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VINICIUS TORRES FREIRE
Onde há fumaça há pânico
Novidades da crise nos Estados Unidos tornam ainda mais difícil prever impacto
na economia brasileira
HÁ TANTA FUMAÇA no tiroteio
do mercado americano que
está muito difícil saber
quem passou a sangrar, quem está
ferido de morte e, ainda mais imprevisível, descobrir quantas balas perdidas chegarão ao Brasil. Apesar do
quase pânico desses dias, ainda há
alguns sinais contraditórios nas alturas esotéricas das finanças americanas e nos dados da atividade econômica. Mas é verdade que, no lado
"real" da economia, a freqüência de
notícias ruins começa a superar a de
notícias, digamos, neutras.
Analistas americanos observam
que é preciso esperar mais um ou
dois meses de balanços do varejo,
sempre voláteis, antes de cravar que
o consumo estagnou. Mas um banco
após outro anuncia que aumentou o
nível de calote nas suas operações
com pessoas físicas. Agora foi a vez
de o JP Morgan e o Wells Fargo se
juntarem a Citigroup, Bank of America, Wachovia etc.
Um indicador geograficamente
restrito, mas tido como bom antecedente da saúde industrial, a pesquisa
do Fed da Philadelphia, veio ontem
em um nível que historicamente
costuma indicar recessão -causou
certo pânico, mas também é um número volátil e preliminar. Divulgou-se também que o índice de confiança
dos CEOs ("presidentes") das empresas americanas no quatro trimestre de 2007 caiu para o menor
nível desde 2000. A maioria dos executivos não prevê melhora do ambiente econômico antes do segundo
semestre. Mas o nível de pedidos de
seguro-desemprego não veio tão
ruim. O mar não está para peixe,
mas não se sabe o quão raso está.
No caso das finanças, por exemplo, um dos motivos maiores dos
dias de sustos e corridas de agosto a
novembro parece perder força. Parte importante do mercado de financiamento de curto prazo para instituições financeiras e empresas vem
se recuperando nas últimas quatro
semanas. A taxa de juros dos empréstimos entre bancos cai.
Por outro lado, jamais as agências
de classificação de risco rebaixaram
a nota de tantos títulos financeiros
lastreados em outros ativos, como
investimentos cuja renda depende
de pagamentos de dívidas como a da
casa, a do carro, a do cartão de crédito ou o financiamento da faculdade.
O temor mais recente é que se
proclame que as empresas seguradoras de crédito (que fazem seguros
de títulos de dívida) estão propensas
a dar calote ou quebrar (pois também perderam muito com a crise
imobiliária). Tais instituições fazem
contratos em que, grosso modo, prometem cobrir calotes contra bancos
ou empresas e, em troca, recebem
um pagamento periódico. Só a queda de confiança em tais "seguradoras" pode travar o crédito.
E uma crise financeira feia assim
seria o primeiro passo para a contaminação do Brasil. O segundo passo
seria uma queda do comércio mundial que derrubasse o preço de produtos básicos ("commodities"), de
grande peso nas exportações brasileiras. Mas aí também o futuro está
nublado. Ainda ontem havia análises de monte sobre a tendência altista dos preços de grãos e ferro (mas
não para petróleo), por exemplo, e
faz pouco se discutia o risco de inflação mundial causada pelos preços
de "commodities". Qual a tendência
do risco, então? Ainda está tudo
muito, muito, confuso.
vinit@uol.com.br
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