São Paulo, segunda, 18 de janeiro de 1999

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MERCADO FINANCEIRO
Patamar para as cotações do real contra o dólar não foi encontrado; analistas propõem ação "silenciosa" do Banco Central
Câmbio ainda deve oscilar muito

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A semana que se inicia hoje no mercado financeiro será decisiva para o estabelecimento de um novo patamar para a cotação do real contra o dólar.
O dólar comercial a R$ 1,4659 na média de sexta-feira passada, que representa uma desvalorização do real de 17,4% desde o início da mudança na política cambial, na terça-feira, não deve ser tomado como parâmetro definitivo.
"Ainda é cedo para o governo comemorar", diz Marco Antônio Dias, chefe de mesa de interbancário de câmbio do BicBanco.
"Não vejo qualquer indicador objetivo de pressão adicional no câmbio, mas ainda não dá para dizer que tudo deu certo", diz Carlos Fagundes, da Associação Brasileira de Bancos Comerciais e Múltiplos. "É como tirar um dente. Você sabe que dói, adia o quanto pode e, depois de feito, diz: "É só isso?'"
Segundo analistas, os volumes negociados na sexta-feira, primeiro dia de flutuação livre do câmbio, foram pequenos e não permitem ilações. Importadores e exportadores ficaram de fora do mercado, com receio de entrar no momento errado e pegar taxas de câmbio desfavoráveis.
As oscilações do dólar foram fortes demais para permitir erros. O dólar comercial para venda chegou a R$ 1,65, mas bateu no R$ 1,44 durante a tarde, uma diferença de 13% nas cotações.
As oscilações bruscas e os baixos volumes devem persistir hoje. "O mercado leva um tempo para encontrar seu ideal", diz Dias.
Ele defende que, depois de encontrado esse patamar, o Banco Central atue de forma a criar o que chamou de "zona silenciosa de variação". Em conversas e vendas informais, o BC fixaria um teto e um piso para as oscilações, reduzindo os riscos dos participantes.
"Não somos a Europa, o Japão ou os EUA. Nossa moeda não desperta o interesse internacional. Não temos muitos mecanismos de proteção. Se o BC deixar o mercado totalmente livre, vamos conviver com um nível de adrenalina que não suportamos mais", avalia.
Esse "nível de adrenalina" afastaria participantes, deixando o mercado cambial mais instável e arriscado. Com oscilações fortes diárias, o perigo seria toda a economia se tornar indexada ao dólar como forma de proteção.
"Vamos ter de aprender a lidar com uma nova realidade", diz Fagundes.
Nas desvalorizações cambiais anteriores, os mecanismos de remessas de divisas para o exterior eram diferentes. "Não tínhamos, por exemplo, o câmbio flutuante, que permite às empresas ou pessoas físicas tirar o quanto quiserem do país", afirma ele.
Sem a intervenção aberta do BC (direta, por intermédio de leilões, ou disfarçada pela atuação do Banco do Brasil) garantindo a vendas de dólares a um preço determinado, a necessidade de planejamento se torna agora maior.
"Quem precisa pagar uma dívida de US$ 100 milhões, tem de comprar dólares aos poucos. Se entrar com o volume total no mercado em um só dia, provocará uma alta no preço a pagar."



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