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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Rachados, bancários iniciam 1ª negociação sob Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira negociação salarial dos bancários desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um racha entre os funcionários do Banco do Brasil, tradicional reduto petista, por onde passaram autoridades graduadas do atual governo.
O conflito teve início com a decisão, tomada por sindicalistas do BB e da Caixa Econômica Federal -com o apoio da CNB (Confederação Nacional dos Bancários), entidade filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores)-, de unificar a negociação salarial de empregados de bancos públicos e privados.
Até o ano passado, as conversas eram feitas em separado, com a definição de reajustes diferenciados para cada grupo de trabalhadores. Por esse motivo, há diferença nos reajustes concedidos a bancários de instituições públicas e privadas nos últimos anos, com prejuízo para os primeiros. Então, a unificação pode ser interessante ao governo do ponto de vista econômico -fica mais difícil aos funcionários dos bancos oficiais pedirem reajuste extra.
As críticas a essa unificação partem da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil), para quem a decisão prejudica uma das principais reivindicações do funcionalismo público, que é a reposição de perdas ocorridas nos últimos anos.
A associação dos empregados do BB é presidida por Valmir Camilo, filiado ao PPS.
Das cinco pessoas que fazem parte da diretoria-executiva da Anabb, apenas uma é filiada ao PT. As demais se dividem entre PPS (dois diretores), PDT e PSDB.
Ainda assim, o BB guarda fortes laços com o PT. O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) e o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR) são dois exemplos de ex-funcionários do banco que hoje ocupam posições de destaque do governo -após as eleições, chegaram a ser cotados para ocupar a presidência da instituição.
Já a associação dos funcionários da Caixa é mais identificada com o PT, partido do presidente da Fenae (Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa), José Carlos Alonso Gonçalves.
Gonçalves chegou a trabalhar com Berzoini quando o atual ministro ainda militava no sindicato dos bancários de São Paulo.

Estimativa de perdas
Citando dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), a Anabb informa que, entre 1994 e 2002, os funcionários do BB tiveram um reajuste de 54,79%, contra 126,67% de aumento concedido pelos bancos privados no mesmo período. Para que a situação fosse equiparada, o BB precisaria conceder um aumento de 55,42% a seus empregados.
A Anabb diz que a unificação é um meio de o governo não repor as perdas salariais e não se desgastar com isso.
"O PT sempre foi contra a unificação da negociação. Agora que é governo, diz que é a favor. Desse jeito, o governo pode simplesmente não repor as perdas e dizer que só não concedeu um reajuste maior aos servidores porque os banqueiros não deixaram", diz a diretora de comunicação da associação, Cecília Garcez.
Ela afirma que a formação de uma mesa única de negociação foi uma decisão "política", consequência da ligação dos sindicalistas com o PT.
Cecília Garcez diz que a unificação das negociações praticamente acaba com as chances de o reajuste adicional ser concedido, pois, para os bancos federais darem um aumento de 55,42%, o setor privado precisaria concordar em dar o mesmo reajuste a seus empregados.
A CNB, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que a unificação das negociações foi decidida em assembléia, de acordo com o que está previsto no estatuto da instituição.
A mesa única de negociação dos bancários conta ainda com apoio dos funcionários da Caixa Econômica Federal. A Fenae diz concordar com a decisão da CNB e afirma que a unificação dá mais força à categoria na mesa de negociação. A idéia seria justamente evitar que ocorram fatos como os do passado, quando bancos privados concederam reajustes menores do que os públicos.
Segundo a Fenae, os empregados dos bancos federais não serão prejudicados com a decisão, pois a reposição das perdas deverá ser discutida em separado, após a negociação do dissídio.
Os empregados da Caixa não tiveram nenhum reajuste entre 1997 e 2001. No ano passado, o aumento foi de 5%, contra 7% concedidos pela iniciativa privada.
A primeira rodada de negociações entre a CNB, a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e representantes do BB e da CEF aconteceu na semana passada. A Fenaban, entidade ligada à Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), faz as negociações salariais em nome dos bancos. Os bancários reivindicam um reajuste salarial pelo ICV (Índice do Custo de Vida, calculado pelo Dieese), que, nos últimos 12 meses, acumula alta de 17,28%.
Os bancos ainda não fizeram uma contraproposta oficial, mas dizem que o aumento deveria ser decidido com base na expectativa de inflação futura, e não nos índices passados -tese que já foi defendida, em outras ocasiões, pelo Banco Central.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)

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