São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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Economistas pedem aperto maior

DA REPORTAGEM LOCAL

A manutenção do crescimento brasileiro vai demandar uma receita amarga, porém já conhecida: corte de gastos, aumento do superávit primário, atenção às metas de inflação e redução da relação entre a dívida líquida e o PIB (Produto Interno Bruto).
Sem esses instrumentos, o Brasil corre o risco de ver o princípio do seu ciclo de expansão econômica interrompido.
"A política fiscal do governo Lula tem ido bem e o atual crescimento também a tem ajudado, mas, daqui para a frente, o Brasil tem que ter uma política fiscal mais sólida", afirmou Leonardo Leiderman, ex-diretor-gerente do Departamento de Pesquisas do Banco de Israel. Leiderman foi um dos economistas que participaram de seminário sobre política fiscal organizado pelo Ibmec, ontem, em São Paulo.
Apesar dos elogios, o israelense fez um alerta. "Há ainda muitas vulnerabilidades. Temos a possibilidade de aumento da taxa de juros do Fed [banco central dos EUA] e de desaceleração da economia global, principalmente no Japão e na União Européia."
Segundo ele, as eleições presidenciais no México, em 2006, também podem ser um foco de tensão política que pode "contaminar" a percepção do mercado sobre a América Latina.
O coro de defesa da política fiscal foi engrossado por Márcio Garcia, professor de economia da PUC-Rio. Em sua apresentação, o acadêmico afirmou que há uma probabilidade elevada de que a relação dívida/PIB ultrapasse patamares como 75%, por exemplo.
As sugestões de política econômica propostas por Garcia passam por corte de gastos governamentais e preocupação com a formação de "novos esqueletos". No jargão econômico, esqueleto significa dívidas ainda não conhecidas ou aceitas e que também podem advir de sentenças judiciais.

Sem fórmula mágica
Para Affonso Pastore, da A.C. Pastore e Associados, o aumento da meta anual de superávit primário -hoje acordada em 4,25% do PIB com o FMI (Fundo Monetário Internacional)- é um caminho de médio e longo prazo para reduzir a relação dívida/PIB, considerada um dos fardos da economia brasileira.
Mas, para Pastore, não há um instrumento de políticas fiscal, monetária ou cambial de curto prazo que assegure um crescimento sustentável. "Há quem defenda um câmbio de R$ 4 para aumentar as exportações e gerar mais crescimento. É imediatismo. Isso não vai gerar um crescimento sustentável e ainda pode ter um efeito contracionista nos passivos dolarizados das empresas brasileiras", disse o economista.
(CÍNTIA CARDOSO)


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