São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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Reservas internacionais atingem recorde

Com a política de compra de dólares adotada pelo governo, montante depositado no BC vai a US$ 75 bi, o maior da história

Para Banco Central, proteção contra turbulência externa compensa o custo financeiro de acumular recursos em moeda estrangeira

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As reservas internacionais do Brasil chegaram na sexta-feira passada a US$ 74,954 bilhões, valor mais alto desde 1970, início da série estatística mantida pelo Banco Central.
O recorde anterior era de abril de 1998 -no final daquele mês, as reservas em moeda estrangeira do governo chegaram a US$ 74,656 bilhões.
O recente crescimento registrado pelas reservas reflete as compras de dólares que o Banco Central tem feito no mercado doméstico de câmbio, aproveitando o fluxo positivo de capital estrangeiro registrado no país. Entre janeiro de 2004 e setembro último, essas aquisições somaram US$ 51,7 bilhões -sendo US$ 24,9 bilhões registrados nos primeiros nove meses deste ano.
Os recursos depositados nas reservas internacionais podem ser usados em operações como pagamento da dívida externa do governo e intervenções do BC no câmbio. Em tese, um volume grande de reservas ajuda a proteger o país contra crises internacionais, pois auxilia o governo a manter o valor da moeda local.
Em 1998, porém, as reservas internacionais do Brasil estavam próximas do nível atual -e até maiores como proporção da economia nacional- e não foram suficientes para sustentar o sistema de câmbio controlado, em que a cotação do dólar era mantida próxima de R$ 1 pelo Banco Central. Entre maio e dezembro daquele ano, as reservas se reduziram em US$ 40 bilhões -gastos em intervenções no câmbio-, e em janeiro de 1999 o governo se viu obrigado a adotar o regime de câmbio flutuante, o que abriu espaço para uma maxidesvalorização do real.
Entretanto, o Brasil tem hoje a vantagem de possuir uma dívida externa menor do que em 1998. No final daquele ano, segundo o BC, as reservas internacionais equivaliam a 19,9% de todo o endividamento externo do país -incluindo compromissos do governo e do setor privado. Em junho passado, essa proporção estava em 40%.
Além disso, a dívida externa líquida do governo federal está, hoje, praticamente zerada -ou seja, o valor do endividamento é equivalente ao saldo das reservas internacionais.

Custo
Essa política de acumulação de reservas tem seu custo. Para comprar dólares no mercado de câmbio, o Banco Central precisa de reais -e esses reais são obtidos por meio de aumento da dívida interna.
A dívida interna, por sua vez, é corrigida, em grande parte, pela taxa básica de juros da economia, a Selic, que hoje está em 14,25% ao ano. O BC gastou R$ 53,785 bilhões entre janeiro e setembro deste ano para comprar dólares no mercado. Se esse valor fosse corrigido pela atual taxa de juros, isso representaria um custo anual de mais de R$ 7 bilhões para os cofres do governo.
Entre os prós e contras, o BC tem optado por manter as aquisições de dólares para aumentar cada vez mais as reservas. Para a diretoria do BC, não seria necessária a manutenção de um nível muito elevado de reservas caso, por exemplo, o FMI (Fundo Monetário Internacional) oferecesse a seus membros uma linha de crédito emergencial que pudesse ser usada em momentos de crise -reivindicação antiga do governo brasileiro.
Enquanto isso não acontece, porém, o BC prefere continuar comprando dólares. Na visão da instituição, os custos inerentes a essa política seriam equivalentes ao pagamento de uma espécie de seguro contra eventuais turbulências dos mercados internacionais.


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