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agrofolha
Feijão boliviano derruba preço do nacional
Agricultores paulistas de Itaí reclamam que produto entra no país via atravessadores, sem os trâmites normais de importação
Segundo os produtores,
saca do feijão boliviano tipo
2 chega ao mercado paulista
de R$ 40 a R$ 42, ante R$ 65
a R$ 75 do similar nacional
KARLA DOMINGUES
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os produtores brasileiros de
feijão, que não conseguem receber nem os preços mínimos
estipulados pelo governo para o
produto, ganharam um novo
concorrente: os bolivianos.
Com estrutura de comercialização mais desorganizada,
menos impostos, incentivos do
governo e custos menores nos
adubos e fertilizantes, os bolivianos têm vantagens que, segundo os produtores brasileiros, não ocorrem por aqui.
Pior, ainda, parte do produto
entra no Brasil via atravessadores, sem os trâmites e custos
normais da importação.
É uma concorrência desleal,
afirmam produtores paulistas
da região de Itaí. Assim que esse produto entra no país, vai direto para o mercado paulista,
maior centro consumidor e formador de preços.
O problema maior, dizem os
produtores, é que esse feijão
chega ao mercado paulistano
de R$ 40 a R$ 42 por saca, para
o tipo 2. O equivalente nacional
é comercializado de R$ 65 a R$
75 por saca na Bolsa de Cereais
de São Paulo.
A situação se agrava ainda
mais quando o produto boliviano é comparado ao feijão do tipo 1 nacional (de melhor qualidade), cotado de R$ 75 a R$ 80
por saca. Os bolivianos gastam
o correspondente a R$ 18 na
produção da saca de 60 quilos
de feijão de boa qualidade, enquanto os brasileiros têm custo
médio de R$ 60, dizem os produtores.
"As presenças da Argentina e
da Bolívia no nosso abastecimento de feijão são históricas",
diz o ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes. Na avaliação dele, são participações pequenas em relação ao consumo
brasileiro, e a entrada é feita de
forma legal. "Pode até haver alguma entrada irregular, devido
à grande extensão territorial
entre os dois países [Brasil e
Bolívia]. Vamos examinar", diz
Stephanes. Essas entradas podem ser até de produtores brasileiros que atuam nos dois países, avalia.
O volume de feijão boliviano
que entra no país não é grande,
mas o efeito psicológico sobre
os preços é, diz Vlamir Brandalizze, analista do setor. Os preços, que já estão com pouco fôlego para reação, ficam ainda
mais deprimidos, diz ele.
Queda ainda maior
Os produtores paulistas concordam com Brandalizze e dizem que a tendência é de depreciação maior nos próximos
meses devido ao avanço da colheita em algumas regiões do
interior de São Paulo. A colheita começou no início deste mês
e avança pelos primeiros meses
do próximo ano.
Por ser uma cultura de risco e
com custos elevados, a queda
nos preços traz desânimo aos
produtores, que devem reduzir
a área de plantio. Brandalizze
estima essa redução em 20%.
Se essas previsões de redução
de plantio ocorrerem, o feijão
voltará a registrar novos picos
de preços. Em 2008, o produto
iniciou o ano a R$ 260 e terminou a R$ 215 por saca.
Com isso, o cenário para o
próximo ano será favorável ao
produtor. "Quem tiver feijão
vai obter bom preço", afirma
Brandalizze.
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