São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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DESIGUALDADE

Estudo cobra ações para as Metas do Milênio

Países ricos teriam de dobrar ajuda para reduzir a pobreza, afirma ONU

CELIA W. DUGGER
DO "NEW YORK TIMES"

Uma equipe internacional de especialistas patrocinada pelas Nações Unidas propôs um plano detalhado e ambicioso para reduzir à metade a pobreza extrema e salvar a vida de milhões de crianças e centenas de milhares de mães a cada ano, até 2015.
O relatório de 74 páginas, que sintetiza 3.000 páginas de conclusões por uma equipe de 265 especialistas, diz que reduzir drasticamente a pobreza é "completamente viável". Os países industrializados teriam de duplicar sua assistência aos mais pobres, para 0,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB), segundo o estudo.
O relatório do Projeto Milênio das Nações Unidas, preparado sob a liderança de Jeremy Sachs, da Universidade Colúmbia, advoga reformas no comércio exterior, para nivelar o terreno internacionalmente, bem como uma série abrangente de investimentos como saúde, educação, desenvolvimento rural, reforma urbana, estradas e pesquisa científica. Um esforço como esse, de acordo com o relatório, permitiria que centenas de milhões de pessoas escapassem da pobreza.
O plano de desenvolvimento do Projeto Milênio, visto por alguns críticos como utópico e ambiciosos demais, provavelmente influenciará a agenda das agências da ONU na próxima década, bem como outros importantes organismos interessados, entre os quais o Banco Mundial e os governos de países africanos empobrecidos.
"Estamos falando sobre os países ricos dedicando cerca de 50 centavos de cada US$ 100 em renda para ajudar as pessoas mais pobres do mundo a subir o primeiro degrau na escada do desenvolvimento", disse o professor Sachs, selecionado para liderar o projeto por Kofi Annan, o secretário geral da ONU, em 2002.
As ofertas generosas de assistência e o pesar mundial desde que o tsunami do mês passado matou mais de 150 mil pessoas na África e na Ásia suscitaram esperanças, na ONU, de que os mesmos sentimentos possam ser mobilizados com relação ao que o professor Sachs denomina de "o tsunami silencioso" da pobreza mundial, que mata mais de 150 mil crianças por mês apenas como resultado da malária.

Cúpula
O relatório, intitulado "Investindo no Desenvolvimento: Um Plano Prático para Atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio", é a primeira de uma série de iniciativas a serem apresentadas neste ano para atrair a atenção do mundo para o cumprimento das abrangentes promessas de combate à pobreza feitas pelos líderes mundiais em 2000.
Em julho, o Reino Unido sediará uma conferência de cúpula dos países industrializados cujo foco será a pobreza mundial, especialmente na África. O primeiro-ministro Tony Blair apontou uma comissão sobre a África, que deve apresentar seu relatório no segundo trimestre. E o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, está conduzindo campanha por um "Plano Marshall" para a África, que incluiria perdão de dívidas e sua proposta de duplicação da assistência dos ricos à região.
O Reino Unido mesmo já prometeu duplicar sua assistência, para 0,7% do PIB até 2013. Os EUA, que no momento dedicam menos de 0,2% de seu PIB à assistência internacional, não assumiram compromisso semelhante.
Em setembro, líderes mundiais se reunirão na ONU para avaliar os progressos realizados quanto às metas de redução da pobreza definidas em 2000, entre elas a educação primária universal, e fortes reduções na pobreza, mortalidade infantil e materna e na proporção de pessoas sobrevivendo com menos de US$ 1 ao dia.
O relatório divulgado ontem diz que os países pobres deveriam parar de adaptar seus planos de combate à pobreza aos recursos limitados hoje existentes e preparar abordagens abrangentes para realizar as metas de redução de pobreza e depois calcular custos.

Estradas e malária
O projeto pede que os países pobres aperfeiçoem suas estruturas administrativas, sustentem o domínio da lei e gastem parcela maior de seu dinheiro no combate à pobreza. Mas os economistas da equipe do projeto estimam que esses recursos serão inadequados e que os doadores terão de cobrir a diferença. "Não estamos dizendo aos países o que fazer", disse o professor Sachs. "Eu me reuni com líderes nacionais, ministros, aldeões, muitas vezes. Eles querem sobreviver para lutar contra a malária, conseguir tratamento retroviral para as pessoas infectadas com o HIV, para construir estradas, usar fertilizantes e métodos agroflorestais. Não foram propostas impostas de fora".
O relatório advoga que os países ricos apóiem um programa relâmpago de desenvolvimento em pelo menos uma dúzia de países pobres bem governados que, na opinião dos doadores, usem bem o dinheiro investido. Gana, Moçam,bique, Mali, Senegal e Tanzânia estão entre as nações mais mencionadas.


Tradução de Paulo Migliacci

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