São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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BENJAMIN STEINBRUCH

Discussão envergonhada


Pessoas que sempre defenderam a desestatização passaram a ter receio de manter suas posições

O TEMA da privatização entrou envergonhado na discussão eleitoral. De uma hora para outra, pessoas que sempre defenderam a desestatização como forma de dar mais eficiência a setores produtivos e de serviços passaram a ter receio de manter suas posições.
No debate do dia 8 da TV Bandeirantes, o candidato Geraldo Alckmin enfatizou que não pretende privatizar Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal ou Correios. E chamou de mentirosos os que espalham essa informação.
Entende-se a veemência de Alckmin. Afinal, ele jamais havia manifestado essa intenção. Quando se analisa o processo de privatização brasileiro como um todo, não permanece dúvida de que houve sucesso. É necessário reconhecer que a venda de estatais introduziu eficiência e modernidade na economia do país. A maioria das empresas leiloadas dava prejuízo ao governo, pagava poucos impostos, era cabide de empregos e carregava enormes passivos.
Uma das privatizações mais importantes dos inicio dos anos 1990 foi a da Companhia Siderúrgica Nacional. No governo Collor, a ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello chegou a pensar em fechá-la, porque sua operação se tornara totalmente inviável. Antes da privatização, a CSN dava prejuízo equivalente a R$ 1 milhão por dia aos cofres públicos. Tive o privilégio de participar do leilão dessa siderúrgica, em 1993, no governo Itamar Franco, e de trabalhar para transformá-la em uma das mais eficientes usinas integradas do mundo.
Na área da telefonia, a privatização também trouxe inegáveis avanços. Em meados de 1998, quando o Sistema Telebrás foi desestatizado, existiam no Brasil 15 milhões de telefones fixos. Os brasileiros esperavam anos por uma linha. Era um privilégio tão caro -um telefone chegava a custar mais de US$ 5.000- que a linha entrava até na relação de bens nas declarações de Imposto de Renda das pessoas físicas. Hoje, temos 42 milhões de linhas fixas e mais 95 milhões de celulares. Há ainda muitas reclamações de consumidores a respeito do funcionamento do serviço, mas estamos a anos-luz de distância daquele precário sistema pré-privatização.
Tive também o privilégio de liderar o time vencedor na privatização da Vale do Rio Doce, em leilão na Bolsa do Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1997. Embora não integre mais hoje o grupo controlador dessa companhia, em razão do descruzamento dos capitais da CSN e da Vale, continuo a achar que, de qualquer ângulo que se olhe, a privatização dessa mineradora foi um êxito. O impacto positivo do ajuste feito pela administração privada que assumiu a Vale logo após a compra foi fundamental para colocá-la no rumo do crescimento e maior lucratividade.
Aquela operação foi um sucesso porque tornou possível, naquele momento, realizar um verdadeiro sonho: manter a Vale privatizada e brasileira. O consórcio vencedor do leilão foi liderado pela CSN e não usou um centavo de dinheiro público. Hoje, a Vale voltou a ter uma forte participação dos fundos e de capital estrangeiro.
Não resta nenhuma dúvida sobre a oportunidade das privatizações. Elas têm sido boas para o governo, que arrecada mais impostos; para os acionistas, que aumentam seus lucros; e para o país como um todo, que ganha empresas brasileiras privadas de grande porte e competitivas no ambiente global. As privatizações dão mais eficiência à atividade produtiva e liberam o setor público para realizar suas ações precípuas, nas áreas de educação, saúde e infra-estrutura.
Privatizações transparentes e de sucesso, portanto, deveriam servir de exemplo para o país. É um despropósito que, em meio à campanha eleitoral para a Presidência, ganhem peso idéias retrógradas antiprivatizantes, a despeito dos inúmeros exemplos concretos que contrariam essas teses em vários países do mundo. Tendo participado diretamente da maioria dos leilões de privatização no Brasil e até vencido alguns deles, mantenho a convicção de que privatizar com seriedade continua sendo um bom caminho, sempre que preservados os interesses estratégicos nacionais.


BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br


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