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Ações da Telebrás sobem 35.000% no governo Lula
Papéis disparam com rumores e declarações não confirmadas sobre reativação da empresa
Valorização se baseia na suposição de que Telebrás dará suporte a plano sobre banda larga; CVM investiga o assunto desde 2008
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Declarações sem confirmação oficial e rumores sobre a
criação de uma estatal para
vender serviços de acesso à
banda larga inflaram em
35.000% as ações da Telebrás
desde 2003, sem que, no período, nada tenha acontecido.
A valorização se baseou na
suposição, até hoje não transformada em realidade, de que a
Telebrás será reativada na implantação do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) -um
projeto do governo para levar o
acesso à internet a 68% dos domicílios brasileiros até 2014.
A Folha apurou que a CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) faz, desde 2008, uma ampla investigação sobre o assunto, por meio de uma equipe que
inclui não só fiscais do órgão
como procuradores.
Em dezembro de 2002, o lote
de mil ações ordinárias da Telebrás valia R$ 0,01. No dia 8 de
fevereiro passado, ela foi negociada a R$ 2,95 (variação nominal de 29.000% ou de 35.000%
-considerando dividendos e
juros sobre o capital próprio,
segundo a Economática).
O investidor que colocasse
R$ 10 mil na empresa no dia 31
de dezembro de 2002 teria R$
3,5 milhões no dia 8 de fevereiro. Já com um investimento de
R$ 100 mil o dono do dinheiro
tiraria R$ 35 milhões.
No clima de euforia em torno
das ações da Telebrás, o valor
de mercado das ações ordinárias da companhia saltou de R$
3,4 milhões (custo do camarote
expresso 2222, no Carnaval de
Salvador) para R$ 2,6 bilhões
(valor equivalente ao empréstimo do BNDES para a formação
da BrT-Oi, maior companhia
privada brasileira).
Twitter
Dois episódios retratam a
forma como os papéis da empresa se valorizaram. No último dia 2, o representante da
Associação Software Livre,
Marcelo Branco, usou o Twitter para divulgar, em tempo
real, um encontro fechado entre o presidente Lula e entidades da sociedade civil interessadas no assunto.
Dizendo-se autorizado pelo
Planalto a usar um telefone no
encontro, Branco relatou, citando palavras do próprio presidente Lula, nunca desmentidas pelo palácio, que a Telebrás
seria, sim, reativada, na esteira
do PNBL.
Credita-se às "tuitadas" de
Branco uma valorização de
33% em apenas dois dias.
Após o episódio, o ministro
Hélio Costa (Comunicações)
negou que já houvesse decisão
sobre a reativação da Telebrás,
apesar de o Planalto não ter
desmentido Branco.
Costa, aliás, protagonizou o
maior impulso das ações da Telebrás, em novembro de 2007.
Ao participar de evento, ele disse que o governo criaria uma
estatal para atender locais onde
não há a prestação de serviços
tradicionais de telefonia.
Simultaneamente, o presidente da Telebrás, Jorge da
Motta e Silva, disse que essa seria uma reparação "tardia" para
a empresa. Resultado: as ações
subiram 572% em dois dias.
Até 1998, a Telebrás era a
holding que agregava todas as
empresas de telecomunicações
do país. Na privatização, seus
ativos foram vendidos e, embora suas ações tivessem continuado a ser negociadas na Bovespa, ela se manteve como espécie de empresa de gaveta.
A rigor, a proposta do governo Lula de criar uma estatal para a banda larga enfrenta forte
reação das companhias telefônicas privadas. Elas dizem que
a iniciativa desestimulará investimentos privados.
A existência do PNBL foi revelada pelo secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna. As
informações divulgadas por ele
entraram em choque com as do
ministro Costa, que, desde o
início, defendia a participação
das teles no programa -algo
que não havia sido considerado
no plano de Santanna.
Após discussões entre os dois
ministérios, muitas travadas
em público, quase sempre inflando o valor das ações da empresa, Lula decidiu delegar o
assunto a Cesar Alvarez, assessor especial do presidente e
coordenador dos programas de
inclusão digital do governo.
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