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LUÍS NASSIF
O nacionalismo e a segurança
Nos EUA, uma pequena
empresa de tecnologia
conseguiu desenvolver um
identificador eletrônico de impressão digital. Imediatamente, conquistou uma encomenda de US$ 1 milhão do Pentágono.
No Brasil, a pequena Griaule
-empresa incubada na Unicamp- desenvolveu um sistema de identificação digital em
larga escala, que foi considerado o oitavo melhor do mundo
pelo Nist (uma espécie de Inmetro ampliado dos EUA). Foram 30 dias de processamento
contínuo nos Estados Unidos,
com um sistema de "clusters"
cedido pela Itautec.
O que ela ganhou? Nada. A
Polícia Federal adquiriu por
US$ 39 milhões um sistema
francês de identificação digital.
Era o módulo inicial, que permite armazenar apenas 5 milhões de digitais. Se quiser estender para o país inteiro, serão mais US$ 500 milhões. Depois da saída de Luiz Eduardo
Soares do Ministério da Justiça, há uma orientação para
que as polícias de todos os Estados adquiram a solução francesa. É um pálido exemplo da
falta de sintonia entre as políticas industriais do governo e a
falta de definição para o sistema de compras e de financiamento.
A Griaule começou seu negócio com um financiamento de
R$ 80 mil da Finep -que saiu
após dois anos de análise. Desenvolvido o sistema, conseguiu entrar em alguns Estados
e vender para empresas privadas. Todo o sistema de identificação digital do Poupatempo é
dela, assim como os sistemas de
Tocantins e de outros Estados.
Quando a Polícia Federal
abriu a licitação, o sistema
nem sequer foi considerado.
Queria-se um sistema de Primeiro Mundo. Aí a empresa
aproveitou uma ida a Washington, em um evento com o
Nist, e apresentou o produto
para certificação no FBI. O órgão solicitou os testes ao Nist, e
a empresa foi habilitada a fornecer ao FBI. Nem isso demoveu a PF de sua decisão. A encomenda piloto da PF está sendo transformada, agora, em
uma compra quase obrigatória
para que as polícias estaduais
se integrem ao sistema de segurança único pensado. Todo o
sistema de identificação nacional estará dependendo de tecnologia externa.
Como é que se faz? Se se consegue o produto inovador, não
há capital de giro. O financiamento para pesquisas ou está
disponível para a academia ou
para grandes empresas. Adota-se um modelo invertido do poder de compra do Estado. Nos
EUA, há uma política para
aquisição preferencial de pequenas empresas sediadas no
país. No Brasil, a opção é pelo
"Primeiro Mundo", independentemente da análise técnica
dos sistemas nacionais.
O nacionalismo não consiste
apenas em paradas militares.
Há que implementar uma política de compras efetiva. Para
evitar o uso de licitações de sistemas para jogadas -como
tem ocorrido com freqüência
em quase todos os níveis de governo-, poderia se criar um
sistema de certificação, tipo do
Nist, a ser aplicado pelo Inmetro. E as empresas nacionais
certificadas não poderiam ser
alijadas de licitações públicas.
O próprio presidente da República compareceu à solenidade em que a PF inaugurou
seu equipamento francês
-certamente por falta de informação. Mas é uma prova de
que o nacionalismo ainda é
uma posição muito mais retórica do que efetiva.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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