São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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Cresce temor sobre rombo em seguradoras

Ações de empresas que garantem pagamento de títulos caem até 65%, após Moody's indicar que pode rebaixar notas

Mercado teme que crise do crédito nos EUA possa agora entrar em uma nova fase, com problemas em série gerados pelas seguradoras

ALINE VAN DUYN
SASKIA SCHOLTES

DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK

O medo de que a compressão de crédito possa estar ingressando em nova fase aumentou ontem, à medida que surgiam novas dúvidas sobre o vigor financeiro das seguradoras que garantem os pagamentos de bilhões de dólares em títulos.
As ações do MBIA Ambac Financial Group e da MBIA, as maiores seguradoras de títulos financeiros do mundo, caíram 65% e 40%, respectivamente, depois que a Moody's alertou que poderia reduzir a classificação de crédito AAA, que serve de base ao modelo de negócios adotado pelas empresas.
Um rebaixamento como esse vinha sendo temido pelas autoridades norte-americanas. A medida reverberaria nos mercados do mundo e abalaria o valor de US$ 2,4 trilhões em títulos municipais e estruturados que essas seguradoras garantem, já que a perda da classificação AAA por elas também levaria a rebaixamento na classificação de muitos dos títulos cuja cobertura elas oferecem.
Um rebaixamento também forçaria bancos e outras instituições a elevar consideravelmente o montante de capital de risco que retêm contra transações já realizadas com as seguradoras ou os detentores de títulos segurados. O capital das instituições já está distendido devido a prejuízos de bilhões de dólares com transações no mercado de hipotecas.
Nos mercados de crédito, o custo de proteção contra uma possível inadimplência da MBIA ou da Ambac disparou.
"Os mercados de dívida e capital agora consideram que essas empresas já não são AAA", disse Andrew Wessel, analista do JP Morgan. "A capacidade delas para realizar seguros de novos títulos, sua única função, foi efetivamente reduzida."
Os potenciais riscos de impacto associados a problemas de exposição às seguradoras de títulos foram colocados em destaque ontem, quando o Merrill Lynch anunciou ter contabilizado como prejuízo US$ 3,1 bilhões em papéis adquiridos de outra seguradora de títulos, a ACA, devido à expectativa de inadimplência.
A ACA, uma seguradora que vem enfrentando problemas de crédito, já teve sua classificação reduzida para a dos "junk bonds", de maior risco. Ainda que a ACA seja instituição de crédito mais fraca que a MBIA ou a Ambac, ela coloca em destaque o chamado risco de contraparte, em caso de rebaixamentos nesse setor.
A mais recente crise de confiança quanto a MBIA e Ambac, que vem se agravando à medida que surgem detalhes sobre as escalas de perdas que as seguradoras devem sofrer devido às garantias que ofereceram para títulos lastreados por ativos hipotecários de risco, se seguiu a um aviso inesperado da Moody's Investors Service sobre possível rebaixamento da classificação AAA da Ambac.
A Ambac e a MBIA cortaram seus dividendos e estão planejando levantar capital a fim de cobrir os rombos. A Ambac anunciou planos para levantar US$ 1 bilhão em capital novo na quarta-feira, mas isso parece cada vez mais difícil tendo em vista a queda no valor de suas ações.
Haveria diversos efeitos colaterais possíveis caso MBIA, Ambac e outras seguradoras de títulos percam sua classificação AAA. As agências regulatórias já estão examinando se essas seguradoras deveriam de fato ter ampliado seus negócios a áreas que se provaram mais arriscadas do que os mercados de títulos municipais em que tradicionalmente operavam.
Jamie Dimon, presidente-executivo do JP Morgan, disse nesta semana que "o que me preocupa é que, se uma dessas organizações não sobreviver, os efeitos secundários seriam terríveis".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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