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DESIGUALDADE
Estudo cobra ações para as Metas do Milênio
Países ricos teriam de dobrar ajuda para reduzir a pobreza, afirma ONU
CELIA W. DUGGER
DO "NEW YORK TIMES"
Uma equipe internacional de
especialistas patrocinada pelas
Nações Unidas propôs um plano
detalhado e ambicioso para reduzir à metade a pobreza extrema e
salvar a vida de milhões de crianças e centenas de milhares de
mães a cada ano, até 2015.
O relatório de 74 páginas, que
sintetiza 3.000 páginas de conclusões por uma equipe de 265 especialistas, diz que reduzir drasticamente a pobreza é "completamente viável". Os países industrializados teriam de duplicar sua
assistência aos mais pobres, para
0,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB), segundo o estudo.
O relatório do Projeto Milênio
das Nações Unidas, preparado
sob a liderança de Jeremy Sachs,
da Universidade Colúmbia, advoga reformas no comércio exterior,
para nivelar o terreno internacionalmente, bem como uma série
abrangente de investimentos como saúde, educação, desenvolvimento rural, reforma urbana, estradas e pesquisa científica. Um
esforço como esse, de acordo com
o relatório, permitiria que centenas de milhões de pessoas escapassem da pobreza.
O plano de desenvolvimento do
Projeto Milênio, visto por alguns
críticos como utópico e ambiciosos demais, provavelmente influenciará a agenda das agências
da ONU na próxima década, bem
como outros importantes organismos interessados, entre os
quais o Banco Mundial e os governos de países africanos empobrecidos.
"Estamos falando sobre os países ricos dedicando cerca de 50
centavos de cada US$ 100 em renda para ajudar as pessoas mais
pobres do mundo a subir o primeiro degrau na escada do desenvolvimento", disse o professor
Sachs, selecionado para liderar o
projeto por Kofi Annan, o secretário geral da ONU, em 2002.
As ofertas generosas de assistência e o pesar mundial desde
que o tsunami do mês passado
matou mais de 150 mil pessoas na
África e na Ásia suscitaram esperanças, na ONU, de que os mesmos sentimentos possam ser mobilizados com relação ao que o
professor Sachs denomina de "o
tsunami silencioso" da pobreza
mundial, que mata mais de 150
mil crianças por mês apenas como resultado da malária.
Cúpula
O relatório, intitulado "Investindo no Desenvolvimento: Um
Plano Prático para Atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio", é a primeira de uma série de
iniciativas a serem apresentadas
neste ano para atrair a atenção do
mundo para o cumprimento das
abrangentes promessas de combate à pobreza feitas pelos líderes
mundiais em 2000.
Em julho, o Reino Unido sediará uma conferência de cúpula dos
países industrializados cujo foco
será a pobreza mundial, especialmente na África. O primeiro-ministro Tony Blair apontou uma
comissão sobre a África, que deve
apresentar seu relatório no segundo trimestre. E o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown,
está conduzindo campanha por
um "Plano Marshall" para a África, que incluiria perdão de dívidas
e sua proposta de duplicação da
assistência dos ricos à região.
O Reino Unido mesmo já prometeu duplicar sua assistência,
para 0,7% do PIB até 2013. Os
EUA, que no momento dedicam
menos de 0,2% de seu PIB à assistência internacional, não assumiram compromisso semelhante.
Em setembro, líderes mundiais
se reunirão na ONU para avaliar
os progressos realizados quanto
às metas de redução da pobreza
definidas em 2000, entre elas a
educação primária universal, e
fortes reduções na pobreza, mortalidade infantil e materna e na
proporção de pessoas sobrevivendo com menos de US$ 1 ao dia.
O relatório divulgado ontem diz
que os países pobres deveriam parar de adaptar seus planos de
combate à pobreza aos recursos
limitados hoje existentes e preparar abordagens abrangentes para
realizar as metas de redução de
pobreza e depois calcular custos.
Estradas e malária
O projeto pede que os países pobres aperfeiçoem suas estruturas
administrativas, sustentem o domínio da lei e gastem parcela
maior de seu dinheiro no combate à pobreza. Mas os economistas
da equipe do projeto estimam que
esses recursos serão inadequados
e que os doadores terão de cobrir
a diferença. "Não estamos dizendo aos países o que fazer", disse o
professor Sachs. "Eu me reuni
com líderes nacionais, ministros,
aldeões, muitas vezes. Eles querem sobreviver para lutar contra a
malária, conseguir tratamento retroviral para as pessoas infectadas
com o HIV, para construir estradas, usar fertilizantes e métodos
agroflorestais. Não foram propostas impostas de fora".
O relatório advoga que os países
ricos apóiem um programa relâmpago de desenvolvimento em
pelo menos uma dúzia de países
pobres bem governados que, na
opinião dos doadores, usem bem
o dinheiro investido. Gana, Moçam,bique, Mali, Senegal e Tanzânia estão entre as nações mais
mencionadas.
Tradução de Paulo Migliacci
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