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LUÍS NASSIF
Saúde e desenvolvimento
O país corre dois tipos de
risco se for aberto o precedente de incluir no orçamento
da Saúde despesas de outras
áreas -como o Fome Zero.
O primeiro é colocar em risco
a própria saúde brasileira. As
despesas com pessoal, Aids, vacinas e medicamentos estratégicos são elevadas e rígidas. Os
investimentos são baixos em
relação ao custeio do SUS. Os
hospitais filantrópicos e Santas
Casas -os que mais dependem do SUS- já estão em crise
aberta.
Ao incluir o combate à pobreza no orçamento da Saúde,
na prática tiram-se R$ 4 bilhões, que significarão cortes
dramáticos nas despesas do setor. O conceito de que combater a fome é melhorar a saúde,
no limite, poderá ser estendido
até a Polícia Federal, que, ao
combater as drogas, está indiretamente melhorando a saúde.
A emenda constitucional
aprovada há três anos -definindo limites de gastos com
saúde- prevê que as despesas
deveriam acompanhar o PIB
nominal. Ou seja, apenas compensar a inflação. A idéia era
que Estados e municípios comprometessem 15% das receitas
disponíveis até 2004. A maioria
dos municípios está próxima
ou ultrapassou esse percentual.
Para depois de 2004, quando
conclui a "escadinha", a emenda remeteu a regulamentação
para uma lei complementar,
capaz de dar mais flexibilidade
às vinculações.
O segundo risco é em relação
ao próprio desenvolvimento
brasileiro. Os únicos indicadores que melhoraram na década
foram os sociais, educação e
saúde, e isso graças à vinculação de receitas. A crítica à vinculação é praticada por pessoas que vêem o país por meio
da visão financeira de curtíssi-
mo prazo, essa mescla de populismo de obras com visão primária de mercado.
Ph.D. pelo Departamento de
Economia da Universidade
Columbia, em Nova York,
Paulo Tenani lançou recentemente o livro "Human Capital
and Growth" ("Capital Humano e Crescimento"), pela editora M.Books.
Nele, analisa o papel do capital humano no processo de desenvolvimento sustentado,
questão formulada pela primeira vez por Hirofumi Uzawa, em 1961. Em 1988, Robert
Lucas, da Universidade de Chicago, publicou estudo relevante sobre o tema, que, desde então, passou a ser analisado sob
diversos prismas.
O estudo de Tenani visa comprovar que o acúmulo de capital humano talvez seja tão importante quanto o de capital físico como forma de gerar crescimento. Com isso, tenta desmistificar a idéia de que capital
humano -e investimentos em
educação e saúde- esteja ligado apenas ao campo social, e
não também ao campo econômico.
Desde meados da década de
50, o Brasil vem tentando crescer por meio da utilização de
um único insumo de produção
-capital físico- e direcionando suas políticas econômicas exclusivamente para o
maior acúmulo, a melhor alocação e a maior produtividade
desse insumo. Investimentos
em capital humano -educação, treinamento ou cursos
profissionalizantes- são tão
essenciais quanto investimentos em capital fixo. E talvez,
por esse motivo, educação (e
saúde) tenha sido sempre o foco de políticas sociais -e nunca de políticas econômicas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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