São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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RECEITA GRADUAL

Indústria elogia decisão do Copom, mas avalia que havia espaço para que o corte dos juros fosse maior

Redução não tira apatia do mercado, diz Fiesp

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de cortar a Selic para 16,25% ao ano foi bem recebida por empresários e economistas, mas a redução foi considerada insuficiente para levar o país de volta ao crescimento.
Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o corte "simbólico" vai no sentido correto, mas "sem a intensidade que permita no curto prazo alterar o estado de apatia do mercado interno", disse o presidente da entidade, Horacio Lafer Piva.
Segundo Piva, "o espaço para a redução dos juros era evidente não só para empresários e trabalhadores. Macroeconomistas renomados e até mesmo ex-dirigentes do Banco Central já percebiam o custo desnecessário que a condução da política monetária estava causando à produção".
Na avaliação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a queda foi "um importante sinal de revisão, pelo BC, de suas expectativas sobre o desempenho da economia brasileira".
Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, disse, no entanto, "que a queda poderia até mesmo ter sido um pouco maior, sem ultrapassar os limites da responsabilidade". Para ele, há razões para a redução: não existem pressões de demanda, pois a economia encontra-se em processo de recuperação apenas moderada; a taxa de câmbio permanece estável há bastante tempo; e o cenário econômico internacional é favorável.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), disse "estar claro que o governo vai ter de partir para outros instrumentos de promoção do crescimento e acelerar os programas de política industrial".
Para Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação dos fabricantes de brinquedos), mesmo com a redução, "meio ano já estará perdido, porque economia não é pizza que se põe no forno e se prepara em dez minutos". Segundo ele, as taxas de juros atuais estão provocando a "destruição gradual das pequenas e médias empresas". José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de infra-estrutura, disse que a redução foi "magra, mas um sinal importante para a economia".
O comércio também recebeu o corte com restrições. Na avaliação de Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (associação dos lojistas de shopping centers), o BC cortou os juros ""para dar uma satisfação à sociedade, diante da pressão dos setores organizados".
A Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) também considerou a decisão "tímida" e disse que havia espaço para uma queda maior. "Se, nos próximos meses, a taxa não continuar caindo, vai ficar cada vez mais difícil acreditar no crescimento de 3% do comércio para este ano", disse Abram Szajman, presidente da entidade.
A Fenacrefi, que reúne as financeiras e as empresas de crédito, destoou do discurso e disse que o BC "agiu corretamente".
Guilherme Nóbrega, economista-chefe do Banco Fibra, elogiou o corte. "O BC sinalizou que percebe agora um cenário muito menos nebuloso de inflação do que via em janeiro e fevereiro. Muda a confiança. É nesse componente que o BC toca de forma positiva."
As maiores críticas vieram das centrais sindicais. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse que a decisão do Copom foi "extremamente tímida e preocupante" e já compromete a expectativa de crescimento para o primeiro semestre.
Para Luiz Marinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), embora o Copom tenha demonstrado "bom senso", a queda foi "tímida". Ele disse que "é preciso que o Copom dê seqüência à política de queda de juros para que o desenvolvimento possa acontecer e, assim, recuperar a economia e o emprego".


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