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SAIA JUSTA
Declarações de Carlos Lessa, novo presidente do banco, em defesa das empresas deixam presidente irritado
Para Lula, BNDES não deve ser "hospital"
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A cúpula do governo não gostou
das declarações feitas na última
sexta-feira pelo presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, em defesa da
atuação do banco como "hospital" de empresas endividadas.
Desta vez, de acordo com o que
a Folha apurou, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva manifestou a
alguns interlocutores, no Planalto, certa irritação com as declarações de Lessa em defesa das "operações de hospital" do BNDES.
O Palácio do Planalto cogita a
possibilidade de pedir ao ministro
do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, a quem Lessa se reporta, que repreenda o presidente
do BNDES pelas declarações em
favor da volta das operações de
socorro às empresas endividadas,
como ocorreu na década de 80.
Lessa já tinha sido advertido publicamente pelos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Furlan há algumas semanas, por essa
mesma razão. Em entrevistas
concedidas logo depois de ter assumido o comando do BNDES,
Lessa se declarou a favor da atuação do banco como "hospital".
Logo depois dessa primeira declaração, Lessa foi obrigado a engolir advertências públicas tanto
de Palocci como de Furlan. Os
dois ministros afirmaram que
não é intenção do governo socorrer empresas mal administradas.
A solução teria que ser encontrada através de operações de mercado, como está tentando se desenhar no caso da operação de fusão das companhias aéreas Varig
e TAM.
Na sexta-feira passada, Lessa
voltou a defender as operações de
"hospital" do BNDES durante encontro promovido pela ABDE
(Associação Brasileira das Instituições Financeiras de Desenvolvimento). Resultado: a irritação
foi do Palácio do Planalto.
A insistência de Lessa em defender a volta das "operações de hospital" do BNDES desagrada não
só à equipe do governo, mas também aos empresários que antes
defenderam a indicação dele para
o banco.
O empresário Eugênio Staub,
presidente da Gradiente e aliado
de primeira hora da candidatura
do presidente Lula, foi um dos
primeiros a se manifestar contrário à tese defendida por Lessa de
ajudar as empresas endividadas.
Para Staub, que apoiou a indicação de Lessa para o BNDES, a solução para os problemas dessas
empresas terá de ser encontrada
no próprio mercado.
Na semana passada, Furlan nomeou Staub para fazer parte do
conselho de administração do
BNDES. Na conversa entre os
dois, Staub deixou bastante claro
que quer ter uma função importante na definição da estratégia do
banco.
Desde que assumiu o BNDES,
em janeiro, Lessa tem tomado decisões polêmicas. Uma de suas
primeiras medidas foi substituir
23 dos 26 superintendentes do
banco.
Na semana passada, Lessa substituiu mais um superintendente,
Fernando Marques, que era responsável pela área de crédito, e
que está há mais de 20 anos no
banco. Ou seja, dos 26 superintendentes da gestão anterior no
BNDES, só dois foram mantidos.
Lessa também mudou toda a estrutura interna do BNDES. O plano estratégico adotado na gestão
de Francisco Gros, anunciado, há
cerca de dois anos, como um passo para a modernização do banco,
foi jogado no lixo. Com a chegada
de Lessa, o BNDES voltou a adotar o modelo antigo, que vigora há
cerca de 30 anos.
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