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GLOBALIZAÇÃO
Em resposta ao desemprego, prolifera no país o número de fábricas administradas por funcionários
Crise leva indústrias a virar cooperativas
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
Vítimas da globalização, indústrias dos mais diversos setores estão se transformando em cooperativas de produção e organizando
no país uma da forma de trabalho
experimentada nos países da Europa a partir do século passado.
Como resposta à crise enfrentada pelas empresas e ao desemprego, prolifera no Brasil o número
de fábricas geridas por funcionários. Os setores calçadista e têxtil
deram início ao processo em 92.
Agora já existem cooperativas de
produção nos ramos moveleiro,
metalúrgico, extração mineral,
máquinas, transporte, plástico,
químico, vidro, agroindústria etc.
A Anteag (Associação Nacional
dos Trabalhadores em Empresas
de Autogestão e Participação
Acionária) surgiu há quatro anos
para organizar e orientar essas
cooperativas e associações.
Hoje são 41 sócias espalhadas pelo país, com aproximadamente 10
mil empregados. O faturamento
previsto para 98 é de cerca de R$
215 milhões. A venda tem crescido
cerca de 5% a 10% ao ano.
"Nós surgimos com a crise. Recebo pelo menos um telefonema
por dia de patrão ou empregado
querendo transformar a fábrica
em cooperativa ou associação",
diz Aparecido Benedito de Faria,
diretor técnico da Anteag.
Na cooperativa, o trabalhador
possui cotas e tem retirada mensal
de acordo com a função. Na associação, ele tem carteira assinada e
está sob às normas da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A expansão das cooperativas de
produção surpreendeu, diz Faria,
a ponto de a Anteag estar encabeçando um movimento para ter
uma legislação específica para as
empresas de autogestão.
A Anteag está tentando agendar
encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso para
apresentar proposta de tratamento diferenciado para as cooperativas e as associações de produção.
Nos Estados Unidos, conta, as leis
que protegem esse modelo de produção datam de 74. "Nós defendemos a cooperativa autogestionária. Mas ainda há restrições de
trabalhadores que querem carteira
assinada por causa da legislação."
Segundo ele, há casos de empresas em que a produtividade por
trabalhador e o salário subiram
30% depois da transformação da
fábrica em cooperativa.
Um exemplo é a Coopertex
(Cooperativa Autogestionária Industrial de Trabalhadores Têxteis), localizada em São Paulo.
A Coopertex é a antiga Indústria
Têxtil Delta, fabricante de fitas
elásticas para confecções e calçados. O antigo proprietário da Delta, Daniel Adler, doou a fábrica, os
equipamentos e as dívidas tributárias, de R$ 2 milhões, para os funcionários. "Ele não fez um mau
negócio e nós estamos indo bem",
diz Geraldo José Perutti, presidente da Coopertex, que trabalhou 14
anos na Delta e está há dois anos
na Coopertex.
Segundo ele, o salário dos trabalhadores aumentou até 30% e a
cooperativa conseguiu melhorar a
qualidade e a produtividade da fábrica, que faz cerca de 3 milhões
de metros lineares de fitas por mês
(R$ 400 mil).
A Delta, conta Perutti, não investia em modernização há seis
anos e desde que se transformou
em cooperativa já recebeu quatro
máquinas novas. As encomendas
estão no mínimo se mantendo. O
lucro líquido sobre o faturamento
varia entre 10% e 15%.
A Coopertex dispõe de um conselho de administração e de um
conselho fiscal (que audita as contas da empresa). Tem 84 cooperados. "Esse é um modelo de produção que só tende a crescer, pois
é uma forma de manter emprego e
renda", diz Perutti. Segundo ele,
após as eleições deve diminuir o
ritmo de operação das fábricas, o
que pode resultar no surgimento
de mais cooperativas de produção.
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