|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PETROQUÍMICA
Empresário conta que agradeceu a FHC ajuda do BNDES e Petrobras
Governo apoiava Ultra no
leilão, conta Paulo Cunha
Paulo Giandalia - 15.set.99/Folha Imagem
![](../images/b1712012000.jpg) |
Paulo Cunha, presidente do Ultra, que tentou comprar a Copene |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A
O empresário Paulo Cunha, 60,
do grupo Ultra, tem muitas dúvidas sobre o futuro da venda da
Copene, se é que ela vai ser vendida. Diz que desde sempre houve
um só interessado na empresa: o
grupo Ultra.
O empresário confirma a ajuda
de estatais ao Ultra, e que agradeceu ao presidente Fernando Henrique Cardoso pelo apoio. Na opinião de Cunha, os demais grupos
que demonstraram interesse no
leilão, Dow Química e Pérez
Companc, o fizeram apenas sob
pressão dos vendedores.
Afirma que o nacionalismo não
é uma onda, e sim uma necessidade para o Brasil conseguir reduzir
seu déficit nas contas externas. A
seguir, trechos da entrevista:
Folha - O que houve?
Paulo Cunha - O leilão teve um
vencedor.
Folha - Quem?
Cunha - Quem queria comprar,
mais uma vez, éramos nós. Mudou-se o mundo, rodaram-se todos os continentes e, no final, apareceu um único interessado: o
grupo Ultra. Os grupos privados
queriam vender, menos aquele
representado pelo BC (banco
Econômico -sob intervenção federal-, de Ângelo Calmon de
Sá). O BC tem obrigação de vender os ativos do Econômico.
Aliás, tem a obrigação desde 95,
quando foi decretada a liquidação
do banco, e até agora não vendeu.
Folha - O Banco Central não tem
interesse em vender a Copene?
Cunha - Não estou dizendo isso.
Estou dizendo que o BC até agora
não vendeu, e que os procedimentos indicam que, a seguir essa
trajetória, não vai vender.
Folha - Seria um sintoma da divisão do governo?
Cunha - Não vejo divisão nenhuma do governo. O governo tem
interesse em quebrar esse impasse em que se meteu a petroquímica no Brasil e tem dado demonstrações evidentes disso.
Folha - A equipe econômica também?
Cunha - Não tem nada a ver com
equipe econômica. O problema
não é o Banco Central e nem a
equipe econômica. O que estou
falando é da intervenção no banco Econômico.
Folha - O Econômico, então, não
quer vender a Copene?
Cunha - Não falo sobre isso.
Folha - Como foi o leilão?
Cunha - Seguiu-se aquele ritual
esdrúxulo. Foi feita uma proposta
mais ou menos à meia-noite. Se
esperou para ver se o outro concorrente, a Pérez Companc, iria
fazer uma proposta mais alta. Depois, nos foi comunicado que
nossa proposta tinha sido levada
para ser analisada pelos devedores. Nós aguardamos e nos informaram que a nossa proposta estava abaixo do preço vinculante e,
portanto, não tinha sido aceita.
Nossa proposta foi agressiva, meticulosamente calculada por nós e
nossos "advisers". Nossa proposta foi de US$ 822 milhões. A média das avaliações ficava entre
US$ 600 milhões e US$ 700 milhões. Ganhei, mas não levei.
Folha - Por que a Dow desistiu?
Cunha - Nunca houve interesse
da Dow. Seu interesse era só o polietileno. Ela chegou a propor à
Petrobras ficar com o polietileno,
e a Petrobras cuidaria da central.
A Petrobras negou.
Folha - E a Pérez Companc?
Cunha - Nunca existiu interesse
da Pérez Companc.
Folha - Como o senhor conseguiu
o apoio da Petrobras?
Cunha - Não chegamos a fazer
nenhum acordo. Tanto eu como o
Henri Philippe Reichstul (presidente da Petrobras) decidimos
deixar para depois do leilão qual a
melhor estratégia a seguir.
Folha - Seria uma sociedade?
