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FRACASSO
BC tentou mudar regra do leilão; Ultra admite ajuda do governo; lance de empresa argentina era carta de agradecimento
Como a Copene encalhou na madrugada
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Cunha sabia que estava
sozinho na disputa da Copene.
Quis então pagar menos quando
podia pagar mais: perdeu o jogo
para ninguém. As regras do leilão
eram ruins, tanto que os vendedores, o Banco Central e outras
empresas, tentaram mudá-las no
meio do jogo, que começou quase
na meia-noite de quinta-feira passada e terminou em fracasso, cerca de uma hora e meia depois.
Uma tirada cômica coroou o
malogro: os argentinos da Pérez
Companc ficaram na disputa até
o fim apenas para apresentar um
envelope que deveria levar uma
proposta de compra, mas em vez
disso continha uma carta de agradecimento e despedida.
No lado sério da disputa,
BNDES e Petrobras apoiavam o
Ultra, de Cunha, que agradeceu a
ajuda ao presidente da República.
O BC queria apenas vender a Copene pelo maior preço. O leilão
acabou por estragar o plano do
governo de reestruturar a petroquímica no país e criar um grupo
nacional forte no setor. O negócio
fica para 2001, mas não se sabe se
e como a Copene será vendida.
Cunha tinha dinheiro suficiente
para comprar a Copene, a maior
empresa petroquímica do país, e
sobraria troco. A carta-fiança que
apresentou para participar do leilão, cacifada pelos bancos Itaú e
Unibanco, cobria com folga o preço mínimo de US$ 1,05 bilhão.
O Ultra ofereceu US$ 822 milhões. Irritou os vendedores, que
esperavam uma oferta maior, e ficou irritado com eles, porque
achou que quiseram esfolá-lo.
A Pérez Companc, por sua vez,
apenas agradeceu a oportunidade
de participar do leilão e explicava
que preferia não fazer nenhuma
proposta desta vez. Mais: pedia
para ser avisada caso a operação
não desse certo e, no futuro, aparecesse uma nova oportunidade
para comprar a Copene.
Os norte-americanos da Dow
Química e os gaúchos da Copesul,
que haviam se habilitado para o
pregão, também desistiram de
participar, mas avisaram com antecedência que estavam fora.
Pergunte ao procurador
Pelo ritual do leilão, os candidatos à compra da Copene passaram o dia isolados num prédio da
zona sul de São Paulo, enquanto
os vendedores ficaram num outro
edifício a quilômetros de distância. A única proposta, do grupo
Ultra, atravessou o rio Pinheiros
(que corta o sul e o oeste da cidade) pela Intranet (rede interna) da
consultoria Arthur Andersen, dona dos dois prédios.
Dos vendedores, apenas o grupo Suzano ficou satisfeito com a
oferta de Paulo Cunha. Os grupos
Odebrecht e Mariani, e o Banco
Central (administrador da massa
falida do banco Econômico) trancaram-se por mais de uma hora
numa sala para avaliar o lance.
Recusaram a oferta por considerar que o grupo Ultra se aproveitava do fato de ter ficado sozinho na disputa e regateava o preço. Além disso, nem sabiam se era
possível rediscutir o valor do lance, pois o edital de venda ditava
que o interessado só poderia fazer
uma segunda oferta caso a primeira fosse apenas 3% menor que
o preço mínimo. O lance do Ultra
foi cerca de 20% menor.
Como sabiam, por meio da carta-fiança, que Paulo Cunha tinha
mais bala na agulha, os executivos
de um dos vendedores insistiram
na idéia da renegociação.
Os executivos do BC tentaram
encontrar o procurador da instituição a fim de saber se era possível contornar o edital. Não acharam o procurador. Por e-mail, recusaram a proposta do Ultra e informaram a empresa de que não
haveria segunda chance. Mas o
Ultra não queria outra chance, segundo o relato de quem acompanhou o leilão do começo ao fim.
Nesta semana, os vendedores
discutem o futuro da venda da
Copene: se reavaliam as regras do
leilão que eles próprios bolaram.
Isso pode significar uma guinada radical no jogo da petroquímica. A Odebrecht, que só colocou à
venda seu lote de Copene porque
foi forçada pelo governo, pode
mudar de lado. O grupo divide
com a Ipiranga o controle da Copesul, uma prima-irmã da Copene. A Copesul se candidatou à
compra da Copene e só desistiu
por decisão da Ipiranga.
No momento, a Odebrecht tenta comprar a participação da sócia
para mandar sozinha na Copesul.
Se isso ocorrer, a empresa entra
na parada pela Copene.
Colaborou Guilherme Barros
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