São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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ESTRATÉGIA CAMBIAL
"Guerreiro tem de sujar espada de sangue"
Lopes diz que usará sabedoria oriental

da enviada especial a Washington

O autor e executor da nova política cambial brasileira, Francisco Lopes, presidente do Banco Central, está disposto a enfrentar as pressões contra o real e a fuga de dólares do país com ensinamentos de filosofia oriental.
Lopes se diz adepto do Bushido, uma palavra japonesa que indica "o caminho do samurai ou do guerreiro".
O mercado, que vem testando a capacidade do Banco Central de resistir a ataques especulativos contra o real, que se prepare: a tal filosofia dita a seus adeptos uma espécie de tudo ou nada, uma vez declarado o confronto.
"O guerreiro, quando desembainha sua espada, tem de sujá-la, nem que seja com o próprio sangue. Senão, a espada perde a alma", resumiu Lopes durante a viagem a Washington, onde participou de negociações em busca de aval internacional à nova política cambial brasileira, a ser anunciada hoje.

Especulação reduzida
Agora defensor do câmbio livre, Lopes sustenta que o poder de aposta contra o real tende a diminuir a partir do momento em que o Banco Central deixar de intervir na cotação da moeda.
O primeiro teste da flutuação do câmbio foi considerado "fantástico" pelo presidente do Banco Central.
A estratégia de liberar o câmbio vinha sendo preparada desde o ano passado, mas teve seu cronograma antecipado diante da insistente saída de dólares do país.

Cozinha do BC
Se tudo sair de acordo com os planos de Lopes, a partir de hoje a chefe do departamento de operações das reservas internacionais do Banco Central, Maria do Socorro Carvalho, poderá deixar de lado o trabalho tenso para assistir televisão durante o horário de funcionamento do mercado e até "acompanhar programas culinários", brincou.
"Para quem viveu os últimos tempos a beira de um ataque de nervos, isso é uma revolução", disse Lopes.
Ele não descartou a adoção de mecanismos informais que permitam a intervenção do banco na cotação do real, como ocorre no México desde a desvalorização de 94, por exemplo.



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