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AVIAÇÃO
Diretor do órgão diz que legislação não impediria concentração decorrente de falência ou associação
Lei não restringe fusão no ar, diz DAC
ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio
A concentração do mercado nacional de empresas aéreas nas
mãos de uma companhia não será impedida pela lei, se isso acontecer em decorrência da falência
ou da associação de empresas
menores. O cenário descrito é
uma das possibilidades consideradas viáveis pelo DAC (Departamento de Aviação Civil), órgão
responsável pela fiscalização do
ramo.
Qualquer eventual associação
de empresas no país, bem como a
formação de um consórcio para
operar vôos internacionais, dependem do aval do DAC.
O diretor-geral do órgão, o tenente-brigadeiro Marcos Antônio de Oliveira, 61, diz que os
usuários não seriam prejudicados
se as atuais grandes companhias
-Varig, Vasp, Transbrasil e
TAM- se reduzissem a duas.
Sobre a concentração do mercado, o brigadeiro explica: a portaria do antigo Ministério da Aeronáutica sobre o tema dá uma brecha ao considerar que, "em princípio", a participação de uma
companhia no mercado não deve
superar 50%.
Em entrevista à Folha, o brigadeiro comentou ainda a discussão
sobre a participação de grupos estrangeiros no capital de companhias aéreas nacionais -tese da
qual discorda.
Folha - Como o DAC chegou
aos 2,9% como sugestão de reajuste das tarifas aéreas (proposta encaminhada ao Ministério
da Fazenda)?
Marcos Antônio de Oliveira
-Medimos o impacto da alta do
combustível e da variação cambial na estrutura de custos das
empresas. O peso aproximado
do combustível é de 15%. Elas
realmente precisam de um realinhamento de 2,9%.
Folha - Essa recuperação não
passaria antes pelo enxugamento de custos?
Oliveira - Isso é muito claro. Na
pior das hipóteses, para sobreviver, as empresas têm que equilibrar despesas e receitas. Como é
difícil manipular a demanda, têm
que mexer nas ofertas e nos custos. É a tarefa que mais dói, porque treinar uma tripulação custa
dinheiro e enxugamento sempre
passa por corte de pessoal. Outra
forma é economizar em tudo, até
em lanche de bordo.
Folha - A guerra tarifária deflagrada em 98 foi um erro?
Oliveira - Pode não ter sido um
erro, mas um excesso de audácia
das empresas num momento em
que viviam crise aguda. Estão todos conscientes de que não foi
bom fazer aquela guerra de tarifas. Elas estão agora se ajustando.
Várias companhias suspenderam
linhas para retomá-las num momento de demanda maior. O cancelamento das promoções faz
parte desse momento em que estamos vendo impactos diversos
nos insumos da aviação.
Folha - Uma das hipóteses cogitadas pelos próprios executivos do ramo e o governo para
fortalecer as empresas é reduzir
o número de companhias operando em rotas internacionais,
com o fim da sobreposição de
vôos oferecidos por elas. O DAC
está incentivando isso?
Oliveira - O DAC, na CLA (Comissão de Linhas Aéreas, da qual
as empresas participam), tem
mostrado aos empresários os fatores envolvidos nos pedidos de
linhas. Hoje, na realidade, as empresas estão encolhendo. O ajuste
de rotas será feito pelo mercado.
O Estado não deve intervir nesse
assunto além das questões que
envolvem a proteção do usuário.
Imagino que todos os empresários já tenham feito suas avaliações sobre qual o melhor empreendimento para eles, se é comprar, vender ou se fundir. O mercado está com disposição para
discutir o assunto. Pena que pouco se fale sobre as outras 19 empresas de transporte regular do
país. São companhias nacionais,
autorizadas a voar, que, embora
não tenham uma participação tão
expressiva, são importantes para
manter o regime de competição.
Folha - A portaria que limita a
50% a participação de uma
companhia no mercado nacional não restringe as associações
(só a Varig tem mais de 46% do
mercado nacional, diz o DAC)?
Oliveira - O próprio DAC está
analisando como ficaria o mercado com três empresas ou com
duas. E a conclusão é que não muda nada para o usuário. Vamos
supor o seguinte: temos quatro
grandes companhias, aí três resolvem diminuir suas ofertas até o
ponto em que a outra sozinha,
dona de 35% do mercado, por
exemplo, cresça para mais de
60%. Não podemos obrigar essa
que não reduziu a encolher. Por
isso que a portaria diz que a participação de uma empresa ou de
uma associação na oferta autorizada não deverá ser, em princípio,
superior a 50%, porque pode
acontecer isso que estou dizendo.
Outra situação: três empresas
decretam falência. Uma vai ficar
com 100% do mercado. Quem é
que quer colocar o seu dinheiro lá
para evitar falências? Temos que
criar condições de as empresas se
fortalecerem. Não podemos, de
maneira nenhuma, imaginar que
se deve fazer benesse com o dinheiro público para salvar empresas privadas, ainda que seja um
setor estratégico. O governo tem é
a obrigação de criar as condições.
Se as empresas aéreas vão tomar
empréstimos no BNDES, têm que
chegar lá como outra qualquer e
dar ativos em garantias.
Folha - Aumentar as passagens não vai excluir os passageiros conquistados pela guerra
tarifária?
Oliveira - Se as empresas estão
se aproximando das tarifas
cheias, é porque elas concluíram
que o passageiro que voa neste
período do ano em determinadas
rotas pagará a passagem com ou
sem promoção. As promoções
podem ser retomadas depois. Por
exemplo, eu não tenho como viajar agora com a minha família,
mas o empresário tem que viajar.
Se o usuário paga de qualquer forma, por que fazer promoção?
Folha - O limite para a participação de grupos estrangeiros
no capital das empresas nacionais é, para muitos empresários,
uma restrição a possíveis parcerias estratégicas. O DAC é contra
aumentar essa participação?
Oliveira - O funcionário público
só tem a obrigação de cumprir a
lei e a lei hoje determina que 20%
é o máximo. No mercado internacional, a participação estrangeira
em empresas de aviação nunca
passa de 25%. Estamos alinhados.
Além do mais, esse tipo de investimento aqui encontra vários obstáculos, como lucro limitado e
impostos elevados. Pode não ser
negócio um investidor estrangeiro comprar demais de uma companhia nacional.
Folha - O raciocínio pode ser o
inverso: o estrangeiro não entra
porque teria nenhum ou muito
pouco direito de voto.
Oliveira - É investimento de
muito risco.
Folha - Mas é um investimento
na economia real, não é uma especulação. O empresário pode
achar que o negócio vai mal por
estar mal dirigido.
Oliveira - Você tem razão, em
parte. O simples direito de manipular as empresas na situação
atual em que elas estão operaria
um milagre? A quantidade de dinheiro para conseguir a posição
de mando valeria a pena? As empresas grandes que podem fazer
isso, como as norte-americanas,
não estão muito interessadas no
mercado brasileiro.
Folha - Hoje há grupos estrangeiros entrando nos mais variados setores ditos estratégicos
da economia. Telecomunicações, por exemplo. O ramo não
é mais do governo nem está totalmente nas mãos de empresários brasileiros.
Oliveira - Mas há muita controvérsia em relação à privatização
das nossas empresas. Existem
pessoas que simplesmente não
toleram o fato de ter visto banco
brasileiro dando empréstimo para estrangeiros comprar nosso
patrimônio. Vamos falar de uma
empresa vitoriosa, que é a Embraer. O processo de privatização
não vendeu um centavo para o capital estrangeiro. Conseguimos
manter um controle relativo sobre a empresa, que vai muito bem
no mercado internacional.
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