UOL


São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÊMICA

Projeto de cientistas do Reino Unido mostra que canola e beterraba provocam efeitos negativos na vida selvagem

Transgênico prejudica ambiente, diz estudo

MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA

O jornal britânico "The Guardian" estava certo quando adiantou, há 15 dias, os resultados dos maiores estudos de campo sobre os efeitos ambientais de alguns organismos geneticamente modificados: pelo menos em dois (canola e beterraba) dos três casos específicos estudados, eles prejudicam a vida selvagem. No caso do milho, há benefício, mas já se discute se esse resultado particular pode ser considerado válido.
Uma bateria de oito artigos foi publicada ontem pela revista científica "Philosophical Transactions B" (www.pubs.royalsoc. ac.uk/FSEresults), da Real Sociedade, a academia de ciências do Reino Unido. São 138 páginas de informações técnicas colhidas em 60 campos de cultivo espalhados por aquele país, um projeto que custou 6 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 9,6 milhões).
Todos os três vegetais estudados eram resistentes a herbicidas: a canola e a beterraba são imunes ao glifosato (a mesma substância associada com a soja transgênica brasileira) e o milho é resistente ao glufosinato. Ou seja, seu DNA foi enxertado com genes antes inexistentes nas espécies para que os vegetais passassem a tolerar esses dois venenos de plantas, cuja função é matar ervas daninhas.
Graças à resistência assim adquirida pelos vegetais, os campos podem ser tratados com os herbicidas mesmo quando as plantas de cultivo já emergiram. O veneno só mata as ervas daninhas.
Os estudos investigaram unicamente o efeito dos três sistemas transgênicos sobre as populações de ervas daninhas e de invertebrados (insetos e lesmas, por exemplo) nos campos e na sua vizinhança. Elas foram comparadas com as de terrenos de mesmo tamanho e no mesmo local, nos quais as mesmas culturas foram plantadas pelo método convencional (ou seja, variedades não-transgênicas).
Não foram, portanto, examinados outros efeitos atribuídos aos transgênicos, como danos para a saúde humana e poluição genética (transferência dos transgenes para outros organismos).
Verificou-se, como seria de esperar, uma população diminuída de ervas daninhas nos campos de canola e beterraba. Mais que isso, sobraram 20% menos sementes de ervas na terra depois da colheita. Isso quer dizer que a quantidade dessas ervas tende a diminuir nas gerações seguintes, afetando populações de outros organismos que delas se alimentam, como insetos, caracóis e passarinhos.
No caso do milho, o efeito foi oposto: cresceu a população de ervas. Adversários dos transgênicos já criticam esse resultado, alegando que o plantio convencional de milho usado para comparação foi tratado com um produto muito agressivo, a atrazina, que está para ser banido na UE.


Com agências internacionais


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Ministério alerta produtores sobre data para assinar Termo de Conduta
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.