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LEILÃO
Mais da metade das 27 áreas ofertadas não recebeu lance; Petrobras lidera compra de blocos, com 42% do que foi vendido
Encalhe marca as licitações do petróleo
ISABEL CLEMENTE
SERGIO TORRES
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Mais da metade das áreas levadas
a leilão pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) nos últimos dois
dias encalhou. Das 27 áreas ofertadas para exploração e produção de
petróleo na primeira rodada de licitações, 15 não receberam lances.
O encalhe e os ágios na casa dos
milhares foram as marcas do leilão, que introduziu dez novas empresas, além da Petrobras, no setor
petrolífero brasileiro.
A arrecadação superou o previsto: chegou a R$ 321,6 milhões. É
mais do que dobro do que a agência projetava no ano passado (R$
150 milhões).
A expectativa da diretoria da
ANP, antes do início dos leilões,
era conseguir concessionários para pelo menos 20 áreas. A meta não
foi alcançada, mas segundo a avaliação final da agência, do Ministério das Minas e Energia e de empresas participantes, o processo
todo foi um sucesso.
Com o fim do monopólio da Petrobras, gigantes do mercado internacional como Shell, British Petroleum e Amerada Hess passam a
operar no mercado de exploração
e produção de petróleo.
Também adquiriram concessões
para exploração, sozinhas ou em
parceria, as empresas Agip, YPF,
Esso, Texaco, Kerr McGee, Unocal
e British-Borneo.
"É diferente leiloar empresas do
setor elétrico e áreas de risco", disse o ministro Rodolpho Tourinho
(Minas e Energia), ao comentar o
resultado das licitações.
A Petrobras liderou o ranking
dos maiores investidores. Sozinha
ou em parceria, levou 5 áreas, 42%
das 12 áreas arrematadas no leilão.A italiana Agip teve participações em quatro áreas. Foi a responsável pelo maior ágio do leilão,
53.565%, oferecido anteontem,
por uma área da bacia de Santos.
Ontem, levou, com ágio de
20.300%, uma das áreas mais disputadas, na bacia de Campos (ver
matéria nesta página).
O diretor-geral da ANP, David
Zylbersztajn, se disse "surpreso
com a sobra de áreas. Isso realmente contrariou as expectativas
iniciais. Mas hoje não temos mais
monopólio do petróleo. Isso é o
que importa."
Zylbersztajn criticou com dureza
a atuação de grande parte das empresas estrangeiras no leilão. As
grandes empresas falaram muito e
agiram pouco. Muitas não tiveram
a ousadia que disseram que teriam", afirmou.
Questionado sobre a frequência
com que a Petrobras arrematou
áreas, Zylbersztajn foi além nas
críticas aos estrangeiros.
"A Petrobras está entrando nesse
processo de licitação e foi competente para isso. Acho que os outros
é que foram frouxos. A Petrobras
entrou para ganhar. A crítica, se
for o caso, vale para quem não entrou", afirmou.
A ausência do capital nacional
também "chateou", segundo
Zylbersztajn.
A maior parte das áreas concedidas está localizada em águas profundas, tendência que já tinha sido
apontada pela ANP.
A agência reguladora anunciou
alternativas para os próximos processos de licitações. As empresas
poderão, por exemplo, conseguir
que a ANP licite uma área se demonstrarem interesse, ainda que a
concessão não esteja planejada.
Poderá ser viabilizada a exploração de pequenos poços no país, como há no Texas, Estados Unidos, o
que atrairia empresas de menor
porte, segundo a ANP.
O clima eufórico do primeiro dia
de leilão, provocado pelo alto ágio
oferecido pela Agip, foi substituído, ontem à tarde, por um ambiente de frustração.
Diretores da ANP e empresários
se diziam satisfeitos com o leilão e
negavam que o encalhe "tenha representado uma ducha de água
fria" no processo de abertura do
setor petrolífero brasileiro.
O presidente da Shell no Brasil,
David Pirret, considerou as licitações profissionais e transparentes.
O consultor Jean Paul Prates diz
que o sucesso do leilão não pode
ser dado pelo número de áreas
concedidas.
Mas a realidade mostrava uma
situação bem diferente no saguão
do hotel Sheraton (zona sul do
Rio). À tarde, nenhuma das sete
áreas oferecidas no leilão receberam ofertas.
Da arrecadação obtida com o leilão, R$ 41 milhões ficam com a
ANP. O resto do dinheiro vai para
o Tesouro Nacional.
As 27 áreas representavam 2%
das bacias sedimentares brasileiras (áreas potencialmente produtoras, tanto no mar quanto em terra). A Petrobrás detém 7% do total
da área das bacias sedimentares,
cuja área é de 6,2 milhões de quilômetros quadrados.
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