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G8 acata posição brasileira e pede
conclusão de negociações na OMC
Comunicado cobra esforço de países-membros para obter acordo em um mês
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO
O G8 emitiu comunicado incisivo ontem cobrando seus
países-membros a "concentrar
esforços" para concluir dentro
de um mês as negociações em
curso na OMC (Organização
Mundial do Comércio) para a
liberalização do comércio
mundial.
Com isso, o grupo das oito
nações mais poderosas do
mundo espera romper o impasse que dura cinco anos e acata
posição defendida pelo Brasil.
"Incitamos todos [os países]
a concentrar esforços para trabalhar com a máxima urgência
na conclusão da rodada [de negociações] até o final de 2006",
afirmou o documento. "A rodada deve chegar a um real corte
de tarifas [de importação], nos
subsídios [agrícolas] e a um aumento nos níveis de comércio."
O comunicado surpreendeu
até mesmo as autoridades brasileiras ao pedir que as negociações sejam concluídas em um
mês. Se isso ocorrer, os países
terão até o final do ano para trabalhar nos detalhes do acordo.
O documento é uma vitória
para o Brasil e demais países
em desenvolvimento convidados para a reunião do G8 (que
reúne EUA, Alemanha, Reino
Unido, França, Itália, Canadá,
Japão e Rússia) em São Petersburgo.
A agenda central do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no encontro era justamente
pressionar por posição firme
do G8 pedindo o corte dos subsídios agrícolas, principalmente por EUA e União Européia.
Lula reuniu-se ontem com os
líderes de África do Sul, Índia,
China, Congo e México para
discutir o assunto.
"Estou convencido de que, se
não houver decisão política dos
presidentes e dos primeiros-ministros, dificilmente nós teremos um acordo. O problema
não é mais econômico, é político", disse Lula em entrevista
depois do comunicado do G8.
Sobre o prazo de 30 dias, afirmou: "Mesmo que fosse mais
um dia. Se a cúpula do G8 entende que é preciso dar 30 dias
para se chegar a um acordo, significa que estão querendo fazer
um acordo. Esse é um passo importante porque havia até ontem a expectativa de que não
haveria negociação", disse.
O comunicado do G8 não significa, no entanto, que haverá
avanços. Pode ser apenas o resultado de uma reunião que
marcou novas reuniões.
Em outubro do ano passado,
o presidente dos EUA, George
W. Bush, ofereceu um corte de
até 54% nos subsídios agrícolas
concedidos a agricultores de
seu país. Em ano de eleições legislativas nos EUA, Bush terá
de confrontar interesses para
melhorar a proposta. A UE e
países do G20 (grupo de 20 países em desenvolvimento) defendem que os EUA reduzam
os subsídios para US$ 12 bilhões ao ano, o que os norte-americanos não querem.
Por outro lado, a União Européia já sinalizou que a região
pode elevar os cortes de 39%
para 51% nas tarifas de importações para produtos agrícolas.
Para o Brasil, a Europa tem
ainda que detalhar a proposta e
definir se ela se aplicará a produtos que interessam ao Brasil.
Um dos principais objetivos
do acordo seria eliminar os
subsídios agrícolas às exportações até 2013. A contrapartida
de países como o Brasil viria
com maior abertura de mercados para produtos industriais.
Sobre críticas de empresários paulistas à maior abertura
do mercado, Lula disse que não
pensa em "nenhuma categoria
empresarial", mas "no país e no
comércio".
O G8 também considerou
"bem-vindos os esforços" da
Rússia em negociar a entrada
na OMC. Apesar de esta ter sido
uma prioridade do país, Rússia
e EUA não se entenderam após
quatro dias de negociações. O
maior obstáculo teria sido,
mais uma vez, a área agrícola.
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