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SOCORRO DIVINO
Paróquia de santa Edwiges, em SP, recebe menos cestas básicas
Igreja dos endividados amarga falta de doações
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
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Desempregados e devotos se reúnem para missa de santa Edwiges, na zona sul de São Paulo |
MAELI PRADO
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A igreja de santa Edwiges, padroeira dos pobres e endividados,
tem sofrido as consequências do
mesmo problema que faz seus
fiéis a procurarem. As dificuldades da economia reduziram o número de doações à paróquia localizada na zona sul de São Paulo, ao
lado de Heliópolis, uma das maiores favelas da América Latina.
Tradicionalmente, em 16 de outubro, dia da santa, a igreja atrai
centenas de desafortunados. Em
um ano de desemprego recorde e
centavos contados, a expectativa é
que uma multidão de 25 mil fiéis
compareça até domingo ao santuário. São 10 mil a mais do que o
verificado nos corredores da igreja em 2002.
"Esperávamos menos devotos
neste ano. A inadimplência está
mais estável, e os consumidores
estão empenhados em limpar o
nome na praça", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Antes da crise, diz o padre Alexandre Alves dos Anjos Filho, vigário paroquial, a igreja distribuía
600 cestas básicas por mês.
Hoje, com a queda do poder
aquisitivo dos fiéis -que estão
doando menos-, são 400 cestas.
"A situação é precária. Quanto
mais a necessidade aumenta, menos temos para doar", afirmou.
É por isso que a igreja vem se organizando para tentar incrementar as doações. Barraquinhas vendendo produtos -como um CD
cantado pelo coral Canto Pastoral
de São Paulo, que conta a história
da santa- e comidas ajudam a
arrecadar fundos para a manutenção da Osse (Obra Social Santa
Edwiges).
Ambulantes
As missas também atraem a cada ano mais e mais ambulantes,
que se aglomeram nas calçadas
vendendo produtos que oferecem
uma saída rápida para as dívidas e
falta de emprego, como os bilhetes de loteria.
Entre os ambulantes está Maria
da Silva, 38, moradora de Heliópolis, que pretende ganhar cerca
de R$ 60 por dia nesta semana.
Três filhos, divorciada, ela afirma
precisar da ajuda divina para encarar as dificuldades.
"Já preenchi muitas fichas para
tentar um emprego como faxineira, mas é muita concorrência."
Chorando, subindo as escadas
da pequena igreja de joelhos ou
carregando velas, os fiéis agradeciam ontem a bênçãos recebidas e
clamavam por milagres.
A santa
Edwiges, que nasceu em 1174 na
Bavária, região da hoje Alemanha, é a "escolhida" para essas
preces porque, casada com o duque da Silésia (região da Polônia),
ajudava as famílias de presidiários
que não conseguiam pagar suas
dívidas com senhores feudais.
É o auxílio que a aposentada Lídia Rodrigues, 55, pedia para o filho: "Ele está devendo, e não é
pouca coisa, não".
Até setembro, a ACSP recebeu
2,7 milhões de registros de pessoas com carnês e contas em atraso. O volume é menor do que o registrado em igual período de 2002
(2,8 milhões). Ainda cresceu o número de registros cancelados de
pessoas no vermelho.
Além de limpar o nome, os devotos pediam ajuda para conseguir um emprego. Durante as
missas que aconteceram ao longo
do dia, muitos erguiam suas carteiras de trabalho para serem
abençoadas. Todo dia, às 15h, a
igreja organiza uma missa pelos
desempregados. "Faz uns dez meses que a minha mulher decidiu
voltar para a casa dos pais, porque
ela também estava desempregada. Venho à igreja todos os dias",
relata Zenito Barbosa Silva, 57, há
quatro anos "em casa".
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