São Paulo, segunda, 17 de novembro de 1997.




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MEDIDAS
Klaus Friedrich, do Dresdner, defende a desvalorização do real como meio de evitar ataques especulativos
Pacote fiscal é ineficaz, diz banco alemão

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local


O economista Klaus Friedrich, principal executivo do Dresdner Bank (segundo maior grupo financeiro da Alemanha), disse que as medidas fiscais adotadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para defender o real dos especuladores são a Linha Maginot da economia brasileira.
A Linha Maginot, que ficou conhecida como sinônimo de inutilidade na linguagem militar, foi uma fortificação que deu uma falsa sensação de segurança aos franceses contra ataques alemães na 2ª Grande Guerra Mundial.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Frankfurt, o principal estrategista do grupo Dresdner defendeu a desvalorização cambial, por meio da ampliação da banda de variação da taxa do real em relação ao dólar, como a melhor maneira de afastar ataques especulativos contra a moeda brasileira na atual crise dos mercados financeiros mundiais.
"Um anúncio de um substancial alargamento da banda cambial iria provavelmente assustar os especuladores que pensam que a relativa inflexibilidade do câmbio é a única aposta do governo brasileiro."
Friedrich estará hoje em São Paulo para falar sobre a estratégia do Dresdner Bank para o Brasil, onde possui o Dresdner Bank Lateinamerika, e sobre as consequências do euro (a moeda única que Comunidade Européia introduzirá em 1999) para a América Latina, na sede do grupo alemão em São Paulo.
O economista alemão, que, antes de ir para o Dresdner em 1992, trabalhou no Instituto de Finanças Internacionais e no Federal Reserve (o banco central norte-americano), em Washington, disse que os governos têm de adotar atitudes diferentes na administração da taxa de câmbio em tempos de crise e em tempos normais.
"O Brasil tem usado com sucesso a taxa de câmbio como âncora do programa de combate à inflação, mas, em tempo de crise, o país deve usar todos os instrumentos que tem à disposição contra os especuladores."
Friedrich qualificou de "uma conclusão precipitada" pensar que a desvalorização cambial será um convite para a volta da inflação. "Essa é uma conclusão muito pessimista", disse.
"Em época de crise como a atual, os especuladores internacionais vibram quando os bancos centrais ficam inflexíveis atrás de uma Linha Maginot, representada por uma taxa de câmbio sobrevalorizada."
Friedrich afirmou que o Dresdner Bank não vê dificuldades para as instituições oficiais e as empresas brasileiras captarem recursos nos mercados de capitais da Europa e dos EUA.
"Meu banco, por exemplo, que tem um extenso interesse financeiro no Brasil, não vai mudar a sua avaliação de risco do país, que está atualmente entre as melhores dos países emergentes", disse.
O executivo disse que o Dresdner confia no Brasil, um país que, afirmou, continuará a atrair fluxos de capital estrangeiro para os setores financeiro e produtivo.
"Estamos muito bem impressionados com a agenda de reformas e com o desempenho do país no combate à inflação e no avanço da modernização nos últimos três anos."
"Os problemas atuais, que não foram originados no Brasil, são temporários, mas obviamente sua resolução depende de quão inteligentemente o governo lidar com a crise".
"Para o Dresdner, o Brasil é uma história de sucesso. Não estamos mudando a nossa opinião", disse.



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