São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2001

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COMÉRCIO GLOBAL

Com adesão dos chineses à OMC, Brasil vai ampliar exportações, mas falta estratégia para novo mercado

Negócios da China devem crescer 30%

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A adesão da China à OMC (Organização Mundial do Comércio) deve resultar numa exportação de US$ 2,7 bilhões do Brasil para aquele mercado no ano que vem.
Isso significa um aumento de 30% em relação aos embarques previstos para este ano, de US$ 2,1 bilhões, e de 152% sobre os realizados no ano passado, nos cálculos da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
A expansão nas exportações para a China, que já começou a partir de maio deste ano, é por puro acaso, segundo economistas e especialistas em comércio exterior.
Isto é, o Brasil ainda não tem estratégias montadas para conquistar o mercado chinês. "Só agora caiu a ficha para o Brasil de que a China pode ser um importante cliente do país", afirma José Augusto de Castro, diretor da AEB.
"Neste ano acordamos para o fato de que a China cresce consideravelmente há dez anos", diz Roberto Iglesias, consultor da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
Em quatro meses, sem qualquer esforço do Brasil, a China passou da 10ª colocação -ocupada em maio último- no ranking dos principais compradores do país para a 5ª posição, em setembro.
Nessa mudança, os chineses deixaram para trás clientes tradicionais do país, como México, França, Bélgica, Itália e Japão. De janeiro a setembro deste ano, a China representou 3,48% das exportações brasileiras. Em igual período de 2000 detinha 1,94%.
"O Brasil vendeu mais para a China devido a uma situação de mercado e a ações isoladas de empresas", afirma Castro. Os EUA são o maior cliente do Brasil, depois da União Européia, pois participam com 23,97% das exportações do país. Depois seguem Argentina (9,19%), Holanda (4,96%) e Alemanha (3,48%).
Quem puxou a pauta de exportações para a China foi a soja em grão. De janeiro a setembro, o país exportou para lá US$ 522 milhões, 54,8% a mais do que em igual período de 2000. "É que o Brasil é o único país que exporta soja sem alteração genética, a preferência dos chineses."
A China também comprou do Brasil mais minério de ferro, celulose e fumo e passou a importar carros e aviões. "O Brasil é conhecido lá fora como exportador de minério de ferro, celulose e fumo. No caso de carros e aviões, valeu apenas o esforço da GM e da Embraer. Mas não pode ser só isso."
Para aproveitar a oportunidade oferecida pelo mercado chinês, segundo especialistas em comércio exterior, o Brasil vai ter que ir lá mostrar os seus produtos. Vai ter também de convencer os chineses de que podem comprar café solúvel em vez de café em grão; móveis em vez de madeira e óleo e farelo de soja em vez de grão.
"O Brasil vai ter de se preocupar com a exportação de produtos de maior valor agregado, assim como estão fazendo seus concorrentes", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados. "O mercado chinês estará mais aberto. Só que todo o mundo está de olho nele."
Para Iglesias, da Funcex, "apostar na China seria uma decisão acertada". Além de o mercado chinês estar crescendo -a taxa deste ano deverá ficar em 8%- , o que não acontece no caso de outras economias, como a européia e a americana, diz, o Brasil se beneficia da desvalorização do real, que torna os produtos brasileiros mais competitivos no exterior.
A indústria brasileira de carnes também está se preparando para conquistar o paladar dos consumidores chineses.



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