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BENJAMIN STEINBRUCH
Discussão envergonhada
Pessoas que sempre
defenderam a desestatização
passaram a ter receio de
manter suas posições
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O TEMA da privatização entrou
envergonhado na discussão
eleitoral. De uma hora para
outra, pessoas que sempre defenderam a desestatização como forma de
dar mais eficiência a setores produtivos e de serviços passaram a ter receio de manter suas posições.
No debate do dia 8 da TV Bandeirantes, o candidato Geraldo Alckmin enfatizou que não pretende privatizar Petrobras, Banco do Brasil,
Caixa Econômica Federal ou Correios. E chamou de mentirosos os
que espalham essa informação.
Entende-se a veemência de Alckmin. Afinal, ele jamais havia manifestado essa intenção. Quando se
analisa o processo de privatização
brasileiro como um todo, não permanece dúvida de que houve sucesso. É necessário reconhecer que a
venda de estatais introduziu eficiência e modernidade na economia do
país. A maioria das empresas leiloadas dava prejuízo ao governo, pagava poucos impostos, era cabide de
empregos e carregava enormes passivos.
Uma das privatizações mais importantes dos inicio dos anos 1990
foi a da Companhia Siderúrgica Nacional. No governo Collor, a ministra da Economia Zélia Cardoso de
Mello chegou a pensar em fechá-la,
porque sua operação se tornara totalmente inviável. Antes da privatização, a CSN dava prejuízo equivalente a R$ 1 milhão por dia aos cofres
públicos. Tive o privilégio de participar do leilão dessa siderúrgica, em
1993, no governo Itamar Franco, e
de trabalhar para transformá-la em
uma das mais eficientes usinas integradas do mundo.
Na área da telefonia, a privatização também trouxe inegáveis avanços. Em meados de 1998, quando o
Sistema Telebrás foi desestatizado,
existiam no Brasil 15 milhões de telefones fixos. Os brasileiros esperavam anos por uma linha. Era um privilégio tão caro -um telefone chegava a custar mais de US$ 5.000-
que a linha entrava até na relação de
bens nas declarações de Imposto de
Renda das pessoas físicas. Hoje, temos 42 milhões de linhas fixas e
mais 95 milhões de celulares. Há
ainda muitas reclamações de consumidores a respeito do funcionamento do serviço, mas estamos a anos-luz de distância daquele precário
sistema pré-privatização.
Tive também o privilégio de liderar o time vencedor na privatização
da Vale do Rio Doce, em leilão na
Bolsa do Rio de Janeiro, em 6 de
maio de 1997. Embora não integre
mais hoje o grupo controlador dessa
companhia, em razão do descruzamento dos capitais da CSN e da Vale,
continuo a achar que, de qualquer
ângulo que se olhe, a privatização
dessa mineradora foi um êxito. O
impacto positivo do ajuste feito pela
administração privada que assumiu
a Vale logo após a compra foi fundamental para colocá-la no rumo do
crescimento e maior lucratividade.
Aquela operação foi um sucesso
porque tornou possível, naquele
momento, realizar um verdadeiro
sonho: manter a Vale privatizada e
brasileira. O consórcio vencedor do
leilão foi liderado pela CSN e não
usou um centavo de dinheiro público. Hoje, a Vale voltou a ter uma forte participação dos fundos e de capital estrangeiro.
Não resta nenhuma dúvida sobre
a oportunidade das privatizações.
Elas têm sido boas para o governo,
que arrecada mais impostos; para os
acionistas, que aumentam seus lucros; e para o país como um todo,
que ganha empresas brasileiras privadas de grande porte e competitivas no ambiente global. As privatizações dão mais eficiência à atividade
produtiva e liberam o setor público
para realizar suas ações precípuas,
nas áreas de educação, saúde e infra-estrutura.
Privatizações transparentes e de
sucesso, portanto, deveriam servir
de exemplo para o país. É um despropósito que, em meio à campanha
eleitoral para a Presidência, ganhem
peso idéias retrógradas antiprivatizantes, a despeito dos inúmeros
exemplos concretos que contrariam
essas teses em vários países do mundo. Tendo participado diretamente
da maioria dos leilões de privatização no Brasil e até vencido alguns
deles, mantenho a convicção de que
privatizar com seriedade continua
sendo um bom caminho, sempre
que preservados os interesses estratégicos nacionais.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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