São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Analistas recomendam evitar pânico

Investidor que precisará do dinheiro logo deve resgatar aplicação que mantém na Bolsa e colocar no DI, dizem especialistas

No ano, Bovespa mantém ganho de 7,96%, acima dos fundos DI, que somaram valorização de 7,12%; dólar ainda tem perda, de 2,01%

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor que deixou a Bovespa ontem pontualmente às 14h05, no pior momento do dia, perdeu em menos de três horas o investimento acumulado praticamente em todo o ano em um fundo DI -às 14h05, a Bovespa desabava 8,82%. Já quem aguardou até o final do dia para sair amargou uma perda ainda alta, mas consideravelmente menor, de 2,58%.
Manter o "sangue-frio" ontem na Bolsa representou a diferença entre um retorno no ano de 7,96% ou de 1,04%. Os fundos DI, a aplicação brasileira de menor risco, somavam ontem um rendimento bruto de 7,12% no ano, pouco menor do que os 7,96% da Bovespa. Vale lembrar que, até o dia 19 de julho, a mesma Bovespa tinha retorno anual de 30,69%, e que, desde a piora no cenário internacional, recuou 17,27%.
Analistas e consultores de investimentos pessoais ouvidos pela Folha afirmam aquilo que muitos investidores não querem ouvir: em momentos de pânico, o melhor é não fazer nada. "Quem estiver muito nervoso é melhor não fazer nada agora. A chance de fazer algo errado e quebrar a cara é alta", disse Fábio Colombo, administrador independente de investimentos.
Colombo lembra que a Bovespa subiu 380% de dezembro de 2002 até julho deste ano, pouco antes da crise. "Nenhuma empresa ganhou isso nesse período. Então, significa que o otimismo foi além do justificado. Quem investe na Bolsa tem de saber disso", disse.
"O investidor deve decidir qual o seu papel nesse teatro: é um especulador ou investidor de longo prazo? Se é especulador deve cair fora, e agora. Quem é investidor de longo prazo, ao contrário. Deve se manter firme e aproveitar os exageros para comprar quando o mercado ficar melhor. Daqui a pouco podem aparecer oportunidades", disse Mauro Halfeld, consultor de finanças pessoais.
Colombo e Halfeld afirmam que quem pretende utilizar o dinheiro deixado na Bolsa em médio e curto prazos deve pensar seriamente em retirar pelo menos o quanto vai precisar e colocar num fundo DI. "Pode ser que a pessoa saia na baixa, mas é o preço. Se for investimento de longo prazo, não precisa mexer, é só deixar lá", disse Colombo.
Colombo, que não sugere a nenhum investidor pôr mais de 20% de seu dinheiro em ações, afirma inclusive que a baixa na Bovespa trouxe oportunidades de compra de ações baratas. "Mas isso é para quem diversificou ou vendeu gradativamente as ações que tiveram lucro. Aquele fulano que colocou tudo na Bolsa está com um dilema. Vai ter de tomar uma decisão: realizar prejuízo ou diminuir o lucro", disse.
Halfeld afirma que o investidor deve sempre ter uma reserva em fundo DI, que funciona como uma "gordura" para amortecer perdas nesses momentos de pânico na Bolsa. "Hoje, você vê pessoas de mãos frágeis entregando papéis bons para pessoas de mão firme. Historicamente, as pessoas que compram em períodos de crise costumam ganhar muito. No mercado, é preciso comprar no inferno para chegar ao paraíso. Mas não é agora o melhor momento de comprar. É melhor esperar para ver a evolução da crise", disse.
Para Halfeld, os momentos de crise são importantes para autoconhecimento do investidor. "Muita gente não tem estômago para passar por esses momentos. Então é melhor cair fora e voltar em um investimento que tenha a ver com a sua cabeça, como um fundo DI", disse.
Para a professora Andrea Minardi, do Ibmec-SP, os mercados desabaram ontem por conta de um "excesso de pessimismo", que induziu a um "efeito manada" de venda de ações. "Estava demorando [a queda nos mercados], mas agora o pessimismo chegou ao extremo. [A baixa] Faz parte do jogo e serve para corrigir o excesso de otimismo que levou a avaliações erradas. Mas não tivemos uma mudança no Brasil capaz de afetar consideravelmente o cenário de crescimento, então o mercado deve melhorar", disse Minardi.


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