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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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SAIA JUSTA

Declarações de Carlos Lessa, novo presidente do banco, em defesa das empresas deixam presidente irritado

Para Lula, BNDES não deve ser "hospital"

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A cúpula do governo não gostou das declarações feitas na última sexta-feira pelo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, em defesa da atuação do banco como "hospital" de empresas endividadas.
Desta vez, de acordo com o que a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a alguns interlocutores, no Planalto, certa irritação com as declarações de Lessa em defesa das "operações de hospital" do BNDES.
O Palácio do Planalto cogita a possibilidade de pedir ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, a quem Lessa se reporta, que repreenda o presidente do BNDES pelas declarações em favor da volta das operações de socorro às empresas endividadas, como ocorreu na década de 80.
Lessa já tinha sido advertido publicamente pelos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Furlan há algumas semanas, por essa mesma razão. Em entrevistas concedidas logo depois de ter assumido o comando do BNDES, Lessa se declarou a favor da atuação do banco como "hospital".
Logo depois dessa primeira declaração, Lessa foi obrigado a engolir advertências públicas tanto de Palocci como de Furlan. Os dois ministros afirmaram que não é intenção do governo socorrer empresas mal administradas. A solução teria que ser encontrada através de operações de mercado, como está tentando se desenhar no caso da operação de fusão das companhias aéreas Varig e TAM.
Na sexta-feira passada, Lessa voltou a defender as operações de "hospital" do BNDES durante encontro promovido pela ABDE (Associação Brasileira das Instituições Financeiras de Desenvolvimento). Resultado: a irritação foi do Palácio do Planalto.
A insistência de Lessa em defender a volta das "operações de hospital" do BNDES desagrada não só à equipe do governo, mas também aos empresários que antes defenderam a indicação dele para o banco.
O empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente e aliado de primeira hora da candidatura do presidente Lula, foi um dos primeiros a se manifestar contrário à tese defendida por Lessa de ajudar as empresas endividadas. Para Staub, que apoiou a indicação de Lessa para o BNDES, a solução para os problemas dessas empresas terá de ser encontrada no próprio mercado.
Na semana passada, Furlan nomeou Staub para fazer parte do conselho de administração do BNDES. Na conversa entre os dois, Staub deixou bastante claro que quer ter uma função importante na definição da estratégia do banco.
Desde que assumiu o BNDES, em janeiro, Lessa tem tomado decisões polêmicas. Uma de suas primeiras medidas foi substituir 23 dos 26 superintendentes do banco.
Na semana passada, Lessa substituiu mais um superintendente, Fernando Marques, que era responsável pela área de crédito, e que está há mais de 20 anos no banco. Ou seja, dos 26 superintendentes da gestão anterior no BNDES, só dois foram mantidos.
Lessa também mudou toda a estrutura interna do BNDES. O plano estratégico adotado na gestão de Francisco Gros, anunciado, há cerca de dois anos, como um passo para a modernização do banco, foi jogado no lixo. Com a chegada de Lessa, o BNDES voltou a adotar o modelo antigo, que vigora há cerca de 30 anos.


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