São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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LEILÃO
Mais da metade das 27 áreas ofertadas não recebeu lance; Petrobras lidera compra de blocos, com 42% do que foi vendido
Encalhe marca as licitações do petróleo

ISABEL CLEMENTE
SERGIO TORRES
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio



Mais da metade das áreas levadas a leilão pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) nos últimos dois dias encalhou. Das 27 áreas ofertadas para exploração e produção de petróleo na primeira rodada de licitações, 15 não receberam lances.
O encalhe e os ágios na casa dos milhares foram as marcas do leilão, que introduziu dez novas empresas, além da Petrobras, no setor petrolífero brasileiro.
A arrecadação superou o previsto: chegou a R$ 321,6 milhões. É mais do que dobro do que a agência projetava no ano passado (R$ 150 milhões).
A expectativa da diretoria da ANP, antes do início dos leilões, era conseguir concessionários para pelo menos 20 áreas. A meta não foi alcançada, mas segundo a avaliação final da agência, do Ministério das Minas e Energia e de empresas participantes, o processo todo foi um sucesso.
Com o fim do monopólio da Petrobras, gigantes do mercado internacional como Shell, British Petroleum e Amerada Hess passam a operar no mercado de exploração e produção de petróleo.
Também adquiriram concessões para exploração, sozinhas ou em parceria, as empresas Agip, YPF, Esso, Texaco, Kerr McGee, Unocal e British-Borneo.
"É diferente leiloar empresas do setor elétrico e áreas de risco", disse o ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia), ao comentar o resultado das licitações.
A Petrobras liderou o ranking dos maiores investidores. Sozinha ou em parceria, levou 5 áreas, 42% das 12 áreas arrematadas no leilão.A italiana Agip teve participações em quatro áreas. Foi a responsável pelo maior ágio do leilão, 53.565%, oferecido anteontem, por uma área da bacia de Santos. Ontem, levou, com ágio de 20.300%, uma das áreas mais disputadas, na bacia de Campos (ver matéria nesta página).
O diretor-geral da ANP, David Zylbersztajn, se disse "surpreso com a sobra de áreas. Isso realmente contrariou as expectativas iniciais. Mas hoje não temos mais monopólio do petróleo. Isso é o que importa."
Zylbersztajn criticou com dureza a atuação de grande parte das empresas estrangeiras no leilão. As grandes empresas falaram muito e agiram pouco. Muitas não tiveram a ousadia que disseram que teriam", afirmou.
Questionado sobre a frequência com que a Petrobras arrematou áreas, Zylbersztajn foi além nas críticas aos estrangeiros.
"A Petrobras está entrando nesse processo de licitação e foi competente para isso. Acho que os outros é que foram frouxos. A Petrobras entrou para ganhar. A crítica, se for o caso, vale para quem não entrou", afirmou.
A ausência do capital nacional também "chateou", segundo Zylbersztajn.
A maior parte das áreas concedidas está localizada em águas profundas, tendência que já tinha sido apontada pela ANP.
A agência reguladora anunciou alternativas para os próximos processos de licitações. As empresas poderão, por exemplo, conseguir que a ANP licite uma área se demonstrarem interesse, ainda que a concessão não esteja planejada.
Poderá ser viabilizada a exploração de pequenos poços no país, como há no Texas, Estados Unidos, o que atrairia empresas de menor porte, segundo a ANP.
O clima eufórico do primeiro dia de leilão, provocado pelo alto ágio oferecido pela Agip, foi substituído, ontem à tarde, por um ambiente de frustração.
Diretores da ANP e empresários se diziam satisfeitos com o leilão e negavam que o encalhe "tenha representado uma ducha de água fria" no processo de abertura do setor petrolífero brasileiro.
O presidente da Shell no Brasil, David Pirret, considerou as licitações profissionais e transparentes. O consultor Jean Paul Prates diz que o sucesso do leilão não pode ser dado pelo número de áreas concedidas.
Mas a realidade mostrava uma situação bem diferente no saguão do hotel Sheraton (zona sul do Rio). À tarde, nenhuma das sete áreas oferecidas no leilão receberam ofertas.
Da arrecadação obtida com o leilão, R$ 41 milhões ficam com a ANP. O resto do dinheiro vai para o Tesouro Nacional.
As 27 áreas representavam 2% das bacias sedimentares brasileiras (áreas potencialmente produtoras, tanto no mar quanto em terra). A Petrobrás detém 7% do total da área das bacias sedimentares, cuja área é de 6,2 milhões de quilômetros quadrados.


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