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AGROFOLHA
Saca que custa R$ 30 foi vendida por R$ 18 em junho
Alta do dólar gera atrito na comercialização de trigo
DA REDAÇÃO
A comercialização do trigo no
mercado interno está gerando
atritos neste ano. Os produtores
do Paraná, o principal Estado
produtor, fizeram vendas antecipadas de trigo em junho a R$ 18
por saca. Receberam o dinheiro
correspondente ao volume de
produto e se comprometeram a
entregar o trigo neste final de safra.
As quebras externa e interna de
produção, somadas à alta do dólar, empurraram os preços atuais
da saca de trigo para R$ 30. Os
produtores que fizeram esses
contratos em junho se recusam a
entregar o produto a R$ 18. Os
produtores alegam que houve
quebra de safra e que não têm o
produto para entregar.
As cooperativas e os cerealistas
que pagaram a esses produtores
em junho dizem que também têm
compromissos com os moinhos e
que não podem negociar sozinhos uma alteração do contrato.
Para os moinhos, "contratos são
contratos", mas temem que ações
unilaterais prejudiquem as negociações nas próximas safras.
O mercado diverge sobre o volume de negociações antecipadas.
Para a Ocepar (a organização das
cooperativas do Paraná), o percentual fica entre 6% e 10%, mas
engloba varias modalidades de
negociações.
Outros analistas acreditam que
pelo menos 20% da safra prevista
de 4 milhões de toneladas -e que
deverá cair para cerca de 3 milhões- foi negociada antecipadamente.
Acertos
As cooperativas, as que mais fizeram negociações antecipadas,
dizem que o volume é pequeno.
Fontes do mercado, no entanto,
afirmam que as principais cooperativas do Estado chegaram a fazer contratos de até 50 mil toneladas.
Luiz Yamashita, gerente do Departamento Comercial da Cooperativa Integrada, do norte do Paraná, diz que esses contratos envolvem múltiplas situações, e que
produtores, cooperativas e moinhos vão chegar a um acordo.
O mercado realmente está fazendo acertos. Uma das grandes
compradoras de trigo no Paraná
está pagando 60% do trigo contratado em junho pelo preço atual
e os outros 40% pelo preço de R$
18 por saca. É uma maneira de
não haver quebra de contrato, caso contrário ninguém mais acreditaria nesse instrumento nos
próximos anos, segundo um diretor da empresa.
Para Flávio Turra, da gerência
técnica da Ocepar, o mercado está
encontrando uma saída e as negociações são feitas caso a caso. Se
não houver bom senso, as indústrias podem perder o fornecedor,
diz ele.
Mário Venturelli, do Moinho
Globo Indústrias e Comércio
Ltda., diz que não deve haver quebra de confiança no setor exatamente no momento em que o país
começa a dar maior importância
à produção de trigo.
Sementes melhores
Após anos de pesquisa, a Embrapa começa a colocar sementes
de qualidade que poderão gerar
maiores produtividade e rentabilidade no setor, diz ele.
Todos estão de acordo que o
Brasil deveria produzir um volume maior de trigo. Atualmente o
país é totalmente dependente da
Argentina, de onde vem 95% do
trigo importado.
A Argentina, no entanto, está
diminuindo a produção. Assim
como no Brasil, a soja é muito
atraente para os agricultores daquele país, que estão trocando
parte das áreas de trigo pela oleaginosa.
No ano passado, os argentinos
plantaram 7,5 milhões de hectares
com trigo. Neste ano, as projeções
são de 6 milhões a 6,5 milhões de
hectares. Algumas estimativas
mais pessimistas indicam área inferior a 6 milhões de hectares.
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