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ANÁLISE
Queda no preço do petróleo estimula economia dos EUA
DAVID BARBOZA
DO "THE NEW YORK TIMES"
As dificuldades da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em cortar a produção podem-se traduzir
em benefícios substanciais para
empresas e consumidores norte-americanos. Com os preços do
petróleo em queda devido à falta
de acordo entre membros da
Opep e países exportadores que
não fazem parte do cartel (sobretudo Rússia), os EUA estão prestes a receber um estímulo muito
necessário, com a queda dos preços da energia. Esse estímulo, somado a taxas de juros mais baixas, deve melhorar as chances de
a economia do país escapar da crise antes do imaginado.
"A economia dos EUA funciona
bem com petróleo barato e crédito a baixo custo, e no momento
ambos estão custando pouco",
diz Cynthia Latta, economista da
consultoria DRI/WEFA. "Podemos esperar uma melhora para o
ano que vem."
Os preços do petróleo, que oscilavam em torno dos US$ 30 por
barril em setembro, encerraram a
semana a US$ 17,75 (tipo brent,
em Londres). Desde segunda-feira, houve desvalorização de 17%.
Isso traz perspectivas de gasolina
mais barata e custos de energia reduzidos para uma ampla gama de
setores, como companhias aéreas
e montadoras de automóveis, ou
produtores de fertilizantes e geradoras de energia elétrica (nos
EUA, a principal fonte de energia
são os combustíveis fósseis).
Ninguém sabe ao certo por
quanto tempo os preços se manterão assim baixos, ou até que
ponto a queda desses preços estimulará a economia norte-americana, que gera US$ 10 trilhões ao
ano. Mas o efeito geral sobre a
economia deve ser positivo, dizem os economistas.
Alguns desses efeitos talvez já
sejam perceptíveis. O preço do
gás natural, usado para aquecer
casas e gerar eletricidade, caiu para cerca de US$ 2,30 por milhão
de BTUs, ante cerca de US$ 10 um
ano atrás, o que reduz acentuadamente o custo da energia.
Caso dure, a queda no preço do
petróleo pode gerar benefícios
ainda maiores. Alguns modelos
econômicos demonstram que,
para cada US$ 1 de decréscimo no
custo do barril, os consumidores
ganham US$ 5 bilhões em poder
aquisitivo. Uma queda do barril
de US$ 30 (há um ano) para US$
20 pode-se traduzir em ganhos de
cerca de US$ 50 bilhões no poder
aquisitivo dos americanos.
"Essa é mais ou menos a dimensão do corte de impostos proposto pelo governo", afirma Mark
Zandi, economista-chefe da consultoria Economy.com. "Isso se
refere apenas aos consumidores.
As empresas também poderiam
economizar bilhões de dólares
nos custos de produção."
Como automóveis e veículos
comerciais leves consomem cerca
de metade do petróleo vendido
nos EUA, a maior economia deve
ser na ponta do consumo, o que
injetaria uma boa soma em dinheiro nos bolsos dos consumidores bem em tempo para a temporada de compras de Natal. Isso
representaria uma reviravolta radical depois de um ano em que a
gasolina chegou aos US$ 2,25 por
galão (US$ 0,60 por litro). Nas últimas semanas, a gasolina em boa
parte dos EUA caiu abaixo do US$
1,20 por galão.
O aumento no óleo diesel e no
querosene de aviação também
prejudicou o setor de transporte
aéreo, ainda antes dos ataques
terroristas, e forçou empresas de
entregas a aplicar sobretaxas. A
UPS gastava cerca de US$ 700 milhões em combustível ao ano. No
ano passado, os custos de combustível ultrapassaram os US$
930 milhões, de acordo com Steve
Holmes, porta-voz da empresa.
Pagar menos por gasolina ou
óleo usado no aquecimento doméstico estimula o consumo, dizem economistas. "Isso significa
que temos mais dinheiro para
gastar em outras coisas, como cinema ou compras", afirma Latta,
da DRI/WEFA. "Se o consumo se
mantiver alto, os efeitos da crise
podem ser mitigados."
Alguns economistas advertem,
no entanto, que preços mais baixos para o petróleo causariam um
efeito negativo, com a queda na
demanda por produtos norte-americanos no exterior.
"A tendência talvez seja inicialmente boa para a economia norte-americana, mas não se sabe se
continuará sendo ao longo do
tempo", diz James Glassman, economista do JP Morgan. "Isso cria
deslocamentos em mercados
emergentes, como a Rússia e o
Oriente Médio. Quando as receitas deles com o petróleo caem, seu
poder aquisitivo cai". Ou seja, eles
teriam menos recursos para importar dos EUA.
Algumas empresas sofreriam a
curto prazo, entre as quais a Exxon Mobil, Kerr-McGee, Chevron
Texaco e outras grandes empresas petroleiras. Alguns dos grupos
mais diversificados e de maior
porte, que também refinam petróleo e têm outras operações no
ramo químico, escapariam a essa
tendência, mas praticamente todas as empresas petroleiras passariam por queda no crescimento
de seus lucros depois de dois anos
de consolidação e elevação recorde dos ganhos.
"A festa acabou", diz Eugene
Nowak, analista do setor petroleiro do ABN-Amro. "As empresas
tiveram bons momentos, mas o
terceiro trimestre começou a expor certas fraquezas. Os lucros
cairão consideravelmente."
Diversos analistas do setor, no
entanto, dizem que a indústria jamais esperou que os preços se
mantivessem por muito tempo
acima dos US$ 25 por barril. As
empresas sabiam que se tratava
de um momento extraordinariamente favorável, e muitas foram
cautelosas.
"Estamos prevendo um setor
com problemas? Absolutamente
não", afirma Mark Flannery, analista de petróleo no Credit Suisse
First Boston. "O setor ganhará
menos, mas passou por uma bonança nos dois últimos anos."
Tradução de Paulo Migliacci
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