São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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AGROFOLHA

Saca que custa R$ 30 foi vendida por R$ 18 em junho

Alta do dólar gera atrito na comercialização de trigo

DA REDAÇÃO

A comercialização do trigo no mercado interno está gerando atritos neste ano. Os produtores do Paraná, o principal Estado produtor, fizeram vendas antecipadas de trigo em junho a R$ 18 por saca. Receberam o dinheiro correspondente ao volume de produto e se comprometeram a entregar o trigo neste final de safra.
As quebras externa e interna de produção, somadas à alta do dólar, empurraram os preços atuais da saca de trigo para R$ 30. Os produtores que fizeram esses contratos em junho se recusam a entregar o produto a R$ 18. Os produtores alegam que houve quebra de safra e que não têm o produto para entregar.
As cooperativas e os cerealistas que pagaram a esses produtores em junho dizem que também têm compromissos com os moinhos e que não podem negociar sozinhos uma alteração do contrato. Para os moinhos, "contratos são contratos", mas temem que ações unilaterais prejudiquem as negociações nas próximas safras.
O mercado diverge sobre o volume de negociações antecipadas. Para a Ocepar (a organização das cooperativas do Paraná), o percentual fica entre 6% e 10%, mas engloba varias modalidades de negociações.
Outros analistas acreditam que pelo menos 20% da safra prevista de 4 milhões de toneladas -e que deverá cair para cerca de 3 milhões- foi negociada antecipadamente.

Acertos
As cooperativas, as que mais fizeram negociações antecipadas, dizem que o volume é pequeno. Fontes do mercado, no entanto, afirmam que as principais cooperativas do Estado chegaram a fazer contratos de até 50 mil toneladas.
Luiz Yamashita, gerente do Departamento Comercial da Cooperativa Integrada, do norte do Paraná, diz que esses contratos envolvem múltiplas situações, e que produtores, cooperativas e moinhos vão chegar a um acordo.
O mercado realmente está fazendo acertos. Uma das grandes compradoras de trigo no Paraná está pagando 60% do trigo contratado em junho pelo preço atual e os outros 40% pelo preço de R$ 18 por saca. É uma maneira de não haver quebra de contrato, caso contrário ninguém mais acreditaria nesse instrumento nos próximos anos, segundo um diretor da empresa.
Para Flávio Turra, da gerência técnica da Ocepar, o mercado está encontrando uma saída e as negociações são feitas caso a caso. Se não houver bom senso, as indústrias podem perder o fornecedor, diz ele.
Mário Venturelli, do Moinho Globo Indústrias e Comércio Ltda., diz que não deve haver quebra de confiança no setor exatamente no momento em que o país começa a dar maior importância à produção de trigo.

Sementes melhores
Após anos de pesquisa, a Embrapa começa a colocar sementes de qualidade que poderão gerar maiores produtividade e rentabilidade no setor, diz ele.
Todos estão de acordo que o Brasil deveria produzir um volume maior de trigo. Atualmente o país é totalmente dependente da Argentina, de onde vem 95% do trigo importado.
A Argentina, no entanto, está diminuindo a produção. Assim como no Brasil, a soja é muito atraente para os agricultores daquele país, que estão trocando parte das áreas de trigo pela oleaginosa.
No ano passado, os argentinos plantaram 7,5 milhões de hectares com trigo. Neste ano, as projeções são de 6 milhões a 6,5 milhões de hectares. Algumas estimativas mais pessimistas indicam área inferior a 6 milhões de hectares.


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