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Reservas internacionais atingem recorde
Com a política de compra de dólares adotada pelo governo, montante depositado no BC vai a US$ 75 bi, o maior da história
Para Banco Central, proteção contra turbulência externa compensa o custo financeiro de acumular recursos em moeda estrangeira
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As reservas internacionais do
Brasil chegaram na sexta-feira
passada a US$ 74,954 bilhões,
valor mais alto desde 1970, início da série estatística mantida
pelo Banco Central.
O recorde anterior era de
abril de 1998 -no final daquele
mês, as reservas em moeda estrangeira do governo chegaram
a US$ 74,656 bilhões.
O recente crescimento registrado pelas reservas reflete as
compras de dólares que o Banco Central tem feito no mercado doméstico de câmbio, aproveitando o fluxo positivo de capital estrangeiro registrado no
país. Entre janeiro de 2004 e
setembro último, essas aquisições somaram US$ 51,7 bilhões
-sendo US$ 24,9 bilhões registrados nos primeiros nove meses deste ano.
Os recursos depositados nas
reservas internacionais podem
ser usados em operações como
pagamento da dívida externa
do governo e intervenções do
BC no câmbio. Em tese, um volume grande de reservas ajuda
a proteger o país contra crises
internacionais, pois auxilia o
governo a manter o valor da
moeda local.
Em 1998, porém, as reservas
internacionais do Brasil estavam próximas do nível atual -e
até maiores como proporção da
economia nacional- e não foram suficientes para sustentar
o sistema de câmbio controlado, em que a cotação do dólar
era mantida próxima de R$ 1
pelo Banco Central. Entre maio
e dezembro daquele ano, as reservas se reduziram em US$ 40
bilhões -gastos em intervenções no câmbio-, e em janeiro
de 1999 o governo se viu obrigado a adotar o regime de câmbio
flutuante, o que abriu espaço
para uma maxidesvalorização
do real.
Entretanto, o Brasil tem hoje
a vantagem de possuir uma dívida externa menor do que em
1998. No final daquele ano, segundo o BC, as reservas internacionais equivaliam a 19,9%
de todo o endividamento externo do país -incluindo compromissos do governo e do setor
privado. Em junho passado, essa proporção estava em 40%.
Além disso, a dívida externa
líquida do governo federal está,
hoje, praticamente zerada -ou
seja, o valor do endividamento
é equivalente ao saldo das reservas internacionais.
Custo
Essa política de acumulação
de reservas tem seu custo. Para
comprar dólares no mercado
de câmbio, o Banco Central
precisa de reais -e esses reais
são obtidos por meio de aumento da dívida interna.
A dívida interna, por sua vez,
é corrigida, em grande parte,
pela taxa básica de juros da economia, a Selic, que hoje está em
14,25% ao ano. O BC gastou
R$ 53,785 bilhões entre janeiro
e setembro deste ano para
comprar dólares no mercado.
Se esse valor fosse corrigido pela atual taxa de juros, isso representaria um custo anual de
mais de R$ 7 bilhões para os cofres do governo.
Entre os prós e contras, o BC
tem optado por manter as aquisições de dólares para aumentar cada vez mais as reservas.
Para a diretoria do BC, não seria necessária a manutenção de
um nível muito elevado de reservas caso, por exemplo, o
FMI (Fundo Monetário Internacional) oferecesse a seus
membros uma linha de crédito
emergencial que pudesse ser
usada em momentos de crise
-reivindicação antiga do governo brasileiro.
Enquanto isso não acontece,
porém, o BC prefere continuar
comprando dólares. Na visão
da instituição, os custos inerentes a essa política seriam equivalentes ao pagamento de uma
espécie de seguro contra eventuais turbulências dos mercados internacionais.
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