais com menos tecnologia cresceu de 59,9% para 61,1%

Economista vê "esclerose precoce" na indústria; áreas com mais tecnologia viram as vendas externas caírem durante o ano passado

DA REPORTAGEM LOCAL

Os setores industriais mais sofisticados também são os que vêm perdendo mais espaço nas exportações brasileiras. Além disso, amargam perdas de produtividade ano a ano.
"Quanto mais empobrecida a cadeia produtiva industrial, com menor valor agregado, mais alta a produtividade hoje", afirma o economista Marcio Pochmann, da Unicamp. Para ele, a indústria nacional sofre de "esclerose precoce".
Com base nos mesmos dados do IBGE, sua conclusão é que a indústria de baixo valor agregado viu sua produtividade aumentar cerca de 18% entre 2000 e 2005.
Já a evolução da produtividade dos setores de alto valor agregado foi negativa em 17,6%. Isso indica que são hoje os setores menos sofisticados os que, proporcionalmente, mais investem e que têm ganhos maiores na produção.

Empregos e exportações
Os setores de baixa tecnologia, no entanto, pagam salários bem menores. Mais recentemente, foram justamente eles que aceleraram as contratações. Na indústria da construção civil, por exemplo, 2007 já acumula saldo positivo de 75,2 mil postos de trabalho formais (4,8%). Em 12 meses, são 115 mil vagas (7,6%).
Tendência semelhante vem ocorrendo no setor sucroalcooleiro, que puxou para cima em maio o nível de emprego da indústria de transformação paulista. No mês passado, o setor gerou 24 mil vagas.
Já na indústria de maior valor agregado, os salários pagos ao pessoal ocupado tiveram o maior encolhimento -queda de 8,6% ao logo da primeira metade da década.
Entre 2005 e 2006, seguindo a mesma tendência da produção interna, a participação das exportações de bens com mais tecnologia no total das vendas externas da indústria também caiu -de 40,1% para 38,9%.
Já a fatia das exportações de bens industriais de "média-baixa" ou "baixa" tecnologia cresceu -de 59,9% para 61,1%.
Segundo estudo da consultoria MB Associados, o Brasil vem perdendo ano a ano vantagens comparativas em suas exportações em relação ao resto do mundo justamente nos produtos manufaturados e de maior valor agregado.
No setor de commodities, principalmente de carnes bovinas e de minério de ferro, o movimento é inverso.

Problema acentuado
"É uma tendência que já existia antes da depreciação do dólar, já que outros emergentes, como a China, têm custos de produção e tributários menores, além de infra-estrutura melhor. A depreciação do câmbio só acentuou um problema que já tínhamos", diz Sérgio Vale, da MB Associados.
A desvalorização do dólar é hoje produto tanto da alta taxa de juros básica do Brasil (que atrai dólares de fora) quanto do aumento das exportações de produtos básicos, como commodities agrícolas e minerais. Elas mantêm elevados os saldos comerciais, apesar do forte aumento das importações.
As importações maiores têm levado até mesmo setores de menor valor agregado, como o têxtil, a sofrer fortes perdas. "Há uma desindustrialização em curso", afirma Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil, representante de um setor que espera perder 280 mil empregos neste ano. (FERNANDO CANZIAN)


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