São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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G8 acata posição brasileira e pede conclusão de negociações na OMC

Comunicado cobra esforço de países-membros para obter acordo em um mês

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO

O G8 emitiu comunicado incisivo ontem cobrando seus países-membros a "concentrar esforços" para concluir dentro de um mês as negociações em curso na OMC (Organização Mundial do Comércio) para a liberalização do comércio mundial.
Com isso, o grupo das oito nações mais poderosas do mundo espera romper o impasse que dura cinco anos e acata posição defendida pelo Brasil.
"Incitamos todos [os países] a concentrar esforços para trabalhar com a máxima urgência na conclusão da rodada [de negociações] até o final de 2006", afirmou o documento. "A rodada deve chegar a um real corte de tarifas [de importação], nos subsídios [agrícolas] e a um aumento nos níveis de comércio."
O comunicado surpreendeu até mesmo as autoridades brasileiras ao pedir que as negociações sejam concluídas em um mês. Se isso ocorrer, os países terão até o final do ano para trabalhar nos detalhes do acordo.
O documento é uma vitória para o Brasil e demais países em desenvolvimento convidados para a reunião do G8 (que reúne EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá, Japão e Rússia) em São Petersburgo.
A agenda central do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro era justamente pressionar por posição firme do G8 pedindo o corte dos subsídios agrícolas, principalmente por EUA e União Européia.
Lula reuniu-se ontem com os líderes de África do Sul, Índia, China, Congo e México para discutir o assunto.
"Estou convencido de que, se não houver decisão política dos presidentes e dos primeiros-ministros, dificilmente nós teremos um acordo. O problema não é mais econômico, é político", disse Lula em entrevista depois do comunicado do G8.
Sobre o prazo de 30 dias, afirmou: "Mesmo que fosse mais um dia. Se a cúpula do G8 entende que é preciso dar 30 dias para se chegar a um acordo, significa que estão querendo fazer um acordo. Esse é um passo importante porque havia até ontem a expectativa de que não haveria negociação", disse.
O comunicado do G8 não significa, no entanto, que haverá avanços. Pode ser apenas o resultado de uma reunião que marcou novas reuniões.
Em outubro do ano passado, o presidente dos EUA, George W. Bush, ofereceu um corte de até 54% nos subsídios agrícolas concedidos a agricultores de seu país. Em ano de eleições legislativas nos EUA, Bush terá de confrontar interesses para melhorar a proposta. A UE e países do G20 (grupo de 20 países em desenvolvimento) defendem que os EUA reduzam os subsídios para US$ 12 bilhões ao ano, o que os norte-americanos não querem.
Por outro lado, a União Européia já sinalizou que a região pode elevar os cortes de 39% para 51% nas tarifas de importações para produtos agrícolas.
Para o Brasil, a Europa tem ainda que detalhar a proposta e definir se ela se aplicará a produtos que interessam ao Brasil.
Um dos principais objetivos do acordo seria eliminar os subsídios agrícolas às exportações até 2013. A contrapartida de países como o Brasil viria com maior abertura de mercados para produtos industriais.
Sobre críticas de empresários paulistas à maior abertura do mercado, Lula disse que não pensa em "nenhuma categoria empresarial", mas "no país e no comércio".
O G8 também considerou "bem-vindos os esforços" da Rússia em negociar a entrada na OMC. Apesar de esta ter sido uma prioridade do país, Rússia e EUA não se entenderam após quatro dias de negociações. O maior obstáculo teria sido, mais uma vez, a área agrícola.


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