Cunha - Não definimos o modelo. A Petrobras já tem 15% da Copene e fornece 4,5 milhões de toneladas de nafta, o que corresponde a US$ 4,2 bilhões por ano.
Há uma negociação entre a Petrobras e o setor em torno do preço
da nafta. Participei de algumas
dessas reuniões. De qualquer forma, uma definição sobre o modelo de associação com a Petrobras
só depois do leilão. Não havia nada predefinido.
Folha - E do BNDES?
Cunha - Minha conversa com o
BNDES é antiga. Começou com o
Luiz Carlos Mendonça de Barros,
depois continuou com o Pio Borges, Andrea Calabi e, agora, com o
Francisco Gros. Na época do
Mendonça de Barros, tinha feito
uma proposta para a Copene com
o objetivo de reestruturar o setor
petroquímico. O Ultra é um grupo que nunca atrasou uma prestação. Sempre pagou seus empréstimos em dia no BNDES. Portanto,
não há nenhum impedimento para a gente recorrer ao BNDES. Ao
mesmo tempo, o governo tem interesse na reestruturação do setor
petroquímico. Trata-se de um setor que precisa crescer, um setor
que parou no tempo. Em 1994, o
setor tinha déficit na balança comercial de US$ 1 bilhão. Este ano,
o déficit será de quase US$ 7 bilhões. A petroquímica está trancada por conta de todas essas indefinições.
Folha - A conversa do senhor com
o presidente Fernando Henrique
Cardoso, há duas semanas, ajudou
a conseguir esse apoio do governo?
Cunha - Fui ao presidente apenas agradecer esse apoio.
Folha - O senhor esteve com o ministro da Fazenda, Pedro Malan?
Cunha - Nunca.
Folha - E com Armínio Fraga, presidente do Banco Central?
Cunha - Estive algumas vezes
com ele. Me lembro que, há um
ano, falei para ele que só havia um
interessado em comprar a Copene: o Ultra.
Folha - Mas ele nunca foi um defensor da tese nacionalista...
Cunha - Não existe essa coisa de
nacionalismo.Você acha que as
declarações públicas do governo a
favor do nacionalismo levaram a
Dow a não participar do leilão? A
Dow já estava decidida a não participar. Houve uma mudança de
administração da Dow aqui no
Brasil e o interventor do Econômico pediu à Dow que estudasse a
Copene para entrar no leilão.
Quando eles foram a Midland
(EUA), onde fica a sede da Dow, a
matriz recusou. A Dow só se interessava pelo polietileno. Não houve interferência política.
Folha - Por que, então, essa onda
nacionalista?
Cunha - O nacionalismo existe
por conta dos déficits do Brasil
nas balanças de pagamentos e comercial. O país precisa receber,
por ano, US$ 50 bilhões para cobrir seu déficit na balança de pagamentos. Desse total, US$ 20 bilhões são renovação de créditos e
US$ 30 bilhões, investimentos. O
problema é que esses investimentos terão que ser enviados de volta, sob a forma de dividendos. Pelo menos 10% desses US$ 30 bilhões precisam ser remetidos por
ano sob a forma de dividendos. O
Brasil precisa reduzir o déficit.
Folha - Qual a solução?
Cunha - Só tem uma: exportar. O
Brasil sofreu uma desnacionalização excessiva nos últimos anos.
Nenhum país foi tão desnacionalizado em tão pouco tempo. O
país precisa conseguir convencer
as multinacionais a produzirem
para o mercado externo e não para o interno.
Folha - O senhor vai tentar comprar a Copene de novo?
Cunha - Não sei se vão vender.
CONTATOS
"Minha conversa com o
BNDES é antiga"
"De qualquer forma,
uma definição sobre o
modelo de associação
com a Petrobras, só depois do leilão"
"Fui ao presidente apenas agradecer esse
apoio"
PAULO CUNHA
presidente do grupo Ultra
Texto Anterior: Fracasso: Como a Copene encalhou na madrugada Próximo Texto: Previdência: Sem acordo com BB, Previ pode sofrer intervenção Índice
|