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OPINIÃO ECONÔMICA
Reforçar a defesa comercial
GESNER OLIVEIRA
A exemplo de outros países
em desenvolvimento, como a
Índia e a África do Sul, o Brasil
deve se tornar mais ativo na defesa comercial. Os países ricos pregam a plena liberdade de comércio, mas praticam a intervenção
sistemática em favor de seus produtos.
Não há tempo a perder nem
grandes diferenças político-partidárias nessa matéria. O governo
Lula deverá dar continuidade e
aprofundar as ações do governo
FHC. E, mais importante, há um
papel a ser desempenhado pelas
administrações estaduais.
No plano federal, os ministros
da Agricultura, Roberto Rodrigues, e das Relações Exteriores,
Celso Amorim, anunciaram na
última terça-feira ações contra os
subsídios dos EUA à produção de
algodão e dos incentivos da
União Européia à exportação de
açúcar refinado. No Estado de
São Paulo, o governo Alckmin divulgou na quinta-feira a criação
de um Conselho Estadual de Comércio Exterior, sob a coordenação de Roberto Giannetti.
Estudos recentes do Ministério
do Desenvolvimento, realizados
ainda na gestão FHC, oferecem
um quadro da defesa comercial
no Brasil. Há três instrumentos
principais. O primeiro é a aplicação de uma tarifa antidumping
sobre um produto estrangeiro cuja compra por quantia inferior
àquilo que poderia ser considerado o valor normal esteja provocando dano à indústria nacional.
Segundo o relatório do Departamento de Defesa Comercial da
Secretaria de Comércio Exterior
(Decom-Secex) daquele ministério, o país abriu 182 investigações
dessa natureza no período 1988-2002.
O segundo é a ação contra subsídios não aceitos pela legislação
da OMC (Organização Mundial
do Comércio), como foi o entendimento do órgão de apelação desse
organismo em relação aos incentivos concedidos pelos EUA à indústria siderúrgica daquele país
mediante a chamada "emenda
Byrd". O Brasil abriu 13 investigações dessa natureza no mesmo
período.
Lembre-se de que há subsídios
considerados lícitos e que deveriam merecer utilização muito
mais frequente por parte do Brasil, como os subsídios verdes, ligados ao ambiente, e os incentivos à
pesquisa e ao desenvolvimento
regional.
Em terceiro, um país pode lançar mão de salvaguardas para
proteger temporariamente um
segmento da economia que careça de reestruturação para enfrentar a competição internacional. O
Brasil usou menos do que deveria
esse mecanismo durante o período mencionado: apenas três vezes, envolvendo as indústrias de
brinquedo e de coco.
As ações de defesa comercial
ainda estão muito concentradas
em alguns segmentos. Das 182 investigações de antidumping mencionadas antes, 73 foram tomadas no segmento de química, petroquímica e transformados plásticos. O ramo da siderurgia vem
em segundo lugar, com 50 ações
de antidumping.
A frequência de casos de defesa
comercial nesses ramos também é
maior em outros países em virtude das características estruturais.
Na petroquímica, por exemplo, os
ciclos de investimento fazem com
que haja períodos de crescimento
da oferta acima da demanda, gerando elevados excedentes exportáveis. No entanto, seria de esperar uma ação mais abrangente do
ponto de vista setorial nos próximos anos. Além disso, a discussão
de barreiras técnicas deverá assumir importância crescente.
Reforçar a defesa de um time de
futebol custa dinheiro, como muitos clubes estão percebendo às
vésperas da temporada de 2003.
Com a defesa comercial é a mesma coisa, mas não dá para participar do jogo bruto do comércio
internacional sem o devido reforço.
Serão necessários mais recursos
humanos e materiais de um Estado sem caixa e obrigado a atender enormes e frequentemente legítimas demandas sociais. A demonstração de ocorrência de
dumping e dano à indústria, por
exemplo, é complexa e exige dados e capacitação técnica. Daí a
absoluta necessidade de engajar o
setor privado e as comunidades
profissional e universitária para
um novo salto na defesa comercial brasileira.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail: gesner@fgvsp.br
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