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LUÍS NASSIF
Um executivo desastrado
Pela repercussão de seus
atos sobre as economias nacionais, presidentes de grandes
corporações devem dispor da
mesma envergadura de homens
de Estado. Não podem ser meros
executivos, exclusivamente ligados a aspectos financeiros ou
contábeis -ainda que a busca
de lucros seja seu objetivo principal.
Têm que ter visão estratégica,
sensibilidade política para tratar com a comunidade, com os
trabalhadores, com as instituições nacionais, especialmente se
dirigem corporações internacionais. Nesse caso, mais que representantes de suas corporações,
são encarados como representantes de seus países de origem.
Por tudo isso, o presidente da
Volkswagen do Brasil, Herbert
Demel, é um desastre continuado, sem noção da relevância política do seu cargo, sem nenhuma sensibilidade ou solidariedade em relação ao país com o
qual sua empresa mantém décadas de bom relacionamento.
Os feitos do sr. Demel têm sido
amplos e variados. Recentemente, em enorme evento da Ordem
dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo, a abertura registrou a cena inesquecível de uma
orquestra sinfônica formada
por jovens favelados. Ao final da
apresentação, o maestro informou que o trabalho provavelmente seria interrompido porque o sr. Demel, recém-assumido no cargo de presidente da
VW do Brasil, decretara o fim
do apoio da empresa à orquestra. Não só liquidou com a imagem da empresa perante o público como com todo o trabalho
prévio de legitimação social da
companhia, feito anteriormente.
Depois, veio o episódio do
"apagão". O país aturdido com
a crise de energia, as expectativas rolando ladeira abaixo, e o
sr. Demel aparece nos jornais
com declarações desafiadoras,
de que, se não se resolvesse o
problema da energia, a VW sairia do Brasil.
Agora, no recente episódio da
greve dos metalúrgicos, o sr. Demel coloca em risco o maior pacto trabalhista da história do
país.
Nos anos 80 os metalúrgicos
do ABC consagraram o novo
sindicalismo, inicialmente adotando um estilo aguerrido para
se impor. A crise do ABC levou a
um fantástico processo de amadurecimento, no qual os metalúrgicos passaram a entender,
com clareza, que o seu destino e
o da região estavam ligados ao
destino das empresas. A partir
dessa constatação, definiu-se o
pacto e houve um trabalho
construtivo de consolidação, em
bases realistas e civilizadas.
Para qualquer empresa moderna, trata-se de um patrimônio político-administrativo dos
mais relevantes. Quando se
atinge esse grau de amadurecimento, facilita-se a implantação de programas de qualidade,
de melhoria produtiva, de racionalização dos acordos trabalhistas, de flexibilidade nas relações de trabalho -e, por flexibilidade, não se entenda apenas o
trabalhador fazer sacrifícios em
momentos de crise, mas ser recompensado em momentos de
crescimento.
O sr. Demel chega em um momento em que está ameaçada a
imagem da VW, de líder absoluta do mercado. Por mais que haja necessidade de redução de
custos, sua falta de visão estratégica e sua afobação expuseram
perante a opinião pública a fragilidade da empresa. Os prejuízos para a imagem da VW foram óbvios. Se a matriz se dispuser a uma pequena pesquisa
de opinião para avaliar o "custo" de imagem dessa truculência, poderá descobrir por que os
auditores são ótimos em sua
função, mas um desastre quando colocados acima do seu nível
de competência.
Culminou com a truculência
de anunciar cortes radicais de
pessoal e fechar as portas para
qualquer negociação civilizada
com o sindicato. Pior para ele,
melhor para o país: nesse entrevero todo, foi intocável a posição do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e de seu presidente,
Luiz Marinho, com superior demonstração de amadurecimento e de visão moderna das relações trabalhistas.
Grandes corporações tendem
a se estratificar, a ser dominadas pelos interesses corporativistas de cúpula. Só isso pode explicar a manutenção do sr. Demel
como presidente de uma subsidiária com a importância estratégica da VW do Brasil.
É ruim para o Brasil, para as
relações com a Alemanha e, especialmente, para a sua própria
empresa, a Volkswagen.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br<BR>
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